Hospitais privados na cidade de São Paulo relatam aumento de casos de virose

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PATRÍCIA PASQUINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Hospitais particulares na cidade de São Paulo relataram aumento nos casos de virose após o surto no litoral no início deste mês de janeiro.

A Secretaria de Estado da Saúde confirmou a presença de norovírus em amostras humanas de fezes coletadas na Baixada Santista. As noroviroses representam um grupo de doenças de origem viral, conhecidas como gastroenterites. A transmissão é via fecal-oral. Os sintomas são náusea, vômito, diarreia, dor abdominal e podem ocorrer também dores musculares, cansaço, dor de cabeça e febre baixa.

Nos pronto atendimentos do Hospital Israelita Albert Einstein (Alphaville, Chácara Klabin, Ibirapuera, Morumbi e Perdizes foram considerados na análise), de 1º a 7 de dezembro de 2024, foram atendidos 339 casos de diarreia e gastroenterite de origem infecciosa presumível -condições associadas a quadros de viroses-, uma média de 48 por dia. Se comparado com o mesmo período de janeiro de 2025, a média aumentou 48%. De 1º a 7, foram realizados 500 atendimentos -média de 71 por dia.

Na comparação com os primeiros sete dias de novembro de 2024, quando foram realizados 297 atendimentos -média de 42 por dia- o crescimento em janeiro deste ano foi de 69%.

Por meio da assessoria de imprensa, a Rede D’Or afirmou que houve um aumento de cerca de 15% nos casos de gastroenterite nos últimos 45 dias em seus hospitais na capital paulista -cinco unidades do São Luiz, o Villa-Lobos, Vila Nova Star, Santa Isabel, Aviccena, Central Leste, Serra Mayor (Central Sul – Capão Redondo) e Hospital da Criança. A empresa não forneceu números.

A alta foi de 31% no Hospital Santa Catarina – Paulista entre novembro de 2024 a janeiro de 2025, na comparação com o mesmo intervalo entre 2023 e 2024.

Nos hospitais da Rede Total Care, da Amil, na capital paulista, o aumento dos casos de virose associadas à gastroenterite foi de 221%. Na Baixada Santista, o número de atendimentos cresceu 419%. De acordo com o médico Danilo Duarte, infectologista da Rede Total Care, o crescimento supera as expectativas para esta época do ano, com tendência de piora. De acordo com o médico, janeiro pode registrar mais casos, tanto no litoral quanto na capital, mesmo com a adoção de cuidados preventivos.

No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o número de atendimentos com diagnóstico de diarreia e gastroenterite aumentou 45,58% na comparação entre os períodos de novembro de 2022 a janeiro de 2023 e novembro de 2023 a janeiro de 2024.

O Hospital Sírio-Libanês afirmou que observou um aumento no número de pacientes com norovírus que procuram atendimento. O crescimento também se reflete nas taxas de positividade detectadas pelo laboratório de análises clínicas.

Os dados preliminares do início de janeiro até o momento já indicam volumes equivalentes ao total mensal observado em novembro e em dezembro, segundo a instituição.

A reportagem solicitou as informações à BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e, também, à Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, mas não houve resposta até a publicação da reportagem.
Na opinião do infectologista Eduardo Alexandrino Servolo de Medeiros, coordenador científico da SPI (Sociedade Paulista de Infectologia), os casos relacionados à virose na capital paulista são um reflexo do que ocorreu no litoral.

“Acredito que isso não continue se disseminando, a não ser pontualmente. A principal hipótese é que as pessoas com infecção voltam para casa, junto de seus familiares no domicílio, e isso fica um ciclo de número de casos. Eu acredito que aqui em São Paulo isso não se propague. Eu acho que a gente está tendo o reflexo do que aconteceu no litoral. Provavelmente, as pessoas estão retornando do litoral e procuram assistência médica ainda com sintomas e com o quadro clínico”, afirma o especialista.

Medeiros alerta para o risco dos antidiarreicos de farmácia quando a causa é infecciosa. “Eles relaxam a musculatura lisa do intestino, que fica mais preguiçoso. Por que você tem cólica? Porque o intestino está mexendo com as contrações para eliminar pelas fezes as bactérias, os vírus que estão lá. Se você toma medicação, o intestino fica mais preguiçoso. Se for uma diarreia de causa infecciosa, a bactéria, o vírus, continuam se multiplicando em grande quantidade”, reforça.

“O principal é a reposição líquida, com a qualidade, e aquele clássico soro caseiro, isotônicos e soros de farmácia para via oral. A hidratação é fundamental para que você evite ir ao hospital.

Alguns patógenos têm solução rápida. As infecções pelo norovírus, por exemplo, apresentam melhora de três a cinco dias. Rotavírus já é mais prolongado, e sete a dez dias.

“Algumas pessoas podem persistir com isso, principalmente pacientes imunodeprimidos. Não existe uma medicação específica contra o vírus. É o próprio organismo que elimina o vírus através das defesas, da resposta imunológica. Quem têm uma resposta diminuída, imunodeprimidos, quem vive com infecção pelo HIV, idosos e crianças principalmente até um mês de idade podem persistir com o quadro por mais tempo. Em geral, é mais grave também. E isso inclui idosos e crianças pequenas, principalmente até um mês de idade”, explica Medeiros.

“Para qualquer pessoa que tem uma outra doença, pode descompensar. Você perde líquido, desidrata e pode ter alguma complicação da doença de base. O diabetes é um exemplo”, finaliza o infectologista.

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