Troféu Valkirias de Melhores do Ano: Literatura

O ano de 2024 já nos deu adeus, mas sempre é hora de refletir sobre as leituras que marcaram o ano que passou! Neste Troféu Valkirias de Melhores do Ano: Literatura, destacamos os livros que mais nos impactaram, emocionaram e desafiaram. De narrativas envolventes a insights profundos, nossa seleção celebra a diversidade literária e a riqueza de vozes que dominaram nossas estantes e Kindles no ano que se encerrou. Prepare-se para revisitar os melhores lançamentos que fizeram de 2024 um ano inesquecível para os amantes da leitura, sempre com o selo Valkirias de aprovação.

As Irmãs Blue, Coco Mellors

Por Ana Luíza

Segundo romance de Coco Mellors, As Irmãs Blue acompanha a trajetória das irmãs Avery, Bonnie e Lucky, três mulheres muito distintas que, entre os muitos traumas familiares, dividem, também, o luto pela irmã Nicky, cuja morte inesperada as impacta irreversivelmente. Alternando entre o ponto de vista de cada uma, a obra se concentra na dinâmica das irmãs, bem como em suas particularidades como seres humanos, e conflitos internos, que vão desde o vício em drogas até divórcios, ou mesmo o retorno a uma carreira que parecia enterrada.

Ao retornar para o apartamento onde cresceram (e onde Nicky faleceu), Avery, Bonnie e Lucky são confrontadas pelas próprias frustrações decorrentes tanto da infância quanto da perda da figura que as mantinha unidas — Nicky —, o que eventualmente as faz perceber que seus segredos, por mais profundos que pareçam, não apenas as afastam umas das outras, mas as mantém distantes de si mesmas. Mellors oferece ao leitor uma perspectiva multifacetada, o que faz com que suas 400 páginas sejam mais do que suficientes para gerar uma reflexão sobre relações familiares, as expectativas impostas às mulheres em diferentes momentos e contextos, e sobre quão libertadoras (e, paradoxalmente, limitantes) podem ser as conexões humanas. — Compre!

A Maldição da Casa das Flores, Trang Thanh

Por Ana Luíza 

Ao viajar ao Vietnã para passar cinco semanas ao lado do pai, Jade tem um único objetivo: cumprir sua parte do combinado e conseguir o dinheiro para pagar a faculdade. Não demora, contudo, para que essa tarefa se torne mais difícil do que ela poderia imaginar. Unindo uma tradicional narrativa sobre casas mal assombradas, característica do horror gótico, a um contexto em que herança cultural, ancestralidade e identidade se sobressaem como temas, A Maldição da Casa das Flores desvela uma narrativa em que o sobrenatural deixa de ser um contexto de horror vazio para ser o ponto de partida da descoberta de segredos mais obscuros da linhagem da própria protagonista.

Mais do que palco para eventos sobrenaturais, portanto, a casa simboliza o horror da reclusão, da memória e do confronto com o passado, da repressão e da herança cultural que ali existem, e dos séculos de dinâmicas familiares e sociais (ligadas, particularmente, ao processo de colonização). Jade é forçada a exorcizar esses fantasmas e, com eles, encontrar o seu papel na linhagem familiar. Temas como força feminina, a ruptura com padrões familiares, culturais e de gênero estão na fundação do romance, e constroem uma narrativa que não apenas assombra, mas mergulha em toda a complexidade da existência feminina, homossexual e imigrante. — Compre!

A Serpente e as Asas Feitas de Noite, Carissa Broadbent

Por Thay

Se A Serpente e as Asas Feitas de Noite parece clichê, é porque é! Mas de uma maneira muito positiva, diga-se de passagem. O primeiro livro da duologia Nascidos da Noite, de Carissa Broadbent, tem todos os elementos de uma fantasia de qualidade e resgata a sensação que tive enquanto lia séries como Os Instrumentos Mortais e Peças Infernais, mas com um quê de atualidade. Aqui, acompanhamos a trajetória de Oraya, filha adotiva do Rei dos Vampiros Nascidos da Noite que decide participar de um torneio sangrento. Oraya é a única humana em uma competição repleta de vampiros, mas isso não significa que ela é o ser mais indefeso por ali: a jovem treinou a vida inteira para esse momento, esgueirando-se em um mundo em que sua mera existência a marca como alvo em potencial de predadores mais fortes do que ela.

Nesse contexto, Oraya participa do torneio com um objetivo claro em mente: vencer e, assim, chegar à presença da Deusa Nyaxia e pedir como prêmio o maior desejo de seu coração. Mas, para chegar até esse momento, Oraya precisará derrotar seus adversários, vampiros das três casas do reino, o que não será um desafio simples. Assim, para resistir à brutalidade das batalhas, Oraya será obrigada a se aliar a um rival misterioso. E quando falamos em misterioso, coloque no combo Raihn, um vampiro atroz, inimigo do rei e o oponente mais poderoso de Oraya. Durante essa improvável aliança, Oraya vai descobrir que existem coisas muito mais perigosas na arena do que os demais competidores, e nutrir sentimentos por um adversário poderá deixar seus planos por um fio. Com uma escrita envolvente e divertida, Carissa Broadbent cria um universo apaixonante, cruel e repleto de intrigas. — Compre!  

Babel: ou a necessidade de violência, R.F. Kuang

Por Thay

Se o livro é escrito por R.F. Kuang, sabemos que vem coisa boa por aí. Babel: ou a necessidade de violência é um calhamaço de quase 600 páginas que nos entrega uma trama brilhantemente tecida, um universo em que a linguagem tem magia e as palavras podem ser usadas como instrumento para acessar um grande poder. Aqui, acompanhamos a jornada de Robin Swift, um órfão de Cantão, na China, levado para Londres pelo misterioso professor Lovell. Por anos, Robin se dedica ao estudo de diferentes idiomas, do grego ao latim, para ingressar no Real Instituto de Tradução da Universidade de Oxford, conhecido como Babel.

Babel é o centro do saber e do poder por trás das palavras, mas os segredos escondidos em meio a seus corredores e estantes era algo que Robin não era capaz de imaginar. Ao iniciar seus estudos em Oxford, Robin descobre que traduzir é também sobre aprender a dominar a magia contida nas palavras, manifestando nuances e significados perdidos nas traduções. A narrativa de R.F. Kuang é sombria e encantadora de uma maneira particular, o que faz com que o leitor mergulhe em suas palavras como se vítima da magia dos personagens que passeiam pelas páginas de Babel. Diria, até, que seu livro é uma espécie de ode às palavras, à escrita e à tradução, afinal, há magia maior do que se fazer entender no mundo todo? — Compre!  

Bunny, Mona Awad

Por Ana Luíza

Com uma mescla de sátira, terror psicológico e surrealismo, Bunny explora as dinâmicas diversas entre mulheres que existem dentro do ambiente acadêmico. Samantha, a protagonista, é uma estudante de pós-graduação solitária, que vê sua vida mudar drasticamente após se envolver com um grupo de garotas chamadas “bunnies” — mulheres que parecem dividir uma conexão quase mística e um apreço estético pela perfeição, tanto ao nível da aparência quanto intelectual.

Em uma narrativa tão provocativa quanto surreal (e que, muitas vezes, apela ao onírico na construção diegética), Awad desconstrói o ambiente acadêmico como um espaço de pertencimento, evidenciando, ao invés disso, o seu aspecto exclusivo e idealizado, tão competitivo que busca incessantemente a manipulação e o controle dos pares; um espaço não apenas de ensino, mas de poder e também de status. O romance oferece uma reflexão afiada — e, ao mesmo tempo, perturbadora — sobre o que significa pertencer a determinado grupo e o que acontece quando esse pertencimento passa a exigir a perda de sua própria essência enquanto pessoa, explorando as muitas camadas que existem quando a realidade se distorce e nos deixamos consumir pelo desejo de pertencimento, o medo e as inseguranças da vida acadêmica. — Compre!

Impostora: Yellowface, R.F. Kuang

Por Ana Luíza

Lançado originalmente em 2023, Impostora: Yellowface faz uma reflexão que desafia o leitor a confrontar questões sobre apropriação cultural, identidade, autoria e as tensões éticas e morais do mercado literário. Unindo elementos de suspense e crítica social a uma meticulosa análise sobre a cultura do cancelamento, a jornada de June Hayward — uma escritora branca sem grande reconhecimento que se apropria do manuscrito de sua amiga, Athena, uma escritora asiática em ascensão, que falece de forma repentina — reflete, principalmente, sobre as práticas de exploração da indústria cultural, que, uma vez aliada aos valores capitalistas, esvazia o que nasce como uma forma de resistência, exaltando a origem e memórias de povos minoritários.

Ao mesmo tempo, a narrativa funciona como uma alegoria ao racismo estrutural e às narrativas dominantes na literatura ocidental que, com frequência, obscurecem vozes e a construção de identidade de autores não-brancos. Kuang descreve a transgressão de June de forma intricada, construindo justificativas que se inserem facilmente em outros cenários, sustentando dinâmicas de poder e a perpetuação de estereótipos nocivos. Menos uma vilã unidimensional do que qualquer outra coisa, June é, em suma, o resultado de construções sociais ambíguas e complexas, em uma sociedade globalizada que muitas vezes mascara particularidades de grupos minoritários como dita “universalidade”. — Compre!

Lore Olympus Vol.4, Rachel Smythe

Por Thay

O quarto volume da premiada graphic novel de Rachel Smythe, lançada pelo selo de HQ da Editora Suma, segue os acontecimentos deixados em aberto no volume anterior. Lore Olympus, Vol. 4, segue a história de Perséfone, seu relacionamento com Hades, e todos os sentimentos não ditos entre eles. Desenvolvida com cuidado e delicadeza, essa é uma das melhores graphics novels que já li, e cada volume lançado é uma experiência maravilhosa: para além do talento de Smythe no trabalho com as cores e ilustrações, o roteiro é interessante, mostrando temos espinhosos como assédio e abuso sexual, construindo o relacionamento entre os personagens de maneira brilhante. — Compre!   

Não Somos Como Eles, Christine Pride e Jo Piazza

Por Ana Luíza

Não Somos Como Eles acompanha a relação entre duas amigas de infância — Riley, uma jornalista negra; e Jenna, uma dona de casa branca — cujas vidas são profundamente transformadas após o marido de Jenna, um policial branco, ser acusado pelo assassinato de um jovem negro de 14 anos. Alternando os pontos de vista de Riley e Jenna, o romance oferece uma análise íntima e, ao mesmo tempo, crítica sobre as tensões raciais e os dilemas éticos que envolvem amizades interraciais, sobretudo quando a parcela branca da equação se recusa a visualizar os próprios privilégios e as dinâmicas sociais de opressão.

Nesse contexto, a brutalidade policial serve como ponto de partida para discussões sobre racismo estrutural e privilégio branco, iluminando as muitas — e complexas — nuances dessas questões, ao mesmo tempo em que explora processos de desilusão e reconciliação, revelando o quanto os sistemas de poder e as identidades individuais das personagens se entrelaçam a esse cenário. Não se trata, portanto, de uma história exclusivamente sobre amizade; ao contrário, Não Somos Como Eles desafia o leitor a refletir sobre o seu papel nas relações humanas tanto quanto na responsabilidade na transformação social — uma poderosa análise sobre as dificuldades e os desafios de uma sociedade marcada pela desigualdade e pela violência. — Compre!

Nem te Conto, Emily Henry

Por Amanda Karolyne

Era de se esperar que Funny Story, ou Nem Te Conto, livro da Emily Henry, lançado simultaneamente internacional e nacionalmente este ano, fosse a maior farofa escrita pela autora. O livro nos leva a conhecer Daphne, quando o noivo termina a relação dos dois, para começar um relacionamento com Petra, que por consequência, termina o namoro com Miles. Daphne e Miles se veem em uma situação em que precisam dividir um apartamento, mas os dois são opostos demais e a situação é constrangedora demais, para que eles possam ser simplesmente amigos.

Mas passada a fase inicial, os dois decidem fingir que namoram, para tentar recuperar os respectivos exs. Mas essa história todos nós sabemos onde vai dar. Com muito clichê e romance, Emily Henry nos faz embarcar numa jornada de autodescobrimento através de Daphne, que definia sempre seus gostos através de seus parceiros, com medo de os afastar. A obra é muito divertida e ao mesmo tempo, tem uma carga emocional típica dos livros de Emily. — Compre!  

Old Flames and New Fortunes, Sarah Hogle

Por Amanda Karolyne

Sarah Hogle, autora de Até Que O Inferno Os Separe, lançou neste ano o primeiro livro de sua nova série de romances, que vai acompanhar a vida mística e romântica das irmãs Tempest. Neste primeiro livro, Old Tales and New Fortunes, vamos conhecer Romina Tempest e embarcar na história de segundas chances e falhas de comunicação entre ela e o interesse amoroso, Alex King.

Romina sonha em ser mãe e é interessante ler uma fantasia contemporânea que fala sobre magia e amor, com esse olhar mais maduro de alguém que sonha em ter filhos. O livro é fofo, com aquela típica história de uma cidade pequena com seus contos e lendas, personagens charmosos e engraçados. Perfeito para quem gosta da Bruxinha Sabrina dos anos 1990 e De Magia à Sedução, longa de 1998 protagonizado por Sandra Bullock e Nicole Kidman. Em 2025 será lançado o segundo livro: The Folklore of Forever. — Compre!  

Primeiras Más Impressões, Gabriela Graciosa Guedes

Por Amanda Karolyne

Lançado primeiro em inglês, o livro Primeiras Más Impressões da autora brasileira Gabriela Graciosa Guedes, é uma releitura de Orgulho e Preconceito de Jane Austen, que foi traduzido para português e lançado este ano no Brasil. A obra traz os dilemas do clássico de Austen para os dias de hoje, com uma roupagem mais atual em que a protagonista, Luiza Bento, uma mulher latina e plus size que está correndo contra o tempo para conseguir um patrocínio para poder permanecer nos Estados Unidos para viver seu sonho de ser atriz e para isso, ela precisa passar em um teste para ser a protagonista de uma peça, no parque de diversões de Los Angeles, em que trabalha.

Mas Luiza vai dar de cara com Winter Davis, um ator famoso que não quer se misturar com os aspirantes a artistas do departamento de teatro. Ambos precisam atuar juntos e fingir que estão apaixonados no palco, enquanto se odeiam fora dele. Ou será que se odeiam? Esta história é perfeita para os amantes do clássico da Austen, mas também é bem original, nos trazendo personagens que queremos acompanhar mesmo depois que o livro acaba. Torcendo para que tenham mais histórias até de personagens secundárias, como as irmãs ou a amiga de Luiza. — Compre!  

Quando as Mulheres Eram Dragoas, de Kelly Barnhill

Por Ana Luíza

Vencedor do Prêmio Goodreads de 2022, Quando as Mulheres Eram Dragoas, de Kelly Barnhill, é uma fusão entre realismo mágico e romance histórico, que se destaca ao se aprofundar em temas como identidade, opressão e gênero. Situado nos Estados Unidos, em meados da década de 1950, o romance é narrado a partir da perspectiva de Alex, uma jovem que vemos crescer em uma sociedade onde mulheres são capazes de se transformar em dragões. Barnhill evoca uma figura do dragão que transcende o imaginário masculino, carregando a ideia de um poder primordial, reprimido e, por vezes, mal interpretado — metáfora empregada pela autora de maneira poderosa uma vez associada à transformação das mulheres em meio a um cenário de opressão sistêmica, sublinhando a resistência subversiva e silenciosa que reside na ação feminina, em suas escolhas e sua capacidade de transformar a realidade ao seu redor.

Não se trata, contudo, de uma denúncia simples: trata-se, principalmente, de uma reflexão sobre o poder de transformação ao nível pessoal e coletivo que existe nas mulheres e que é, por vezes, subestimado. A obra sugere que a verdadeira mudança social só ocorre quando mulheres — cis e trans — se libertam das amarras que lhe são impostas, aceitando sua força de maneira completa, plena — e o fantástico é apenas uma forma de materializar seu discurso. Rico em camadas políticas, sociais e filosóficas, Quando as Mulheres Eram Dragoas é um claro exemplo do potencial literário ao abordar as complexas relações entre gênero e poder.  — Compre!

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