Estudante de medicina recusa cargo de secretária de Saúde oferecido pelo noivo prefeito para focar na faculdade


Gestor também nomeou o próprio pai como Secretário Municipal de Assuntos Institucionais na Prefeitura de Moraújo, no interior do Ceará. Noiva do prefeito da cidade de Moraújo desistiu de assumir cargo de secretária de Saúde do município, para focar na faculdade de medicina.
Instagram/ Reprodução
A noiva do prefeito da cidade de Moraújo, Letícia Luna Osterno, de 25 anos, desistiu de assumir o cargo de secretária da Saúde do município do interior do Ceará. Segundo a prefeitura, a decisão foi da própria jovem, que é universitária e pretende focar no curso de medicina.
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“Letícia Luna declinou do convite por causa da carga horária do curso de Medicina, que está em fase de conclusão”, disse a prefeitura de Moraújo.
O prefeito Ruan Lima (PSD), de 32 anos, havia anunciado a noiva como titular da pasta ainda em dezembro, antes mesmo de tomar posse, através de uma publicação na rede social. Na ocasião, Letícia agradeceu ao noivo pela indicação. Depois da desistência dela, a postagem foi apagada.
Com a recusa de Letícia, que não chegou a ser nomeada, o enfermeiro Iramar Moreira assumiu como secretário de Saúde. Inicialmente, ele tinha sido escolhido como subsecretário, mas ficou como titular.
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Nomeação do próprio pai
Além de ter escolhido a própria noiva, Ruan Lima nomeou o pai Alex Lima, como Secretário Municipal de Assuntos Institucionais.
Alex é empresário, formado em Processos Gerenciais. O cargo dele tem como função trazer recursos e projetos para o município.
Ainda conforme a prefeitura, Alex Lima, pai do prefeito, irá exercer o cargo “de forma voluntária”.
Ruan está em seu primeiro mandato como prefeito do município de pouco mais de 8 mil habitantes, que fica a 392 quilômetros de distância de Fortaleza. A escolha de parentes dele para compor o secretariado durante sua gestão chegou a ser questionada por moradores da região.
Em nota, a Prefeitura de Moraújo afirmou que todas as nomeações para o secretariado do município “ocorreram de acordo com a legislação vigente, sem qualquer prática irregular ou abusiva, cumprindo, inclusive, os entendimentos do Supremo Tribunal Federal (STF)”.
“Seus vencimentos serão integralmente doados ao Município com o objetivo de financiar projetos sociais, como a construção de moradias populares”, disse a Prefeitura de Moraújo.
O Ministério Público do Ceará (MPCE) instaurou um procedimento, por meio da Promotoria de Justiça Vinculada de Moraújo, para apurar o caso.
Investigado por compra de votos
O prefeito Ruan Lima também está sendo investigado pelo Ministério Público por suspeita de abuso de poder econômico e compra de votos por até R$ 5 mil, durante as eleições de 2024. A vice-prefeita de Moraújo, uma vereadora, o pai do prefeito e cinco cabos eleitorais também estariam envolvidos no esquema.
“Diversos relatos apontam que o atual prefeito e a vice, na época ainda candidatos, ofereceram pessoalmente dinheiro e empregos a eleitores e seus familiares em troca de apoio político. Os valores oferecidos aos eleitores variavam de R$ 2,5 mil a R$ 5 mil e eram parcelados. Em alguns depoimentos, testemunhas relataram que foram perseguidas e pressionadas a devolver a quantia quando retiraram o apoio aos candidatos”, disse o Ministério Público.
O MP instaurou dois procedimentos para apurar os fatos: um Procedimento Investigatório Criminal e um Procedimento Preparatório na esfera cível-eleitoral.
“Com autorização judicial, foram realizadas buscas e apreensões nas residências dos investigados, resultando na coleta de diversos aparelhos telefônicos, documentos e outros itens. Parte dos aparelhos já teve os dados analisados, revelando evidências de abuso de poder econômico e compra de votos. Depoimentos e provas indicam um esquema organizado de captação ilícita de sufrágio, com o objetivo de influenciar indevidamente o resultado das eleições”, afirmou o órgão ministerial.
A Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije), ingressada pela Promotoria da 64ª Zona Eleitoral, pediu à Justiça Eleitoral a decretação de inelegibilidade e cassação dos diplomas do prefeito, da vice-prefeita e de uma vereadora de Moraújo, além da citação deles e dos outros investigados devido ao benefício ilícito obtido com a prática de abuso de poder econômico.
Também foi solicitada a aplicação de multa aos três políticos, variando de R$ 1.064,10 a R$ 53.205.
Em nota, o prefeito de Moraújo Ruan Lima disse que ainda não foi formalmente notificado sobre qualquer pedido de cassação pelo Ministério Público Eleitoral (MPE).
“Reafirmo minha total disposição em colaborar com as autoridades e fornecer todas as informações necessárias para o completo esclarecimento dos fatos. Conduzi minha campanha de forma limpa, ética e transparente, movida pela energia do povo de Moraújo, que clamava por mudanças e por uma gestão comprometida com o desenvolvimento da nossa cidade. Confio que a verdade prevalecerá ao longo do processo e sigo firme no propósito de trabalhar com responsabilidade e respeito, sempre em prol do bem-estar da população”, disse Ruan Lima.
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