Lula cobra ministros, pede mais povo e empodera Sidônio após dizer que 2026 já começou

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CATIA SEABRA, MARIANNA HOLANDA, RENATO MACHADO E VICTORIA AZEVEDO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

O presidente Lula (PT) cobrou auxiliares durante reunião ministerial nesta segunda-feira (20) que teve como destaque apresentação do novo ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência), Sidônio Palmeira, sobre uma proposta de comunicação do governo.

O presidente afirmou durante o encontro que a campanha eleitoral de 2026 já começou e que ele e sua equipe precisam trabalhar para eleger um novo governo e assim não entregar o país “de volta ao neonazismo”, em referência à gestão do seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).

Segundo participantes da reunião, o mandatário afirmou que ainda não sabe se será candidato no próximo pleito presidencial e citou a necessidade de “eleger um sucessor”.

O encontro também foi usado para cobrar os seus ministros, para que evitem medidas que tragam desgastes ao governo federal -sem citar a polêmica do Pix- e que trabalhem para aumentar as entregas. Teria dito que 2025 é o “ano da verdade”.

Em sua primeira aparição em reunião ministerial, Sidônio Palmeira defendeu que o presidente esteja mais em primeiro plano na política de comunicação da gestão. Nesse aspecto, Lula teria se queixado do excesso de eventos no Palácio do Planalto e disse querer participar mais de cerimônias com o povo.

Lula realizou a primeira reunião ministerial de 2025, na residência oficial da Granja do Torto. O encontro, que durou mais de sete horas, acontece em meio ao desgaste do governo com a crise do Pix e à expectativa de uma nova reforma ministerial.

Em sua fala inicial, transmitida ao vivo, o presidente citou o cenário eleitoral de 2026, jogando para a oposição a responsabilidade por ter antecipado o processo.

“Dois mil e vinte e seis já começou. Se não por nós, porque temos que trabalhar, capinar, temos que tirar todos os carrapichos, mas pelos adversários, a eleição do ano que vem já começou. Só ver o que vocês assistem na internet para ver que já estão em campanha. A antecipação de campanha para nós é trabalhar, trabalhar, trabalhar e entregar o que o povo precisa”, disse.

Também afirmou: “A entrega que fizemos para o povo ainda não foi a que nos comprometemos em 2022, porque muitas das coisas que plantamos ainda não brotou. (…) Nem tudo que foi anunciado já deu frutos, é preciso que a gente saiba que 2025 é o ano da grande colheita de tudo o que a gente prometeu ao povo brasileiro. E não podemos falhar. Não podemos errar”.

Quando a reunião já não era mais transmitida, o presidente teria falado sobre as eleições presidenciais e então repetido em alguns momentos a possibilidade de eleger um sucessor. Teria admitido que pode não ser candidato, por motivos alheios a sua vontade, lembrando incidentes sofridos no ano passado, como uma pane no avião presidencial e a queda no banheiro.

Ao afirmar que só Deus sabe se será candidato, Lula se dirigiu à ministra Marina Silva (Meio Ambiente).

“Não é, Marina?”, perguntou. Essa brincadeira se refere a 2008, quando a ministra teria dito ao presidente que consultou Deus sobre antes de deixar o ministério.

Houve também dúvidas entre os presentes se Lula fazia um paralelo com ele próprio ao citar o caso do agora ex-presidente americano Joe Biden, que demorou para desistir da reeleição em 2024.

Segundo relatos, o presidente teria dito que o resultado das eleições americanas poderia ter sido outro caso Biden tivesse desistido antes da candidatura, a tempo de lançamento de outro nome que não a vice, Kamala Harris, à sua sucessão.

Lula também cobrou seus ministros, por mais entregas e deu bronca, com o intuito para evitar medidas que possam provocar desgastes ao seu governo. Então pediu uma centralização nas medidas e atos do governo no Palácio do Planalto, para evitar ruídos.

O presidente não citou casos específicos, mas ficou evidente para os presentes que ele se referia ao episódio da instrução normativa da Receita Federal que ampliava a fiscalização sobre transações de pessoas físicas via Pix que somarem ao menos R$ 5.000 por mês. O governo recuou da medida na semana passada.

“Daqui para frente, nenhum ministro vai poder fazer uma portaria que depois crie confusão para nós sem que passe pela Presidência através da Casa Civil. Muitas vezes a gente pensa que não é nada, faz uma portaria qualquer e depois arrebenta e cai na Presidência da República”, afirmou.

Segundo interlocutores, o presidente também cobrou duramente Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Carlos Fávaro (Agricultura) por não apresentarem um planejamento para baratear o preço dos alimentos.

Lula também afirmou que pretende participar de eventos mais junto à população, em detrimento das cerimônias fechadas no Palácio do Planalto. Teria dito querer “mais povo” e “mais rua”.

A posição acontece no momento de troca na Secom, com a saída de Paulo Pimenta e a chegada de Sidônio, empossado na semana passada. A fala do novo ministro foi destinada a apresentar uma nova proposta de comunicação do governo. Ele apontou que existe uma falha no conjunto formado por política, gestão e comunicação, que estariam rodando em rotações diferentes.

Sidônio disse que pretende alçar ainda mais ao primeiro plano a figura do presidente, com mais entrevistas e aparições públicas. O novo ministro também pediu que os demais integrantes do governo evitem declarações off-the-record, jargão jornalístico que significa que não será identificado na reportagem.

O novo ministro também falou em criar uma central de monitoramento e resposta rápida de crise, no Palácio do Planalto, sem mencionar a crise do Pix.

Interlocutores apontaram que Lula não tratou especificamente da reforma ministerial, que é aguardada para as próximas semanas.

De acordo com relatos de dois participantes, o presidente voltou a citar os partidos que integram seu governo e disse que sabe como cada um tem votado em matérias no Congresso. Ele afirmou ainda que quer se reunir com líderes partidários e ministros das siglas que compõem a Esplanada numa espécie de “alinhamento”.

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