Sem cumprir cota de ônibus elétricos, Nunes defende que veículos antigos circulem por mais tempo

ricardo nunes

DEMÉTRIO VECCHIOLI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou nesta quinta-feira (23) que a prefeitura de São Paulo projeta colocar em circulação 600 novos ônibus elétricos em 2025, quase triplicando a atual frota, de 328 veículos em operação. Mas o número passa longe dos 3.400 ônibus veículos que deveriam ser substituídos até o fim do ano, por atingirem a idade máxima permitida em lei municipal, de dez anos de uso.

Ao apresentar uma frota de 100 novos veículos elétricos, no Anhembi, nesta manhã, Nunes defendeu medida tomada por sua gestão no fim de 2024: permitindo a operação na cidade, neste ano, de veículos de ano/modelo 2012, 2013 e 2014. De até 13 anos, portanto.

“A gente entendeu que é melhor para a equação financeira e principalmente para o meio ambiente, para os motoristas, para os passageiros, que a gente pudesse ter o ônibus até com 11, 12 anos, porque não é algo fora do padrão, a média do Brasil é 15 anos, ficar um pouco mais de tempo, mas que ele substituísse esse ônibus com o ônibus elétrico. É melhor ter um ônibus com um ou dois anos a mais sendo utilizado, mas na sua substituição, vir com um ônibus elétrico com uma maior qualidade”, disse o prefeito.

Na semana passada, Nunes vetou a possibilidade de as empresas de ônibus renovarem suas frotas com até metade dos veículos movidos a combustível fóssil. A alternativa fazia parte de uma lei do ex-vereador Milton Leite (União), aprovada pela Câmara Municipal no último dia 18 de dezembro e sancionada, com o veto, na última quinta-feira.

Desde outubro de 2022 está em vigor medida da SPTrans (estatal que administra o transporte público municipal na cidade) determinando que não sejam mais adquiridos veículos movidos a combustão para renovação da frota.

Isso não vem sendo cumprido pelas empresas de ônibus e pela prefeitura, que aponta dois gargalos: a baixa oferta de veículos por parte das montadoras e a falta de infraestrutura para a recarga, o que vem gerando embate entre a administração municipal e a Enel, concessionária de energia.

“A gente chegou em momento que tinha o recurso, mas não tinha ônibus produzido e não tinha condições de abastecimento porque ainda não tinha infraestrutura. A Enel chegou a ter a capacidade de nos cobrar R$ 1,6 bilhão de reais para fazer infraestrutura. Então a gente está discutindo esse assunto com a Enel, trazendo outras alternativas de colocação de abastecimento nos terminais”, disse Nunes.

Ilan Cuperstein, da Iniciativa Zebra, composta da C40 Cities e do ICCT (Conselho Internacional de Transporte Limpo), e que estimula a eletrificação dos ônibus em grandes cidades do mundo, reconhece dificuldades relativas a prazos de entrega, homologações e adaptações necessárias para a operação dos veículos no contexto urbano.

Ele diz que as mudanças na rede elétrica são um desafio para a cidade: “Uma alternativa em avaliação por diversas cidades no Brasil e já realizada em Salvador, por exemplo, é a implementação de eletroterminais em locais estratégicos para facilitar a recarga das frotas, além de buscar distribuir a demanda energética em outros pontos da cidade.”

A prefeitura tem buscado empréstimos para substituir a frota a diesel pela elétrica, o que gera economia a longo prazo. De acordo com Nunes, o ônibus elétrico custa, em média R$ 2,2 milhões, ante R$ 700 mil do carro a diesel. Mas a economia em combustível é de R$ 20 mil por mês, R$ 2,4 milhões em dez anos, por veículo.

Em 2023, BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e Banco Mundial emprestou US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões à época) para subsidiar a compra de 2.600 ônibus elétricos, e no fim de 2024 Nunes assinou empréstimo de R$ 2,5 bilhões junto ao BNDES.

Nunes diz que a prefeitura, porém, não encontra veículos para comprar. “Tudo aquilo que tiver de capacidade da indústria e de infraestrutura a gente tem recurso para adquirir. Então a nossa meta é adquirir tudo aquilo que for colocado à disposição no mercado com relação à fabricação e com relação à capacidade.”

Os ônibus apresentados nesta quinta-feira custaram R$ 213 milhões à prefeitura, que subsidiou a compra.

Com a incorporação deles, a frota de veículos elétricos da cidade chega a 428 unidades, além de 201 trólebus.

A zona oeste será a mais beneficiada com os novos carros, recebendo 47 novos veículos operados pela Transcap. A Zona Leste também 40 ônibus operados pela Express. A Zona Norte terá 12 novos ônibus operados pela NorteBuss e a Zona Sul receberá um veículo operado pelo Consórcio KBPX. Todos os ônibus possuem ar-condicionado, conexão de internet por Wi-Fi e área para carregar celular por USB.

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