Juros soberanos voltam a subir pelo mundo com falas de Trump

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JÚLIA MOURA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O alívio de investidores com uma posse sem sobressaltos de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos está se dissipando. Após um recuo nos juros dos títulos do tesouro de diversos países, as taxas voltaram a subir na quarta (22) e aceleraram ganhos nesta quinta-feira (23).

O juro do título do Tesouro dos EUA (treasury) de dez anos, o mais negociado do mundo, foi ao pico de 4,79% ao ano no último dia 13, mas perdeu força conforme a posse do dia 20 se aproximava. Após Trump oficialmente voltar a presidência, o juro desta treasury estava a 4,57%, mas fechou a 4,65% nesta sessão.

Títulos de outros países tiveram movimento semelhante. A nota de dez anos do Reino Unido foi a 4,885% antes da posse, recuou para 4,588% no dia da posse e subiu para 4,6355%.

O título semelhante da Alemanha foi a 2,6225%, caiu para 2,4770% e subiu para 2,5130%. O do Japão subiu para 1,250%, caiu para 1,188% e voltou a 1,205%.

No início do mês, investidores temiam que Trump pudesse anunciar o aumento de tarifas a importações logo que assumisse, com 10% a 20% a todos os bens importados e adicional de até 100% aos produtos chineses e dos Brics (bloco comercial integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e outros) e de 25% aos vindos de Canadá e México. Outras dúvidas pairavam sobre os conflitos em Gaza e na Ucrânia, que Trump promete encerrar. Com o cessar-fogo entre Israel e Hamas, parte desta incerteza também se dissipou.

No entanto, em suas falas públicas, o presidente voltou a reforçar que irá taxar importações e, nesta quinta, em seu discurso em Davos, disse que exigirá uma redução imediata da taxa de juros dos EUA e que outros países deveriam seguir o exemplo.

“Com a queda dos preços do petróleo, exigirei que a taxa de juros caia imediatamente e, da mesma forma, elas deveriam cair no mundo todo”, disse Trump em seu discurso no Fórum Econômico Mundial, em Davos. Mais tarde, o republicano afirmou que espera que a instituição o escute.

Tanto o aumento dos impostos para importações quanto a queda de juros no curto prazo podem ser inflacionários, dizem economistas. Nos EUA, o custo de vida aumentaria e, com juros menores, a inflação poderia sair do controle, o que exigiria juros maiores no país para domar a alta de preços.

“Esse discurso é ruim. Não há espaço para cortar juros, a inflação dos EUA não está controlada. O mercado de trabalho está muito aquecido e o fortalecimento que Trump quer fazer da economia com barreiras tarifarias deve manter o dólar forte. O momento exige cautela e um Fed técnico”, diz Gustavo Bertotti, diretor de renda variável da Fami Capital.

Fed (Federal Reserve) é o banco central dos EUA. Na próxima semana, seus dirigentes se reúnem para definir a política monetária. A expectativa do mercado é de que haja uma manutenção da taxa de referência, hoje entre 4,25% e 4,5% ao ano.

“O Fed é uma instituição independente. Isso cria diversas incertezas no mercado financeiro e afeta a credibilidade da política monetária americana, porque tem o potencial de que as decisões não sejam baseadas puramente em fundamentos econômicos”, diz Eduardo Gribler, gestor de multimercados da AMW Asset.

Por outro lado, o mercado de ações segue em alta nos EUA. Nesta quinta, o S&P 500, principal índice acionário do mundo, subiu 0,5% e renovou seu recorde aos 6.119 pontos com a expectativa positiva de analistas com a temporada de balanços referentes ao quarto trimestre de 2024, que se inicia nos próximos dias.

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