Bloco de figurantes reúne 6 e mantém sombra de Severino e Bolsonaro em disputa no Congresso

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THAÍSA OLIVEIRA E RANIER BRAGON
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Mesmo com as vitórias de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB) às presidências de Senado e Câmara dos Deputados dadas como certas, ao menos quatro senadores e dois deputados federais prometem concorrer aos cargos neste sábado (1º).

Em busca dos holofotes que a disputa proporciona, esse grupo de figurantes integra uma tradição que já dura duas décadas e que inclui nomes como Severino Cavalcanti (PP-PE), o único a surpreender e romper a escrita, e Jair Bolsonaro (PL), que chegou a ter zero voto em uma das quatro vezes que concorreu.

As votações no sábado para a sucessão do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e do deputado Arthur Lira (PP-AL) são secretas.

Alcolumbre tenta voltar à presidência do Senado com o maior placar da história. Para isso, precisa ultrapassar os 76 votos recebidos por Mauro Benevides, em 1991, e José Sarney (MDB), em 2003 -cenário considerado difícil com outros quatro nomes no páreo.

Além da candidatura ruidosa do senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), a eleição para presidente do Senado pode ter ainda a participação de Soraya Thronicke (Podemos-MS), Marcos do Val (Podemos-ES) e Eduardo Girão (Novo-CE).

Alcolumbre já comandou o Senado de 2019 a 2021 e conta com o apoio de 10 dos 12 partidos com representação no Senado: PSD, PL, MDB, PT, União Brasil, PP, PSB, Republicanos, PDT e PSDB.

O Podemos viu a bancada rachar diante das duas candidaturas próprias. Soraya anunciou que disputaria o cargo em março do ano passado em um evento ao lado da presidente do partido, a deputada federal Renata Abreu (SP), com o argumento de que nunca houve uma mulher na presidência do Senado. Quase um ano depois, a senadora afirma que sua candidatura está mantida.

Com as redes sociais bloqueadas por ordem do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, o senador Marcos do Val também diz que vai concorrer.

“Sigo como candidato, mesmo sob censura. Minha principal bandeira é frear os abusos do STF e pautar todos os pedidos de impeachment dos ministros, principalmente do ministro Alexandre de Moraes”, afirma Do Val.

Único senador do partido Novo, Eduardo Girão diz não se sentir representado por Alcolumbre. O senador afirma estar trabalhando para que a sociedade pressione os senadores a abrirem o voto.

“Eu sei que o jogo é muito bruto e que Alcolumbre hoje ainda tem a maioria, precisa de 41 votos. Se tivermos esse movimento do voto aberto, vai ficar difícil para o Alcolumbre porque 2/3 do Senado vão buscar a reeleição em 2026. Quem vai se indispor com os eleitores?”, diz.

Na eleição de 2023, Girão afirmou que disputaria a presidência da Casa contra Pacheco, mas renunciou após discursar como candidato, anunciando apoio ao bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN). Neste ano, diz que vai até o fim.

Já o PL tenta isolar Marcos Pontes e deixar claro que o senador concorre de forma avulsa. Com o apoio declarado a Alcolumbre, o partido ganhou a vice-presidência do Senado e duas comissões.

“Acho que tenho chances”, diz Pontes, que cita entre outros motivos, o olhar diferenciado de quem já subiu ao espaço.

Na Câmara, os deputados federais Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) e Marcel van Hattem (Novo-RS) devem marcar posição contra Hugo Motta, candidato de Lira e que também conta com apoio de um leque de partidos, do PT de Lula ao PL de Bolsonaro.

“O que me move é um sentimento de urgência, de alerta. Estamos vendo no mundo o crescimento da extrema direita, com uma política de ódio violenta, preconceituosa e autoritária, resgatando dispositivos fascistas e até mesmo nazistas”, diz Henrique Vieira, o único nome da esquerda na disputa.

Ele afirma ainda querer rever “o sequestro Orçamento do Poder Executivo” por meio das emendas parlamentares e impulsionar uma agenda com foco no fim da jornada 6 x 1, na ampliação da isenção do imposto de renda até R$ 5.000 e na taxação das grandes fortunas.

Van Hattem disse que sua candidatura serve para dar uma alternativa à oposição e tentar forçar um segundo turno. “A repercussão, principalmente fora do ambiente da Câmara, nas redes sociais, tem sido espetacular, o que me dá uma grande esperança de obter também o apoio de muitos deputados da oposição.”

Até 1995 não havia registro de candidaturas lançadas para marcar posição, sem chance de vitória. Naquele ano, José Genoino (PT-SP) inaugurou o filão ao disputar contra o favorito Luis Eduardo Magalhães (PFL-BA) e perder por 384 votos a 85.

Em 2005, no primeiro mandato de Lula, a Câmara abrigou a eleição mais surpreendente da história.

O PT rachou, e o candidato oficial, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), foi desafiado por Virgílio Guimarães (PT-MG). Abertas as urnas, Greenhalgh ficou em primeiro, com 207 votos, número que forçou um segundo turno. Por 7 votos de diferença, Virgílio ficou de fora ao ser superado pelo folclórico Severino Cavalcanti -124 a 117 votos.

No segundo turno, uma traição em massa contra o governo acabou elegendo o chamado “rei do baixo clero”, que ficou no cargo só sete meses -ele renunciou em meio ao “escândalo do mensalinho”.

Os “figurantes” que mais disputaram a presidência de uma das duas Casas foram Chico Alencar (PSOL-RJ) e Bolsonaro, quatro vezes cada um.

Bolsonaro nunca teve mais do que 9 votos dos colegas. Em 2005 não teve nem o dele.

Na época, aproveitou o momento apenas para criticar o PT em seu discurso e indicar que ele mesmo votaria em outro candidato, Ciro Nogueira (PP-PI) –que ficou em terceiro. A eleição foi vencida por Aldo Rebelo (PC do B-SP), aliado de Lula na ocasião.

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