O que realmente torna a paz impossível?

Cynthia Pastor (Editora do Jornal Opção Entorno)

Quando Michael Brenner, professor de História e Cultura judaicas da Universidade de Munique e Doutor em História Judaica pela Columbia University, afirma que os “historiadores são produtos de sua época” e que é impossível de fato contar a história tal como ela é, ele está coberto de razão.

De fato, muitas narrativas têm intensa ligação com posturas e convicções políticas que afastam a isenção e a hermenêutica filosófica e jurídica da “história”. Assim ocorre com a trajetória do povo judeu, contada em diferentes versões desde o século XVII, desde o pós-bíblico, desde os autores cristãos, até os historiadores modernos e sionistas, com diferentes interpretações, sendo muitas delas totalmente errôneas.

Este grupo étnico/religioso, originado de seu patriarca Abraão, vivenciou historicamente o Êxodo do Egito e a formação dos reinos de Israel e Judá. Mais tarde, foi dominado pelos assírios, resultando na dispersão de muitos israelitas nas Dez Tribos Perdidas.

O Reino de Judá foi posteriormente dominado pelos babilônios. Na história judaica, destaca-se, ainda, o terrível Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial, que estabeleceu uma pressão maior pela criação do Estado judeu, inicialmente planejado para dividir o território, então britânico, entre judeus e palestinos.

O retorno dos judeus à Terra de Israel é simbolizado pela reconstrução do Templo de Jerusalém e pela restauração da comunidade em sua terra natal histórica. No entanto, foi apenas no século XIX, com o surgimento do movimento sionista, que essa volta começou a redesenhar a identidade do povo judeu, após séculos de Diáspora.

Vale destacar que, na diáspora, os judeus se dispersaram por diversos países e, ao longo de centenas de anos, vagaram pelo mundo como uma nação sem Estado. Nessa toada, a recusa do mundo árabe em reconhecer Israel é muito antiga, e a criação do Estado de Israel propriamente dita, só ocorreu em 1948, no pós-guerra. Nesse período, árabes palestinos e judeus já se enfrentavam em conflitos armados. Antes disso, a região tinha uma maioria árabe e uma minoria judaica, que compartilhava laços históricos.

Os dois grupos seguem em guerra político e religiosa que perdura há mais de 70 anos, com significativas baixas de ambos os lados. No histórico de lutas armadas constam: a Guerra dos Seis Dias (1967) onde Israel ocupou a Faixa de Gaza e a Península do Sinai, e conflitos subsequentes, como o do Yom Kippur (1973), onde árabes tentaram recuperar os territórios ocupados em 1967.

Em 1987, ocorre outro levante palestino contra a ocupação israelense, que também resulta em centenas de mortos. Já em 1993, o Hamas não valida a assinatura dos Acordos de Paz de Oslo entre a OLP e Israel. E, em 2007, Gaza passa a ser governada de fato pelo Hamas, grupo extremista islâmico que jamais reconheceu os acordos de paz entre Israel e outros grupos palestinos.

Em 2023, os ataques terroristas do grupo extremista em 7 de outubro ocasionaram outro número imenso de mortes e mais uma guerra. Contudo, o “cessar-fogo” foi alcançado agora, no dia 19 de janeiro de 2025, após seis meses de negociações e mais de 48 mil vítimas. Durante esse período, os fabricantes de armas norte-americanos intensificaram o fornecimento às forças israelenses, tendo ações em alta nas bolsas de valores mundiais e contratos significativos assinados sobre os corpos de palestinos e israelenses.

Segundo o jornalista Plínio Teodoro, da revista Forum, as empresas de defesa RTX (Raytheon Technologies), Northrop Grumman, Boeing, Lockheed Martin e General Dynamics buscam continuar lucrando com a indústria militar atuando firme em conflitos ao redor do mundo.

A situação, de acordo com o texto de Plínio, não se resume a judeus e árabes, pois também há lucros na guerra na Ucrânia, com ações que subiram 12,78% logo no início do conflito entre Putin e Zelensky. Apenas a Boeing, segundo ele, que fabrica os caças F-15, vendeu US$ 2,4 bilhões para Israel e US$ 9 bilhões em bombas GBU-39 e GBU-31, utilizadas em ataques em Gaza. Portanto, não é sobre a “história” que estamos falando e nem nunca será!

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