Turismo interno tem alta na Bahia; motivo chama atenção

Na busca por reforçar o sentido de pertencimento e baianidade, o historiador Murilo Mello é cada vez mais procurado para passeios em que conte a história de Salvador. Essa busca de baianos por conhecer mais sobre sua identidade, história e estado gerou crescimento do turismo interno, conforme a Associação Brasileira de Agências de Viagens da Bahia (ABAV). Tanto a capital quanto o interior do estado são cada vez mais procurados pelos próprios baianos, por conta do valor mais acessível para viagem devido a proximidade dos destinos ou até mesmo a vontade de conhecer novos lugares – ou novos olhares – de sua cidade, além da diversidade de opções turísticas no estado.O turismo na Bahia, no geral, está em franco crescimento. A estimativa é de que nove milhões de turistas irão passar pelo estado neste verão, conforme informações da Secretaria de Turismo do Estado da Bahia (Setur). Um aumento de 2,5 milhões de visitantes em comparação com 2023/24. Essa alta procura turística afetou também os baianos, segundo Jean Paul Gonze, presidente da ABAV.“As pessoas estão descobrindo que é legal fazer turismo aqui, que é legal conhecer o local, o estado onde eles nasceram. É difícil mensurar esse número, porque as pessoas estão viajando cada vez mais sem as agências, mas dá pra ver que está crescendo até pelo aumento de ofertas de voos para dentro do estado”, comenta.Baianos que nasceram e viveram em Salvador, outros que foram morar fora, voltaram e querem apresentar a cidade a seus filhos, são públicos que procuram o historiador Murilo de Mello para que faça tours sobre a história da cidade. Murilo ainda não deu início aos passeios, mas percebe cada vez mais pulsante uma vontade na população a partir dos 35 por conhecer sua cidade e reforçar o sentimento de pertencimento, de baianidade.“Eles vivem na cidade, percorrem a cidade, trabalham na Rua Chile ou no Pelourinho, mas não conhecem com detalhes a história, os edifícios, os prédios. A gente vive na nossa cidade e desconhece muito a história de maneira mais profunda, sua memória, seus pontos, seus personagens”, afirma. O professor de português Danilo Santiago, 36, é um dos que conhece esse sentimento. “A gente viaja pra fora, conhece a história dos lugares, mas sobre a nossa própria cidade sei o básico, o superficial”, conta.Entre uma rua e outra com nomes inusitados acontece a vida cotidiana em Salvador, mas também cenas de histórias de Jorge Amado. É a curiosidade sobre alcunhas como “Água de Meninos” ou “Sete Portas”, ou sobre as histórias dos prédios que compõem a arquitetura da capital, que gerou interesse da professora de português Mônica Mello, 45, em turistar pela cidade em que vive desde pequena.“Identifico no momento presente histórias que eu ouvi de minha avó sobre a cidade e me pego curiosa com o que aconteceu antes daquilo ali. Conhecer mais de Salvador é praticamente conhecer a nossa identidade, porque sem o passado o indivíduo não constrói a identidade dele”, comenta. Na missão de conhecer mais da cidade, a também professora soteropolitana, Tânia Cardoso, 59, tem visitado os museus da capital baiana e se surpreendido com as histórias ali contadas.Turismo internoO valor mais acessível para viagem devido a proximidade dos destinos e a variedade turística da Bahia são alguns dos atrativos que tem feito o turismo interno crescer, segundo o guia Wagner Greenhalgh. Focado em guiar idosos, Wagner direciona suas expedições para locais menos conhecidos de Salvador, como a Casa de Vinicius de Moraes (Casa Di Vina), e outros cantos do estado.“Por conta dos preços das passagens aéreas estarem muito altos, (…) tem aumentado muito a questão dos idosos daqui quererem conhecer a Bahia e Salvador. São pessoas que moram aqui e eu estimulo a eles a conhecerem lugares diferentes como nosso Recôncavo, por exemplo, não conhecem o Vale do Jiquiriçá, não conhecem essa região do Rio Paraguaçu, então são lugares que despertam desejo e tem muita a ofertar”, indica o guia.A aposentada Edna Ramos, 88, celebra essa fase da vida com suas andanças pelo estado. “Já estou com idade avançada, então não posso mais viajar para muito longe, então tenho preferido ficar mais por aqui. E tem tanta coisa bonita aqui na Bahia pra gente ver ”, conta. Já dona Ludete da Silva, 86, também aposentada, em seus passeios recentes descobriu a Cidade da Música e já planeja outras explorações. “Tem muita coisa que não conhecia, (…) e já estou aguardando para conhecer outras novidades”, diz.A busca pelo turismo étnico na Bahia pelos próprios baianos também cresce, segundo Edson Costa, coordenador da Rede Emunde – de empreendedorismo e turismo étnico-afro. A procura vai desde a Rota Afro Congo Bahia em Cajazeiras até Nazaré das Farinhas e Camaçari, entre os destinos buscados. “As pessoas têm buscado mais por autoconhecimento, de sua etnia, sua identidade, sobre seu próprio lugar e isso gera uma maior procura por esse turismo”, afirma Edson.
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