“Músicas são obras políticas”, diz Daniela Mercury sobre caso Claudia Leitte

A recente polêmica envolvendo Claudia Leitte, que alterou a letra da canção ‘Cata Caranguejo’, substituindo “Iemanjá” por “Yeshuá”, segue repercutindo e até sendo investigada pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) sob a acusação de intolerância religiosa. Diante do debate, Daniela Mercury se manifestou ao Portal A TARDE sobre a situação, abordando a intolerância religiosa e a histórica competição imposta entre mulheres na música.

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Para Daniela, as polêmicas não minimizam as homenagens aos 40 anos da Axé Music, mas também alimentam um ambiente de fofocas e linchamentos virtuais. “Acho muito ruim os fã-clubes uns contra os outros. Eu odeio isso. Acho muito ruim os linchamentos na internet. A gente tem que ter muito cuidado”, afirmou a cantora.Ela também criticou o fato de que, muitas vezes, as discussões na mídia acabam recaindo sobre mulheres, enquanto homens raramente são alvo de polêmicas semelhantes. “Os homens só viram polêmica quando cometem violência contra uma mulher, e mesmo assim, por pouco tempo”, pontuou.Sem citar Claudia Leitte, Daniela Mercury também destacou a importância do respeito às religiões de matriz africana, que historicamente sofrem preconceito e perseguição no Brasil. “Tudo que se fala contra as religiões de matriz africana não é uma discussão religiosa, é uma discussão histórica de racismo. Precisamos entender isso”, declarou.Segundo ela, a alteração da letra de uma canção pode estar inserida nesse contexto de intolerância e discriminação, reforçando a ideia de “marginalização de religiões afro-brasileiras”.

É preciso, sim, discutir esse assunto, sim, porque a gente está falando de uma história de opressão no Brasil, de discriminação, de preconceito, de racismo estrutural gravíssimo, que tem atrapalhado a vida de muita gente e a gente sabe de quanto as religiões de matriz africana são massacradas e são consideradas negativas

Daniela Mercury

Sobre a mudança na canção, a artista defendeu que obras musicais fazem parte da história e que alterá-las pode comprometer seu significado original. “As músicas também são obras políticas. Nós somos seres políticos e estamos querendo dizer alguma coisa. Mudar uma música é como modificar uma obra de arte, como um quadro de Picasso, e dizer que não quer mais o nariz torto das mulheres dele”, exemplificou.Daniela Mercury reforçou a necessidade de respeitar a diversidade religiosa e compreender o impacto das decisões artísticas dentro do contexto social brasileiro. “A gente vive num mundo de diversidade religiosa. A religião impacta na cultura. Precisamos conviver e ter cuidado com quem já sofreu opressão a vida inteira. Isso não é uma polêmica qualquer, é uma discussão muito séria que precisa ser tratada com respeito”, desabafou.

Claudia Leitte está na mira do Ministério Público da Bahia (MP-BA)

|  Foto: Reprodução | Redes Sociais

Para a baiana, mais do que uma simples mudança de letra, o debate revela um problema estrutural. “A gente precisa aprender a conviver com a diversidade e respeitar a arte. Quando você está num lugar de privilégio, ninguém te abandona. Mas para os mais marginalizados, tudo é mais complicado”, pontuou.Polêmica com Claudia LeitteClaudia foi criticada após mudar um verso da música ‘Catar Caranguejo’, em show em Salvador, no final do ano. Ela passou a cantar o trecho “Eu canto ao meu Rei Yeshua”, ao invés da letra original, “Saudando a rainha Iemanjá”.O MP-BA instaurou um inquérito para apurar um possível ato de racismo religioso cometido pela cantora após o primeiro show de ensaio de verão, que aconteceu no Candyall Guetho Square.

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