Radioterapia pós-cirúrgica tem resultados positivos no tratamento de câncer de mama em homens, diz estudo

O câncer de mama representa 40% dos casos no Distrito Federal

MILENA FÉLIX
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Um estudo brasileiro publicado na revista científica Clinical Oncology mostra que a radioterapia aplicada após cirurgia oncológica pode aumentar em 33% a taxa de sobrevida global em homens com câncer de mama.

A metodologia do estudo usou informações de 907 pacientes diagnosticados com câncer de mama no período de janeiro de 2000 a julho de 2020, sendo um dos estudos mais amplos sobre o tema no mundo.

Com análise de dados retroativos, os autores utilizaram informações da Fundação Oncocentro de São Paulo, que conta com dados referentes a 46 milhões de paulistas.

Esse tipo é mais comum de tumor em mulheres no Brasil e no mundo -o Inca (Instituto Nacional de Câncer) prevê a ocorrência de cerca de 73.610 novos casos por ano entre 2023 e 2025. Quando falamos da incidência em homens, no entanto, o número de casos é bem menor, com cerca de 1% dos casos totais desse tipo de câncer. Contudo, este número tem aumentado nos últimos anos.

Apesar de raro em homens, o câncer de mama pode ser mais letal. “No mundo, o câncer de mama em homens tem, geralmente, o diagnóstico feito numa etapa mais avançada da doença quando se compara com a população feminina. Isso ocorre porque muitos homens não têm conhecimento sobre o câncer de mama, e também normalmente o homem é um pouco mais negligente com a própria saúde”, explica Gustavo Marta, oncologista e presidente da SBRT (Sociedade Brasileira de Radioterapia) e um dos autores do estudo.

Joaquim Paz, de 68 anos, não sabia que homens podem ter câncer de mama, até ser diagnosticado aos 55 anos com um tumor de estágio 2. Foi a parceira que identificou um pequeno caroço por trás do mamilo do companheiro. Sendo enfermeira e tendo experiência com o assunto, ela marcou um mastologista para ele. “Se ela não tivesse marcado eu nunca pensaria num mastologista. Logo que ele viu e apalpou, já mandou fazer uma ultra e uma biópsia e confirmou que era um câncer de mama”.

O estudo revela que a maior parte dos pacientes masculinos com câncer de mama foram diagnosticados entre 51 e 70 anos (51,5%), como é o caso de Paz. No momento do diagnóstico, só 19.5% estavam no estágio 1 da doença.

A taxa de sobrevida global de cinco e dez anos reduz conforme o estadiamento. Foi de 87,9% e 77,8% no estágio 1, 79,9% e 58,9% no estágio 2, 51,6% e 24,5% no estágio 3 e 20,0% e 5,6% no estágio 4. A taxa de sobrevida, como explica o presidente da SBRT, é dada pela porcentagem de pacientes que permanecem vivos depois de ter a doença em determinado tempo.

O estudo ainda revela que, para pacientes dos estágios 2 e 3 combinados, a radioterapia pós-operatória representou um significativo aumento da taxa de sobrevida global. Os mesmos resultados positivos, porém, não foram encontrados na quimioterapia. Marta explica que, geralmente, no estágio 3 a radioterapia é sempre indicada, porém, esse estudo torna também relevante a avaliação da possibilidade de indicação do tratamento também no estágio 2.

Para tratar o câncer de mama, geralmente se dispõe de quatro tipos de tratamento, utilizados na seguinte parcela dos pacientes analisados: cirurgia (70%), quimioterapia (62,7%), radioterapia (39,5%) e terapia endócrina (51,8%), sendo a radioterapia a menos comum. Marta esclarece que é comum que mais de um desses tratamentos sejam combinados.

Joaquim Paz, por exemplo, teve que se submeter à mastectomia completa, seguida de oito difíceis sessões de quimioterapia, 25 sessões de radioterapia, além de um acompanhamento com terapia hormonal por anos. Hoje, a doença está em remissão.

O oncologista especialista em câncer de mama, Gilberto Amorim, da Oncologia D’Or, explica que, muitas vezes, os homens acabam não aderindo ao tratamento hormonal. “Muitas mulheres fazem o tratamento hormonal e, embora tenha efeitos colaterais, elas não abandonam o medicamento. Mas para os homens é necessário não só bloquear os hormônios femininos, mas também a testosterona, o que quase sempre afeta também a ereção. E aí a taxa de abandono acaba sendo maior”.

Amorim também esclarece que, ao longo dos anos, os tratamentos para câncer ficaram mais modernos, e hoje são necessárias menos sessões. “Há poucos anos a gente fazia entre 25, 30, 35 sessões de rádio na parede torácica e na mama residual. Hoje em dia, a maior parte dos protocolos vai no máximo a 15. A dose total de radiação diminuiu, mas o impacto positivo na oncologia continua existindo. Então uma dose menor consegue o mesmo benefício. E quase não existem efeitos adversos”.

Marta explica quando a cirurgia e a radioterapia, são indicados: “De uma forma geral, todos os pacientes são operados, desde que não tenha doença já com metástase à distância. Tumores maiores do que 5 cm, com acometimento de linfonodos ou que o cirurgião não conseguiu retirar todo o tumor são as principais indicações de radioterapia pós-operatória”.

Esse foi o caso de Maurílio Cordeiro, de 48 anos, que descobriu um câncer de mama no ano passado.

Apesar de ter um tumor de estágio 1, ainda muito pequeno, a cirurgia feita no paciente preservou o mamilo, o que gerou indicação para radioterapia. Hoje, depois de cinco sessões de rádio, o paciente está em remissão.

“Não é o primeiro tumor que eu tive, meu primeiro tumor foi de tireoide, em 2017. Eu fiz retirada da tireoide e continuei com acompanhamento com a endocrinologista. E foi pra ela que eu mostrei que tinha percebido uns carocinhos superficiais, parecidos com grãos de arroz. Então, com ultrassom e biópsia, foi diagnosticado o câncer de mama”, conta Cordeiro.

Alguns dos sinais mais comuns do câncer de mama são inchaço, alterações no mamilo, presença de caroços, secreção, vermelhidão e dor. Joaquim Paz, que atualmente trabalha como voluntário na conscientização sobre o câncer de mama, adverte sobre a importância dos homens se tocarem e cuidarem da própria saúde.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.