Brasil possui relação comercial deficitária com os Estados Unidos desde 2009; saiba como Trump pode mudar esse cenário 

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram que a relação comercial histórica entre Brasil e Estados Unidos é de déficit de US$ 48,21 bilhões para os brasileiros, ou seja, os estadunidenses vendem mais produtos para o Brasil do que nós vendemos para eles. Os dados são compilados desde 1997, considerando 28 anos de comércio exterior.  

No ano passado, essa balança comercial se mostrou equilibrada, com US$ 40,33 bilhões exportados do Brasil para os Estados Unidos e US$ 40,58 bilhões importados dos estadunidenses para os brasileiros. A balança comercial entre os dois países registra déficit para o Brasil desde 2009. 

Embora os Estados Unidos importem produtos brasileiros, a participação dos produtos vindos do Brasil  na maior economia do mundo ainda é modesta em termos proporcionais.

De acordo com os dados mais recentes do Departamento de Comércio dos EUA, de janeiro a novembro do último ano, as importações provenientes do Brasil totalizaram US$ 38,5 bilhões (cerca de R$ 225,9 bilhões). Esse montante equivale a apenas 1,3% do volume total de compras internacionais do país.

Desde que assumiu o governo em janeiro, o presidente Donald Trump tem apresentado diferentes justificativas para a imposição de tarifas, muitas delas voltadas a fortalecer a posição dos Estados Unidos em negociações comerciais ou a garantir a fidelidade de outros países à economia estadunidense. Além disso, o empresário republicano tem frequentemente mencionado preocupações com a segurança nacional.

No entanto, analistas alertam que essa estratégia pode ter um efeito contrário ao esperado, elevando a inflação nos Estados Unidos.

Recentemente, Trump impôs um aumento de 25% nas tarifas sobre produtos do Canadá e do México, justificando a medida com questões de segurança, como o combate ao tráfico de drogas. Contudo, após negociações com os líderes desses países, que prometeram reforçar o patrulhamento fronteiriço, ele suspendeu temporariamente a decisão por um mês.

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Já em relação à China, Trump chegou a ameaçar, durante a campanha presidencial, uma tarifa de 60%, mas acabou optando por uma sobretaxa mais branda, de 10%. Ele também citou razões de segurança, mencionando o fentanil, droga sintética que se espalhou pelos EUA na última década, resultando em milhares de mortes.

“Espero que a China pare de nos enviar fentanil e, se não o fizerem, as tarifas vão subir substancialmente”, afirmou Trump. 

Até novembro de 2024, os Estados Unidos importaram um total de US$ 3 trilhões em bens, sendo que México, Canadá e China responderam por mais de 40% dessas compras.

Em resposta às medidas adotadas por Washington, o Ministério das Finanças da China anunciou novas tarifas sobre produtos norte-americanos. A partir de 10 de fevereiro, serão aplicadas taxas de 15% sobre carvão e Gás Natural Liquefeito (GNL) e de 10% sobre petróleo bruto, equipamentos agrícolas e determinados automóveis.

Pequim também minimizou as preocupações dos EUA com o fentanil, classificando o problema como uma questão interna norte-americana. Além disso, afirmou que contestará as tarifas na Organização Mundial do Comércio (OMC) e adotará outras contramedidas, embora tenha deixado espaço para futuras negociações.

Enquanto isso, o presidente Donald Trump indicou no domingo, 2, que seu próximo alvo será a União Europeia, que exportou mais de US$ 555 bilhões para os EUA no mesmo período. Ele classificou o déficit comercial com o bloco europeu, estimado em cerca de US$ 50 bilhões anuais, como uma “atrocidade”.

Maros Sefcovic, chefe de comércio da União Europeia, afirmou que o bloco está aberto ao diálogo para buscar um entendimento mútuo, mas fez um alerta: “A União Europeia vai responder com firmeza a qualquer parceiro comercial que imponha tarifas injustas ou arbitrárias”.

Brasil e América Latina 

“A relação [dos EUA com Brasil e América Latina] é excelente. Eles precisam de nós, muito mais do que nós precisamos deles. Não precisamos deles. Eles precisam de nós. Todos precisam de nós”, afirmou Trump ao ser questionado sobre os diálogos com Lula, o Brasil e a América Latina.

O republicano estendeu suas ameaças tarifárias aos outros membros dos Brics (bloco econômico que reúne, além do Brasil, a China, Índia, Rússia e África do Sul). Apesar do alarde, nenhuma taxa direta foi anunciada para os produtos brasileiros. 

Maria Laura da Rocha, ministra interina das Relações Exteriores, reforçou os esforços da diplomacia brasileira em trabalhar com pautas de interesse mútuo para ambos os países. Em janeiro, ela afirmou: “O presidente Trump pode falar o que ele quiser. Ele é presidente eleito dos Estados Unidos. Nós vamos analisar cada passo das decisões que forem tomadas pelo novo governo”.

Ainda na campanha presidencial, Trump ameaçou o bloco com taxas de 100% caso criassem uma nova moeda ou dessem apoio para substituição do dólar como moeda internacional. 

“Exigimos que esses países se comprometam a não criar uma nova moeda do Brics, nem apoiar qualquer outra moeda que substitua o poderoso dólar americano, caso contrário, eles sofrerão 100% de tarifas e deverão dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia norte-americana”, escreveu Trump em um post das redes digitais. Lula garante reciprocidade em caso de taxação abusiva. 

Na última quarta-feira, 5, Lula voltou a defender a criação de um substituto ao dólar nas transações entre os membros dos Brics. 

“Temos direito de discutir formas de comercialização que a gente não dependa só do dólar. Importante que a gente não tenha preocupação com as bravatas do Trump”, declarou o petista.

Investimentos

De acordo com um relatório divulgado pelo Banco Central no final do ano passado, com dados referentes a 2023, os Estados Unidos ocupam a liderança quando se trata de investimentos estrangeiros no Brasil.

A liderança norte-americana se mantém tanto no critério de “investidor imediato” — que considera o país de origem da empresa estrangeira que investe diretamente em subsidiárias ou filiais no Brasil — quanto no de “controlador final”, que identifica a residência do investidor com controle efetivo e interesse econômico na companhia brasileira.

Os números analisam a participação no capital, levando em conta a entrada de recursos, seja em moeda ou bens, para aquisição, subscrição ou ampliação do capital social de empresas nacionais.

Informações do Banco Central, citadas pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), mostram um aumento no número de empresas norte-americanas atuantes no país, assim como uma maior participação dessas empresas na economia brasileira.

A Amcham também destacou setores que receberam investimentos recentes no Brasil, além de informações sobre marcas e patentes norte-americanas registradas no país, com base em dados do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O setor aeronáutico é um exemplo de relação exportação/importação que gera bilhões de dólares para ambas as partes. 

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