Metade das recuperações judiciais no Rio Grande do Sul no 4º tri vem de empresas de cultivo de soja

FERNANDA BRIGATTI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O número de empresas em recuperação judicial no Rio Grande do Sul cresceu mais do que a média nacional em 2024, segundo monitor da consultoria RGF & Associados. No último trimestre do ano passado, metade das empresas que buscaram proteção judicial para renegociar suas dívidas era de cultivo de soja.

Na relação entre as empresas em atividade e aquelas em recuperação judicial, o Brasil terminou o ano passado com um índice de 1,91, enquanto o Rio Grande do Sul ficou com 2,77.

O índice calculado pela RGF considera o número de companhias em recuperação judicial a cada mil em atividade. O monitor é baseado em dados da Receita Federal e não inclui microempresas nem filiais.

No cultivo da soja, esse índice ficou em 41,94 no fim de 2024, com 32 empresas com processos de recuperação em andamento. Um ano antes, eram apenas quatro.

Ireneu Orth, presidente da Aprosoja-RS (Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul), diz que o quadro é o resultado de três safras sob seca intensa desde 2022 mais as enchentes de 2024, que afetaram principalmente os produtores da região sul do estado.

Agora, eles enfrentam nova onda de seca, como mostrou a Folha de S.Paulo.

“Em 2022, o preço da saca [de soja] encostou em R$ 200. Tinha preço e não tinha soja [por conta da seca]. Nos outros anos, o custo subiu e a seca pegou de novo. Agora é a quarta seca em cinco anos, as pessoas não conseguiram pagar as contas”, diz.

Quando as chuvas devastaram parte do Rio Grande do Sul entre abril e maio do ano passado, a soja e o milho plantados na parte alta do estado já estavam quase totalmente colhidos. No sul, região mais afetada pelas enchentes, não houve tempo.

“Foram pedidas 2,5 milhões de toneladas de soja”, diz Orth. “Há um percentual muito alto de agricultores afetados.” Segundo o dirigente da Aprosoja, na fronteira sul do Rio Grande do Sul fala-se em 30% das empresas com ações de execução de dívidas em andamento.

Contra esse tipo de cobrança é que muitas empresas buscam a recuperação judicial. Se o pedido é aceito pela Justiça, tem início o “stay period”, um prazo de seis meses durante o qual os credores não podem executar as cobranças.

Nesta quinta (6), a Aprosoja-RS e a Aper (Associação dos Produtores e Empresários Rurais) apresentam na capital Porto Alegre o esboço de um projeto de securitização para a agropecuária gaúcha. O texto propõe a prorrogação das dívidas dos produtores rurais do estado por 20 anos e carência de dois para o pagamento.

O senador gaúcho Luis Carlos Henize (PP) vai assinar o projeto e protocolar o texto, que passa por ajustes, nos próximos dias.

“Estamos pleiteando a prorrogação com bancos públicos e cooperativas de crédito”, diz Orth. “Para muitos, só será possível continuar se houver o alongamento da dívida, para que seja possível pagar o atrasado e continuar plantando.”

Na avaliação de Roberta Gonzaga, da RGF, o aumento de pedidos no último trimestre tem relação também com o tempo até as empresas estruturarem o pedido de recuperação judicial. O crescimento acima da média nacional no Rio Grande do Sul, diz ela, tem relação com o perfil econômico do estado, bastante apoiado no agronegócio.

“O setor do agro é muito volátil ao clima, depende de crédito e fica sujeito a fatores externos”, afirma.

Para o Rio Grande do Sul, para o agronegócio e para o Brasil, as perspectivas para 2025 não são das melhores diante da alta da Selic, a taxa básica de juros, e da expectativa de novos aumentos (hoje está em 13,25% e o Banco Central já sinalizou novo aumento de um ponto percentual em maço).

“As empresas em geral têm dívida financeira. Elas ficarão mais estranguladas e com menos acesso à crédito”, diz Roberta. “É importante fazer a lição de casa, se manter organizada e estruturada, porque se precisar fazer uma recuperação judicial ou extrajudicial, que ela esteja preparada para isso e para depois ter condições de retomas as atividades.”

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