Produtores no Brasil investem nas culturas de vinho e azeite, como na Europa

vinho imagem ilustrativa freepik

TÂNIA NOGUEIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Quem visita vinícolas na região italiana da Toscana percebe logo que onde tem vinhedo tem olival. Em várias partes da Europa, especialmente no Mediterrâneo, a lógica é aproveitar condições de clima e solo favoráveis, que costumam ser similares para as duas lavouras.


No Brasil, começa a crescer o número de produtores envolvidos com as duas culturas, a exemplo do que acontece na Europa.


Ainda neste ano, chegam ao mercado os espumantes da Cave Sabiá, dos mesmos produtores do azeite Sabiá. Um dos rótulos da marca ficou entre os dez melhores do mundo na premiação espanhola Evooleum Awards, no início do ano passado. Os espumantes, embora ainda jovens, também prometem qualidade.


Os azeites Sabiá são produzidos em duas fazendas, uma na Serra da Mantiqueira, em Santo Antônio do Pinhal (SP), e outra na Serra do Sudeste, em Encruzilhada do Sul (RS). Duas regiões também produtoras de vinho. Por enquanto, contudo, o Sabiá só plantou uvas no Sul, mas estuda ter vinhedo na Mantiqueira, diz Bob Vieira da Costa, empresário à frente do projeto ao lado da mulher, Bia Pereira.


“Na época em que compramos a fazenda na Mantiqueira, em 2015, queríamos fazer vinho, mas o que provamos daquela região, na época, não nos convenceu.”


No Sul, a marca decidiu produzir espumantes pelo método tradicional, o mesmo de Champanhe, na França, e foi buscar um enólogo no Trento, região famosa por esse tipo de vinho na Itália.


Referência no plantio de uva, Encruzilhada do Sul é onde ficam vinhedos de importantes marcas como Chandon, Casa Valduga e Lídio Carraro. Durante o dia, no verão, tem temperatura mais quente do que a da Serra Gaúcha, mas menos chuva -fator importante para a produção vinícola. O solo é arenoso e há um vento constante que seca qualquer umidade.


Também apresenta outras condições favoráveis ao cultivo de uvas: uma boa amplitude térmica (variação de temperatura entre o dia e a noite) no período da maturação (desenvolvimento) das uvas e a presença de estações do ano bem marcadas.


As condições são boas tanto para a uva quanto para a azeitona. Como explica o engenheiro agrônomo Emanuel de Costa, sócio do projeto, o ciclo de maturação das duas plantas é próximo, mas não coincide exatamente.


“As duas brotam mais ou menos na mesma época. Mas a uva se desenvolve mais rapidamente e acaba sendo colhida mais cedo”, diz o engenheiro agrônomo.


O azeite tem de ser produzido e vendido rapidamente pois deve ser fresco. Já o vinho pode levar anos para ser elaborado. “Esse foi outro fator que nos levou a querer fazer vinho”, diz Pereira.


“Nosso azeite costuma ser vendido em sete meses. Tanto que este ano produzimos um azeite Sabiá na Itália, para ter como atender nossos clientes. Além disso, há anos em que a safra do azeite é boa e outras que não. O vinho é mais constante.”


Serão vendidos três rótulos do Cave Sabiá: o Gran Cuvée brut, um corte das uvas chardonnay (90%) e pinot noir (10%); o Cuvée Beatriz, chardonnay (80%) e pinot noir (20%), um extra brut; e o Blanc de Blanc, 100% chardonnay (nature).


Há tempo, existem no mercado a produção de azeite Batalha e a vinícola Batalha, dois projetos que começaram 2010 e são vizinhos na região fronteiriça entre a Serra do Sudeste e a Campanha Gaúcha. Seus produtores, porém, eram diferentes.


O azeite é produzido por Luiz Eduardo Batalha -e leva seu sobrenome. A vinícola foi batizada em homenagem a uma batalha da Guerra dos Farrapos.


No início de 2024, o azeite Batalha, o maior produtor do Brasil, comprou a vinícola vizinha. Agora, as criações são uma coisa só. Os primeiros vinhos e espumantes da nova administração só vão chegar ao mercado em março.


Luiz Eduardo Batalha não bebe álcool. “Não me cai bem”, explica. O empresário, que trouxe o Burger King para o Brasil, no entanto, sabe reconhecer bons negócios. A vinícola Batalha não é seu único negócio no ramo. Recentemente, comprou também nos arredores, a Cerro de Pedra.


Outros produtores de vinho da mesma região estão produzindo azeite, como a Buenos Wines, do apresentador Galvão Bueno, que produz o AZ 0.2, e a Cooperativa Nova Aliança, que produz o azeite Cerro da Cruz. No Sudeste, também há exemplos como a Vinícola Guaspari, de São Paulo, que produz safras pequenas, e o azeite Serra que Chora, de Minas Gerais, que produz o vinho tinto syrah Amantikir.


Certamente um dos produtores que mistura as duas culturas há mais tempo é a RAR Alimentos, de Vacaria, na região de Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul. Eles plantaram os primeiros vinhedos em 2002.


Sérgio Martins Barbosa, presidente da empresa, conta que a cultura começou de maneira informal: o sogro queria fazer um vinho para suas bodas de ouro. A tentativa se deu em meio a uma fazenda de maçãs e deu certo: “Ele conseguiu servir na festa e aí fomos plantando novas variedades. Hoje temos 50 hectares de uvas”, diz Barbosa.


A produção de azeite é mais antiga. Em 1998, Raul Randon plantou 2.000 m² de oliveiras, em Vacaria. Em 2004, fez uma primeira colheita, prensou e mandou analisar. Como os resultados foram positivos, investiu no negócio, que hoje tem 25 hectares. Em 2015, lançou o azeite de Oliva Nacional RAR extra-virgem. “Meu sogro partiu da ideia de onde dá vinho, dá azeite”, diz Barbosa. “E deu, né?”

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