Já gostei mais de praia

Minha mulher não vai aprovar isso. Aliás, faz alguns anos que disfarça, mas não esconde sua frustração por mais um veraneio que passa sem nos depararmos no amanhecer com a Lagoa dos Quadros, depois do pedágio na free way, já próximo de Osório.

Poderia citar qualquer outra referência, mas esse é um recorte do passado que não se esquece. Quando os filhos eram pequenos, costumávamos sair de madrugada, lá pelas 4 horas, para que o sono ainda “abduzisse” sua energia durante boa parte da viagem ao Litoral e pudéssemos ter alguns momentos de sossego depois da maratona para organizar as férias.

A parada no pedágio, quase sempre, era um marco. Bastava alguém despertar e questionar o que estava acontecendo para que a calmaria no banco de trás do carro se transformasse radicalmente. “Vai mais pra lá.” “Troca essa música.” “Pára que preciso fazer xixi.”

Foi nesse contexto que a lagoa virava mar. “Olhem, estamos chegando! Quem quer ir pra praia?” – provocava a Marli, tentando entreter os pequenos. Por alguns verões até funcionou, depois não mais.
Era estressante? Sim! Cansativo? Também. Mas foram momentos marcantes em nossas vidas, com certeza. De verdade, eu toparia fazer tudo de novo. Mas não dá. Os filhos cresceram, são adultos, autônomos, cada um incorporou um novo núcleo familiar.

Ciclos. É isso que resume nossa vida. Não necessariamente tudo tem que ser melhor ou pior. Mas certamente há de ser diferente e cada vez mais desafiador. Talvez dê tempo e eu ainda possa reformular minha opinião: para mim, férias, praia, veraneio são conceitos indissociáveis de boa companhia, de parceria, alguma aventura ou desafio, enfim, um passo além da rotina, da mesmice do dia a dia.

É verdade, a energia já não é a mesma, algumas juntas do corpo começam a doer e a gente vai ficando mais acomodado. Mas receio mesmo é que eu carregue o trauma de uma das últimas temporadas no Litoral gaúcho, uma sucessão de dias de sol tão escaldante quanto o que nos frita neste início de 2025. Estávamos alojados, por circunstâncias que fugiram de nossas escolhas, numa casa sem ventilação, sem ar-condicionado ou ventilador ou qualquer coisa que amenizasse aquela temperatura infernal. Ali, no Litoral, onde sempre tem (ou deveria ter) uma brisa.

Pois não teve. Só pensava em voltar para casa. Para o modesto conforto do lar. Talvez por isso que não me motive e nem me encoraje mais a aventurar pelo incerto. É verdade que se pode escolher destino, roteiro, acomodações. Mas não se pode combinar com São Pedro. E nós já ficamos sete dias em casa alugada na praia sem ver o sol, nem o mar. Só a chuva inclemente.

Mas não quero desencorajar ninguém. Se há recordações e histórias pra contar, é porque vivemos momentos intensos. Até hoje não entendo como concordei em subir num daqueles botes que jogavam a gente no mar de Garopaba, perto da ilha. Não sei nadar, tenho pavor de qualquer ambiente onde não possa tocar o pé no chão, mas sobrevivi, por conta de um colete e de um braço – sei lá de quem – que me resgatou.

Não vou mais fazer aventuras desse tipo. Mas cada loucura valeu a pena. Arrisco dizer que os verões das últimas duas ou três décadas por certo estão entre os momentos mais ricos e marcantes que vivemos. E por isso mesmo não se repetem. Eles foram definitivos.

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