Novas tecnologias digitais avançam na educação da Bahia

A digitalização da educação avançou de forma acelerada nos últimos anos, impulsionada pela necessidade do ensino remoto durante a pandemia da Covid-19. Escolas e universidades tiveram que se adaptar ao uso de plataformas digitais, metodologias híbridas e novas formas de interação entre estudantes e professores. Agora, em um cenário pós-pandemia, a tecnologia se consolidou como uma ferramenta essencial no ensino, ampliando o acesso ao conhecimento e contribuindo para a aprendizagem.Com a evolução das ferramentas digitais, o setor educacional tem investido cada vez mais em educação. Inteligência artificial (IA), realidade aumentada e plataformas adaptativas estão entre as principais tendências adotadas para tornar o ensino mais dinâmico e eficiente.Neste cenário, cresce a demanda por professores qualificados no uso de ferramentas tecnológicas, além da necessidade de infraestrutura adequada nas escolas. A criação da Política Nacional de Educação Digital (PNED), estabelecida pela Lei Federal 14.533 em 2023, representa um avanço nesse sentido. A legislação define diretrizes para ampliar o acesso à tecnologia, promover a alfabetização digital e qualificar professores e estudantes no uso de ferramentas digitais.Outra regulamentação recente é a Lei 15.100/2025, que disciplina o uso de celulares em escolas com o objetivo de reduzir distrações e criar um ambiente mais propício à aprendizagem. A medida não impede o uso da tecnologia, mas propõe uma abordagem mais consciente e pedagógica dos recursos digitais em sala de aula.Na rede estadual de ensino da Bahia, as mudanças vêm sendo implementadas de forma gradual. As escolas têm investido no uso de ferramentas tecnológicas como aliadas do aprendizado, garantindo que a tecnologia esteja a serviço da educação, da qualificação dos profissionais e, claro, do desenvolvimento dos estudantes.Em 2024, o Governo do Estado, por meio da Secretaria da Educação (SEC), distribuiu 148.804 tablets para estudantes do 2º ano do Ensino Médio da rede estadual dentro do Projeto Conectar para Educar. Os equipamentos, que já vêm com chips ativados e diversos aplicativos para estudos instalados, permitem aos estudantes maior conectividade e acesso a um ensino híbrido. A iniciativa busca dinamizar as aulas, tornando-as mais interativas, além de oferecer novas possibilidades de criação, colaboração e acesso à informação em tempo real.Em 2025, a expectativa é entregar cerca de 225 mil tablets para estudantes do 1º e 2º ano do Ensino Médio em todos os 27 Núcleos Territoriais de Educação (NTEs). De acordo com Carla Aragão, diretora de Inovação e Tecnologia do Instituto Anísio Teixeira (IAT), a integração entre tecnologia e educação é acompanhada por um processo formativo contínuo.“Essas iniciativas são casadas com processos formativos para os nossos professores consigam se apropriar dessas tecnologias e desenvolver projetos mais autorais. A ideia é sempre que a gente tenha capacidade de primeiramente desenvolver nos nossos educadores a leitura crítica desses meios e a apropriação deles para produção. Porque a ideia é que não fiquemos reféns do que a gente acessa, mas que a gente tenha a capacidade de produção crítica de discurso, de conhecimento, de cultura, de saberes locais”, explica.Além da distribuição dos dispositivos, a diretora destaca que, este ano, as formações serão voltadas para a educação midiática e digital, dando continuidade ao plano de qualificação de professores oferecido pelo IAT. Esse processo tem sido conduzido pela SEC, que esteve à frente de um amplo programa de amparo e formação para muitos desses docentes.“A gente percebeu uma mudança no perfil e comprometimento dos professores em se apropriar das tecnologias. Claro que a gente tem professores e professoras com mais perfis, mais inclinação, mais desejo, mais curiosidade de trabalhar com as tecnologias e educadores e educadoras que ainda resistem um pouco a isso. A gente tem tentado mostrar as potencialidades na construção mesmo agora da formação em inteligência artificial. A gente quer mostrar como a gente pode romper esse estigma que já paira sobre tecnologia de inteligência artificial no contexto escolar”, ressalta Carla.A IA, aliás, tem despertado grande interesse e se tornado uma pauta prioritária para a SEC. “Tanto inteligência artificial, robótica, educação científica, e a própria educação digital e midiática, são bandeiras que a nossa secretária [Rowenna Brito] levanta e que ela quer muito que a gente intensifique”, acrescenta.O Instituto também tem promovido a cultura maker e a educação sociocientífica por meio de laboratórios equipados com impressoras 3D, placas Arduino e outros recursos tecnológicos. Entre esses espaços, destaca-se o Maria Felipa LAB, um laboratório de criatividade e inovação instalado no próprio IAT.“Então, o Maria Filipa LAB fica instalado aqui no Instituto Anísio Teixeira. Ele é um laboratório de criatividade e inovação, que é um LabCri voltado para educação básica, um programa do Governo Federal, em parceria com o Governo do Estado. Nesse espaço, a gente trabalha, com eletrônica, com internet das coisas (IoT), com mercenária e cultura maker”, detalha Carla.A diretora destaca ainda que as escolas realizam visitas ao espaço, trazendo os alunos para atividades em um turno, em um dia específico para essas visitas. Além disso, há um dia reservado exclusivamente para a recepção dos professores dentro do Projeto Ubuntu.“No Ubuntu, a gente estimula que os professores desenvolvam projetos, produtos e processos inovadores dentro das suas escolas. Então, a gente disponibiliza o laboratório, a nossa equipe, que é especialista nessas criações, para que eles venham para cá desenvolver os seus projetos”, completa.A abertura do Maria Filipa Lab é prioritariamente voltada para os NTEs 26 (Salvador e Região Metropolitana) e 19 (Feira de Santana), devido à proximidade e à logística de deslocamento. No entanto, sempre que grupos de outros municípios visitam o instituto, eles também passam pelo laboratório para conhecer as iniciativas.O Instituto também leva essas experiências para fora dos seus projetos físicos por meio de projetos como as Caravanas Digitais, que oferecem oficinas de fotografia, audiovisual, podcast e produção multimídia para diversas regiões do estado. A proposta é expandir essas atividades para as escolas da rede municipal.“A gente tem percebido cada vez mais que há uma demanda nos municípios por formações dentro desse campo. Muitas vezes a gente abre as vagas, aí um colega fala para o outro e vem sempre alguém da rede municipal perguntar: ‘Tem vaga?’ ‘Poxa, a gente pode?’. E, algumas formações não. A gente tem formações que são também voltadas para o município, a gente vem ofertando isso já há algum tempo, mas a gente intensifica isso em 2025 e contempla especialmente também este campo da aprendizagem para a apropriação do uso das tecnologias”, destaca.Outra iniciativa de destaque é a ampliação das Agências de Notícias na Escola. Atualmente presente em 83 escolas, o projeto deve alcançar mais de 700 unidades em 2025. A proposta é equipar as escolas com kits de jornalismo – incluindo microfones, gravadores e câmeras – incentivando os estudantes a produzirem notícias e desenvolverem habilidades de pesquisa, escrita e comunicação.“E, ao produzir notícia, desenvolvem o seu senso crítico, sua capacidade de pesquisa e apuração, se tornam mais preparados para isso, se desenvolvem muito em língua portuguesa”, diz Carla.“Ano passado um dos estudantes, que estava na agência de notícias, ganhou o prêmio de melhor artigo do concurso do A TARDE [Concurso Cultural Jovem Jornalista 2024]. É visível quando os alunos ganham em desenvoltura, em capacidade reflexiva, de questionamento, curiosidade, oratória e linguagens de modo geral. Todo o trabalho das agências de notícias é permeado pelo uso das tecnologias”, acrescenta.Tecnologia se consolida como ferramenta essencial na educaçãoA incorporação da tecnologia na educação tem se consolidado como uma ferramenta essencial para potencializar o aprendizado, estimular a criatividade e preparar os estudantes para os desafios contemporâneos. Iniciativas como a do Instituto Anísio Teixeira (IAT) e da Secretaria da Educação (SEC), exemplificam essa transformação na prática.Para a professora Salete Noro, da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (Faced/UFBA), a tecnologia deve ser tão valorizada quanto a qualificação docente. Ela ressalta que a formação de professores não deve se limitar ao ensino do uso de ferramentas tecnológicas, mas sim qualificá-los para compreender o mundo, a ciência e a inovação.“Educar é muito mais do que aprender a ler, escrever, no sentido da codificação e decodificação. Os professores, eles precisam ser formados dentro de uma perspectiva mais ampla, encarados não como repassador de conteúdo, de informação, mas como intelectuais da educação”, argumenta.SoftwaresAlém da adoção de dispositivos digitais, o investimento em laboratórios de informática e softwares educacionais amplia as possibilidades pedagógicas, favorecendo a autoria e o protagonismo de alunos e professores.“Quais são hoje os dispositivos que a gente pode usar para incrementar e desenvolver então, dentro da escola, autoria, protagonismo de alunos e professores? A experimentação é um dos pontos mais interessantes, né, de que tu coloca os estudantes em contato de maneira concreta, com experiências que vão originar, que vão desencadear de maneira interdisciplinar a construção do conhecimento”, reforça Salete Noro.Outro ponto fundamental apontado pela professora é a necessidade de ensinar os estudantes a lidar criticamente com a informação. O combate à desinformação e a reflexão sobre os impactos sociais da tecnologia devem fazer parte do currículo escolar.“A gente sabe também de uma coisa muito grave que acontece hoje com a tecnologia digital, que é a produção de desinformação, a violência que acontece nas redes e os crimes cibernéticos. Então, se eu quero formar um cidadão, eu tenho que discutir essas questões. Então, hoje, ensinar ou discutir, por exemplo, a desinformação é prioritário dentro das escolas, porque a gente tem uma produção desenfreada de desinformação […] e os nossos estudantes, a maioria deles, principalmente da rede pública que pertence à classe C D E e E, eles têm a única fonte de informação através do dispositivo celular”, alerta.Por isso, segundo Salete Noro, é essencial que a tecnologia esteja integrada às escolas de forma efetiva e acessível. “A gente não pode apartar e trazer uma tecnologia menor ou incompatível, ou uma inexistência de tecnologia dentro das escolas, porque a gente tem que formar cidadão. Se uma tecnologia traz um desafio, bom, a escola é o local para que eles compreendam essa tecnologia e criem maneiras de superar os desafios desta tecnologia”, conclui.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.