Lavouras de soja sofrem com a falta de chuva na região

A estiagem que afeta o Rio Grande do Sul já provoca impactos na soja. As lavouras sofrem com o estresse hídrico e o sol forte, situação que pode ser vista pelo tamanho reduzido das plantas e o aspecto amarelado das folhas. Em entrevista à Rádio Gazeta FM 107,9, o engenheiro agrônomo Josemar Parise, da Emater/RS-Ascar, defendeu uma ampla discussão e mudanças nas estratégias de plantio e manejo da cultura para enfrentar as adversidades.

Parise recordou que houve uma sequência de safras bem-sucedidas na última década. De 2019 em diante, contudo, o cenário se inverteu e a quebra passou a ser constante. “Desde então, estamos convivendo com esse estigma da estiagem.” As recorrentes dificuldades enfrentadas pelos produtores e a relevância da oleaginosa, que ocupa 6,8 milhões de hectares no Estado, são alguns dos motivos citados por ele para essa revisão do modelo atual.

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Além da importância econômica, por ser a principal commodity do Rio Grande do Sul e do Brasil, a soja é uma das poucas culturas que não precisam do insumo mais caro, o adubo nitrogenado. “Só que tem um diferencial: ao longo do ciclo de desenvolvimento, ela depende muito do fotoperíodo. Isso significa que precisa daqueles dias longos para florescer”, explicou. Considerando o período de plantio no RS, a fase reprodutiva – a mais sensível à falta de chuva – decorre nos meses de janeiro e fevereiro.

Parise defende nova estratégia no campo

Tecnicamente, segundo Parise, recomenda-se que essa etapa coincida com os dois primeiros meses do ano, em razão dos dias longos e grande oferta de radiação solar. Ele entende ser necessário o envolvimento de universidades, instituições que trabalham com melhoramento genético, defesa sanitária vegetal, extensionistas e políticos para discutir estratégias que reduzam os impactos da seca.

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“Temos volumes satisfatórios, com acumulados de até 2 mil milímetros durante o ano, mas chega nessa época, a chuva fica escassa.” Lembrou que até a primeira semana de janeiro o quadro era de normalidade; depois, ao longo do mês e em fevereiro, as precipitações reduziram. Alguns pontos chegaram a registrar 50 milímetros, mas isoladamente.

“Para piorar, a falta de água se associa às altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar. Tudo isso torna o ambiente desfavorável para a cultura.”

Melhoria no manejo e novas cultivares

Segundo Josemar Parise, o trabalho da Emater consiste em acompanhamento e orientação aos produtores. Um dos gargalos, explica, é o manejo inadequado do solo, situação percebida em nível estadual. Essas informações são levantadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

“Em áreas onde são cultivadas as culturas anuais, há um alto grau de limitação física, compactação ou adensamento. Isso limita muito o desenvolvimento das raízes”, detalha. Com raízes pequenas, as plantas têm mais dificuldade de encontrar água e ficam mais suscetíveis ao estresse hídrico. O manejo adequado garante um solo poroso, com maior teor de matéria orgânica. Ele chama a atenção para a importância da palhada, que funciona como isolante térmico em dias de temperaturas extremas.

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“Em um solo exposto, essas chuvas de 15 ou 20 milímetros evaporam em dois ou três dias, fazendo com que a soja entre em estresse novamente.” Citou o exemplo de uma área experimental em Rio Pardo, onde a época de semeadura foi modificada e o manejo do solo feito corretamente. Por lá, mesmo com o pluviômetro registrando somente 60 milímetros de chuva acumulada, o patamar produtivo ainda está acima das 50 sacas por hectare.

Farsul acompanha situação dos municípios

O assessor jurídico da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Luís Fernando Pires, esteve em Santa Cruz do Sul e região na última quinta-feira. Enquanto representante da instituição, foi aos sindicatos rurais e em propriedades para ver de perto o drama enfrentado pelos produtores em razão dos efeitos da estiagem.

Em entrevista à Rádio Gazeta FM 107,9, Pires observou que a visita ao Vale do Rio Pardo novamente se dá devido à falta de chuva que afeta negativamente as culturas de verão, como soja, milho e arroz. Recordou que em 2022 e 2023 o Estado já havia enfrentado duas secas.

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Em 2024, o problema foi o excesso de chuvas. “Neste ano o produtor está com dificuldades, já endividado e com seus recursos comprometidos em virtude do que estava atrasado, tendo que renegociar e plantando do jeito que dava, com pouca tecnologia.” Considerando tudo isso, a nova estiagem é motivo de preocupação para a Farsul, pois mais de 40% do Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho vem do agronegócio. “Basta analisarmos os gráficos em relação ao crescimento econômico: quando há uma estiagem, o PIB cai.”

Ainda conforme Pires, quando o campo vai mal, a cidade também sente os reflexos, não somente no preço dos alimentos mas também na menor circulação de dinheiro nos setores de comércio e serviços.
“É uma rede e sabemos que todos saem perdendo neste cenário. Então estamos aqui, primeiro buscando soluções a curto prazo”, enfatizou. Uma das principais iniciativas é a demanda por renegociação das dívidas, com prazos maiores e juros menores. Esse esforço, contudo, é visto como insuficiente pelo representante. “Temos que pensar, porque em 2026 podemos ter problemas climáticos novamente, cheias ou secas, e aí vamos voltar a discutir o tema. Precisamos ter soluções a médio e longo prazo.”

Outra iniciativa possível para auxiliar o produtor é a irrigação, muito defendida pelo deputado estadual Adolfo Brito (PP) no ano passado, quando foi presidente da Assembleia Legislativa. No Vale do Rio Pardo, entretanto, o intento esbarra no tamanho reduzido das propriedades. “São muito pequenas, se for fazer um açude ou barragem, compromete boa parte da área.” Assim, a irrigação teria que retirar a água de outras fontes, como poços artesianos, e usar o sistema de gotejamento para ser considerada viável.

Entidade defende mudanças no Proagro

O Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), conduzido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, é visto pela Farsul como insuficiente para as demandas atuais. Segundo Luís Fernando Pires, o custo para o produtor é elevado e o retorno, baixo frente às necessidades.

“Precisamos ter, por parte dos governos estadual e federal, uma política de incentivo, um subsídio ao seguro.” Com isso, afirma, seria possível enfrentar os problemas climáticos sem recorrer a renegociações de dívidas e novas linhas de crédito.

“Ficaria perfeito se houvesse reserva de água com irrigação de qualidade onde é possível. E naquelas áreas onde isso não é viável, haver um seguro rural que atenda a nossa realidade”, ressalta.

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Ainda acerca da irrigação, Pires reconhece que há muitas tratativas, mas poucos avanços práticos. Apesar dos esforços de Brito, os entraves burocráticos persistem e a legislação ambiental é restritiva. “Muitos produtores acabam desistindo [de irrigar] porque há exigências demais em relação a esses pontos.”

Diante do descompasso entre as demandas dos agricultores e as mudanças na legislação, a maioria segue plantando no sistema de sequeiro, dependendo exclusivamente da colaboração do clima para obter os resultados esperados. Por mais organizado que o produtor seja, frisou, não há como enfrentar três estiagens e uma enchente histórica em um período de apenas cinco anos. “Em quatro anos, tiveram resultados em apenas um. Isso dificulta, principalmente para aqueles que fizeram investimentos.”

Colaboraram Aline Silva, Lucas Malheiros e Carina Weber

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