‘Tren de Aragua’: entenda o pacto entre facção venezuelana e o PCC

O Brasil enfrenta um novo fenômeno no cenário do crime organizado e do narcotráfico: a entrada da facção venezuelana Tren de Aragua, na regiçao norte do país. O grupo, que tem origem na penitenciária de Tocorón, no estado de Aragua, a cerca de 130 quilômetros de Caracas, vem ganhando território na Amazônia, consolidando uma estratégia de expansão que inclui o recrutamento de brasileiros, o domínio de rotas de tráfico de drogas, pontos de prostituição e garimpos ilegais de ouro. Além disso, a organização está fortalecendo uma aliança com o Primeiro Comando da Capital (PCC), considerada a maior facção criminosa da América Latina.O Tren de Aragua é amplamente conhecido pelos métodos violentos utilizados para eliminar rivais e conquistar territórios. Inicialmente, o grupo expulsava traficantes locais, gerando confrontos com facções brasileiras. No entanto, após um acordo com o PCC, os venezuelanos passaram a cooptar brasileiros para suas fileiras, ampliando sua influência na região.Assim como o PCC, a facção venezuelana se aproveita do fluxo de migrantes para expandir sua rede criminosa, estabelecendo alianças para o tráfico de drogas e ouro, além da exploração sexual de mulheres. O grupo opera não apenas em Roraima, mas também em outros estados da região Norte e supostamente tem conexões em países como Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru.A dimensão exata de suas operações ainda é desconhecida. Embora o Tren de Aragua tenha começado como uma gangue voltada ao tráfico de pessoas e crimes contra migrantes, sua atuação se expandiu para extorsão, sequestro, lavagem de dinheiro e contrabando de drogas. Segundo o Office of Foreign Assets Control (OFAC), do Departamento do Tesouro dos EUA, o grupo é um dos mais perigosos da região.O general aposentado Óscar Naranjo, ex-vice-presidente da Colômbia e ex-chefe da Polícia Nacional Colombiana, classificou o Tren de Aragua como “a organização criminosa mais perturbadora que opera atualmente na América Latina, um verdadeiro desafio para a região”.

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Diante desse cenário, especialistas alertam para os riscos da expansão dessas organizações criminosas, que evidenciam a globalização da criminalidade. A cooperação entre grupos como o Tren de Aragua e o PCC reforça a preocupação com a segurança na região amazônica e em todo o continente.

“O Estado brasileiro enfrenta um desafio complexo na região amazônica”, diz especialista

Em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE, o Mestre em Relações Internacionais e pesquisador em História das Relações Internacionais, Segurança e Defesa, professor Neuton Silva Neto, explicou o fenômeno da internacionalização das organizações criminosas e os interesses desses grupos na região amazônica.”Temos que imaginar que o fluxo de criminalidade depende muito de condições específicas dos Estados. A aliança entre facções internacionais é um caminho para se garantir que a droga produzida chegue ao seu destino. Atualmente, o PCC é a maior facção da América Latina e busca esse tipo de articulação. Quando não estão ocupando território, buscam alianças. Interessante frisar que o Norte do Brasil tem uma facção própria, a Família do Norte (FDN). Podemos observar os reflexos nas relações entre PCC e FDN.”Sobre a vulnerabilidade da região amazônica, o professor destacou:”A Floresta Amazônica possui meio que um vácuo de atuação do Estado. Pensar a segurança lá é diferente do que em outras zonas. A maior parte do efetivo de fronteiras está nos arcos Sul e Central, o que facilita esse trânsito de ilícitos na região da floresta.”Além do tráfico de drogas, o grupo controla rotas ilícitas, exploração sexual, garimpos ilegais e cooptam brasileiros para fortalecer sua influência, mas a exploração de atividades criminosas na região não se limita ao narcotráfico:”Além disso, madeireiros e grileiros também entram na equação. E sim, os índices baixos de urbanização auxiliam nesse processo. Há registros de cooptação de povos indígenas para o tráfico.”Sobre a possibilidade da situação se tornar um incidente internacional e as formas de combate, o professor Neuton esclarece:

“Creio que não se torne um incidente internacional, pois há uma linha tênue entre os interesses dos narcotraficantes e a atuação dos Estados. Se escalar e as relações estiverem normalizadas, pode ocorrer protocolos de cooperação para conter essas facções transfronteiriças.”

Por fim, ele reforça a importância da inteligência e da cooperação internacional no enfrentamento ao crime organizado:”Infelizmente, não é uma questão simples. Envolve mais inteligência e cooperação internacional. A depender da forma como é combatida, a fronteira se torna um entrave. Ou seja, se um criminoso é procurado no Brasil, ele pode se refugiar na Venezuela. Nesse caso, envolve cooperação jurídica entre Estados, além de inteligência policial.”

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