Aos 88 anos, Sônia Robatto lança livro infantil narrando a história do Vila Velha

É difícil precisar o tamanho da baiana Sônia Robato. Talvez nossa vista não alcance sua real estatura. Sua atuação vem desde os anos 1960, quando, aluna da primeira turma da Escola de Teatro da Ufba, integrou a Sociedade Teatro dos Novos (1959), o qual, em 1964, criou e ergueu o Teatro Vila Velha. 61 anos (e inúmeros feitos) depois, ela conta essa história no livro Uma Casa Mágica: o Teatro Vila Velha, que tem lançamento hoje, no Museu de Arte Moderna (MAM-BA).O livro, dirigido às crianças de todas as idades, é o primeiro volume da coleção Vila para as Infâncias. Nas suas páginas, Sonia, hoje aos 88 anos, relata de forma lúdica e poética a saga desse espaço fundamental para a cultura brasileira. Com coordenação editorial de Marcio Meirelles e Ramon Gonçalves, o livro tem projeto visual, design e capa da artista Vânia Medeiros. O texto foi desenvolvido em colaboração com Gustavo Grangeiro.O lançamento ocorre nos últimos dias da exposição Vila Velha, Por Exemplo: 60 anos de um teatro do Brasil terá contação dessa história com a atriz Zeca de Abreu, acompanhada da música ao vivo do já citado Ramon Gonçalves (leia-se Aurata). Com tiragem de dois mil exemplares, o livro terá cota de 200 para distribuição gratuita no lançamento e estará disponível para leitura na plataforma Issuu (issuu.com/teatrovilavelha ) e à venda on-line na Loja do Vila.“O processo (de contar essa história) foi de revisitar a história do teatro baiano com uma pessoa que viveu essa história, então a gente passou um tempo conversando sobre a Escola de Teatro, quem eram as pessoas desse grupo, como eles saíram da Escola e foram inventar esse novo teatro”, relata Gustavo Grangeiro.“Antes deles terem um espaço para fazer o Vila Velha, eles começaram a ensaiar nessa casa no bairro da Graça, eles iam de caminhão se apresentar na porta das igrejas e dos lugares, então Sonia foi revisitando e contando e a gente foi escrevendo e adequando a uma linguagem interessante para a criançada”, detalha.Artista visual e designer gráfica, Vânia Medeiros conta que recebeu “com muita alegria, muita honra” o convite de Márcio Meirelles para ilustrar o livro. “Procurei trazer essa simplicidade que Sônia traz, com bastante cor, buscando trazer esses personagens e o desejo deles de fazer teatro com traços simples. Busquei trazer cor, trazer o movimento que a história nos evoca, essa alegria e simplicidade que Sônia traz na história dela”, conta Vânia.“Buscamos construir um livro que tocasse o coração das crianças e que segue viva no trabalho de Márcio e de toda a equipe do Vila. E que vai continuar sendo feita pelas novas gerações. Acho que esse livro é um desejo de que as novas gerações continuem fazendo teatro”, acrescenta.Recreio e Coleção TabaDona da história, Sônia certamente saberá conta-la. Ela vem contando histórias há muitas décadas. Seu verbete na Wikipedia aponta que ela já contou mais de 400 contos infantis – em livros, revistas, fascículos, discos e sabe-se lá que outros meios. Mas ela corrige a enciclopédia on line: “São mais de 500 editadas, não é só escrito. Fora o que foi gravado”, afirma.De imaginação oceânica, Sônia diz não saber mais se vive no mesmo mundo que você ou eu: “Olha, a inspiração é constante. Eu não sei se eu vivo no mundo que todo mundo vive ou se eu vivo na imaginação, inventando história”.“Então, de onde vem, você sabe que é uma coisa misteriosa, mas é constante. Vem como eu gosto muito de chocolate. Da mesma maneira que eu como chocolate, eu como os enredos. É maluquice o que eu estou dizendo, não é? Mas é o seguinte: é constante o estado de escrever”, ensina.“Constância”, certamente é uma palavra-chave. Quem cresceu entre os anos 1970 e 80 certamente foi impactado pela produção prodigiosa de Sônia, mesmo sem o saber. Em 1969, morando em São Paulo, foi convidada pela Editora Abril para editar a antológica revista Recreio. Entre historinhas e passatempos influenciados pelo educador Jean Piaget, revelou autores consagrados como Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Joel Rufino dos Santos e outros. “A Recreio nasceu de uma forma mais ou menos mágica. Eu fui na Abril e levei um livro que eu tinha escrito para eles editarem. Eles não quiseram editar o livro, mas me pediram que participasse do projeto de fazer uma revista infantil. Dediquei um tempo para pensar em tudo que uma criança gostaria de ter numa revista”, relata.“[A Recreio] foi toda planejada servindo à criança, possibilitando elas terem acesso a coisas que nunca tiveram, porque eram restritas as coisas. Era uma revista livre, levando as crianças a entrar em trabalhos de desenho, de canto, quer dizer, criar uma faixa onde havia uma grande liberdade de criação”, lembra Sônia.Entre os grandes nomes que ela ajudou a revelar, o que mais a marcou foi Ruth Rocha, célebre autora do clássico Marcelo, Marmelo, Martelo (1976) que já vendeu mais de um milhão de exemplares. “Olha, eu tranquei ela numa sala da minha casa e eu obriguei ela a escrever. Não é que ela escreveu?”, diverte-se.“Eu precisava muito de uma história, porque no início, eu escrevia todas as histórias. Então você tinha que escrever por mês quatro histórias (a Recreio era semanal). Escrever, editar e fazer tudo. Então, ela fez muito bem, fez uma história sobre borboletas. Romeu e Julieta com borboletas. Deu certo, porque Ruth tem uma boa escrita, não tinha como dar errado. E eu continuei escrevendo também”, lembra.Outra proeza de Sônia foi coordenar a Coleção Taba, fascículos semanais com historinhas que vinham com compactos em vinil gravados para a coleção, por grandes nomes da MPB. “Chamei o senhor Tom Zé, para ser meu editor de música, acompanhando o processo de criação, a parte de gravação, tudo. Foi um luxo só, porque Tom Zé chamava Caetano, Gal Costa, Bethânia e todo mundo apareceu. Então foram 143 discos. É muito disco, não é?”, admira-se.Uma Casa Mágica: o Teatro Vila Velha tem patrocínio do Banco do Brasil (Lei de Incentivo à Cultura), Ministério da Cultura e Governo Federal.Lançamento do livro ‘Uma Casa Mágica: o Teatro Vila Velha’ / Hoje, 16h / Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) / Gratuito
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