Bolsonaro editou decreto e buscou apoio de chefes militares para golpe, diz Cid

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CÉZAR FEITOZA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Os vídeos da delação do tenente-coronel Mauro Cid divulgados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quinta-feira (20) mostram o momento em que o militar contou -pela primeira vez- que Jair Bolsonaro (PL) convocou os comandantes das Forças Armadas para discutir um possível golpe de Estado em 2022.

Segundo Cid, Bolsonaro recebeu dias antes da reunião uma minuta de decreto golpista do assessor Filipe Martins e do jurista Amauri Saad. O texto destacava o que eles entendiam como abusos do Poder Judiciário e, como ação prática, determinava a prisão dos ministros da corte Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes e o então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Bolsonaro, segundo a delação, pediu para seu assessor editar a minuta e retirar a prisão de algumas autoridades -mantendo somente a detenção de Moraes e a convocação de novas eleições, com auxílio da caserna.

A reunião com os chefes militares ocorreu no dia 7 de dezembro de 2022. Mauro Cid conta que o único que apoiou a conspiração foi o ex-comandante da Marinha Almir Garnier.

“Dos três, o almirante Garnier achava que o presidente tinha de fazer alguma coisa. ‘Estou com a Marinha pronta. Quando você der a ordem, estou com a Marinha pronta’. Só que ele condicionava à participação do Exército, porque ele não tinha capacidade sozinho”, disse Cid.

O tenente-coronel conta que o então comandante da Força Aérea, brigadeiro Baptista Júnior, era o principal opositor aos planos golpistas. “Ele falava: ‘Presidente, o senhor jogou o jogo e perdeu. Não teve fraude e agora acabou. O senhor tem que ir para casa, ver o que vai fazer do futuro, vira oposição'”.

Já o comandante do Exército, general Freire Gomes, era mais moderado que os demais, segundo Cid. “Ele entendia a situação do país, não concordava como as coisas estavam sendo conduzidas, mas dizia que não tinha para fazer –até porque não foi comprovada fraude nenhuma”, disse Cid.

“Se fosse assinado o decreto, aquele povo teria 30 minutos de alegria e o povo seria feliz para sempre. O general [Freire Gomes] falava: ‘Não, tudo que acontecer aqui será um regime autoritário durante os próximos 20, 30 anos. O senhor manda fazer uma eleição, ganha à força e aí? E a comunidade internacional, o Congresso? Como vai ser? E em 2026 quando você sair? Vai acabar? Você estará preso no próximo dia’.”

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