Campeão do Tudor Nazaré Big Wave Challenge como spotter, Caio Soriano bate papo exclusivo com George Noronha e fala sobre função exercida na equipe, competição e mais.

Tudor Nazaré Big Wave Challenge 2025, Praia do Norte, Portugal

[media-credit name=”João Abraul” align=”alignnone” width=”2977″][/media-credit] Caio Soriano comemora vitória do Tudor Big Wave Challenge com equipe.

O Tudor Big Wave Challenge 2025, que rolou na última terça-feira (19) na Praia do Norte, em Nazaré, Portugal, foi mais um teste para a bravura de alguns dos melhores surfistas de ondas gigantes do planeta. Coroando os franceses Clement Roseyro e Justine Dupont na categoria Melhor Performance Masculina e Feminina, respectivamente, o evento mostrou que a modalidade continua em franca expansão.

A competição também comprovou que o Brasil se mantém como um dos principais protagonistas no big wave mundial tendo chegado ao evento defendendo as três categorias, conquistadas no ano de 2024, e saindo de Nazaré com honrosas segundas colocações nas três categorias disputadas: Lucas Chianca e Pedro Scooby, no individual masculino, e com Lucas Chianca e Michelle de Buillons, no feminino.

Mas, o que pouca gente percebeu foi que nos Times um brasileiro estava no topo do pódio, o alagoano Caio Soriano, spotter (observador) da equipe campeã, a Mountains of the Sea, formada por Nic von Rupp, Clement Roseyro, Antônio Cardoso e Caio Soriano. Foi dele a responsabilidade de colocar o Brasil no lugar mais alto do pódio.

Mas, quem é Caio Soriano? 

Caio Soriano nasceu em Alagoas e teve suas primeiras experiências nas ondas ainda criança através do bodyboarding. Após 17 anos morando no Amapá e tendo inclusive experiências na pororoca do Rio Araguari, retornou a Alagoas e passou a surfar de pranchinha nas ondas das bancadas de corais de Maceió com o parceiro de surfe João Mariano.

Como ele foi parar em Nazaré? 

Caio foi para Portugal em 2022 e nos primeiros três meses após sua chegada ficou sem surfar. Até o dia em que o proprietário do restaurante em que ele trabalhava comprou-lhe uma prancha e Caio passou a surfar na Costa da Caparica, próximo a Lisboa. Algum tempo depois foi para Peniche conhecer e surfar Supertubos. E foi aí que a chave virou.

“Fui surfar em Peniche e nem imaginava que o mar estava daquele tamanho. Devia ter 3 metros ou mais. Estava realmente grande. Eu estava de 6’2” e aquela experiência foi incrível. Senti uma energia muito intensa naquele dia. Logo depois falei com meu irmão, que também é surfista, o Felipe Soriano, e ele falou: ‘o próximo passo é Nazaré’. Eu pensei: ‘será? Nazaré?’. E alguns dias depois eu fui pra Nazaré passar 3 dias e acabei ficando 3 semanas. Um mês depois eu já estava morando em Nazaré”.

[media-credit id=6763 align=”alignnone” width=”696″][/media-credit] George Noronha e Caio Soriano durante festa dos campeões.

Ascenção meteórica

Segundo Caio, antes de morar em Portugal ele nunca teve experiência com ondas gigantes. Contudo, ele acredita que a sua experiência no motocross foi determinante para a sua rápida adaptação às particularidades da pilotagem de um jet ski no Tow-in.

“Eu nunca tinha pilotado um jet ski em ondas, nem tampouco tinha feito tow-in na vida. Mas, eu já havia sido piloto de motocross então já entendia um pouco de salto, torque, e acredito que o domínio da moto, a minha habilidade no motocross, foi o que fez com que minha adaptação ao jet fosse tão rápida. Há duas temporadas comecei a surfar ondas grandes na remada, mas esse ano foi quando peguei minhas maiores ondas. Na remada surfei ondas em torno de 30 pés (9 metros), mas no tow in eu já cheguei a dropar ondas de cerca de 15 metros”.

Dedicação é a receita. Para Caio o principal fator ao qual credita o sucesso atingido no Tudor Big Wave Challenge 2025 foi a dedicação dele e de toda a equipe.

“Eu me dedico muito. Foram muitas horas de treino, na água, no cliff… Nos preparamos para esse dia a temporada inteira. Muitas sessões, muito surfe… eu sou spotter da equipe, mas surfo com eles também. Então em dias de campeonato, ou quando o mar está gigante esse é o momento em que eu trabalho de spotter. Quando não, meu grande amigo de treino, Brian Pacheco, de Itacoatiara (Niterói, RJ), é quem faz o spotter quando eu estou na água junto com a equipe. E é para isso que estou aqui. Eu quero surfar, eu quero estar sempre com minha equipe, quero servir a minha equipe da melhor maneira e desfrutar de tudo o que essa experiência proporciona, boas ondas, muito conhecimento, aprendizado e principalmente, estando com os melhores. E isso é incrível. Estou muito feliz com tudo o que está acontecendo”.

“Eu sou muito grato ao Antônio Cardoso (driver e rescue) por ele ter me apresentado ao Nic (Von Rupp) e por eles terem me convidado para ser spotter da equipe Mountains of the Sea. Sem eles nada disto estaria acontecendo em minha vida. O tow-in é uma modalidade muito cara. Jet ski, combustível, pranchas, coletes infláveis etc, são todos equipamentos de alto custo, e sem a confiança deles em meu trabalho, nunca poderia estar envolvido nesse esporte e nem ter tido a oportunidade de fazer parte da equipe campeã. E o melhor é que eles valorizam muito o conhecimento do surfe, então costumo sempre surfar com eles também, como forma de aumentar a conexão entre a equipe e o mar”.

[media-credit name=”João Abraul” align=”alignnone” width=”696″][/media-credit] Comemoração da galera no pódio.

Mas, afinal, o que exatamente faz um spotter?

Para quem não sabe, o spotter é um componente primordial da equipe que fica fora d’água orientando o piloto do jet ski. Uma função das mais importantes quando o assunto são ondas que podem matar ou incapacitar uma pessoa para o resto de sua vida.

“O meu trabalho consiste em orientar o driver (piloto do jet ski). Exige muita responsabilidade porque além da situação de termos vidas em situação de alto risco, queremos ganhar. E para isso precisamos estar continuamente no limite, mas priorizando sempre, acima de qualquer coisa, a segurança dos que estão na água, sejam eles o atleta que está surfando, mas também o driver, que muitas vezes ninguém lembra, mas também está em uma situação de risco iminente.

Para desempenhar minha função, preciso estar em cima do cliff ou no Farol, de forma que eu possa estar em uma posição que consiga ver ao mesmo tempo o line up, as séries entrando, para que eu possa escolher a melhor onda, aquela que eu entenda que tem o maior potencial para ser tirado o melhor resultado possível pelo surfista naquelas condições. Escolher a onda que esteja mais limpa, com menos bump, porque aqui em Nazaré tem muitos bumps.

Direciono o piloto do jet, digo onde ele deve se dirigir, em que local deve estar, em que onda deve lançar o surfista. Se eu perceber que ele está indo para um lado que não está tão deep oriento para que posicione o surfista o mais deep possível, indo mais para Sul ou mais para Norte, por exemplo, e faço com que ele coloque o surfista na parte mais crítica da onda. Se o surfista cair eu aviso onde ele está, porque o piloto está atrás da onda e não tem como ver o surfista. Indico para onde o piloto tem que ir ou se ele deve esperar, porque tenho uma noção onde o surfista pode subir e o jet ski não pode passar da linha do surfista para que o resgate seja mais seguro e mais rápido possível.

Depois de tudo isso eu oriento o piloto a voltar ao outside, também da maneira mais rápida e segura possível para que a equipe possa tanto conquistar logo a prioridade. É basicamente esse o meu trabalho. Um trabalho que envolve muita responsabilidade, tensão e adrenalina”.

Como foi a sua atuação durante o evento? 

“As condições do mar estavam super difíceis, o que me deixou apreensivo, sobretudo no começo da competição, porque apesar de termos praticado muito, mas muito mesmo, nós não treinamos em nenhum swell de Oeste, não pegamos nenhum mar como aquele, naquela direção de ondulação. Foi um mar bem diferente e por conta disso a condição estava bem desafiadora. Mas, graças a Deus deu tudo certo e eu consegui achar as esquerdas, já que era o que estávamos treinando com mais constância. Tinham umas direitas muito bonitas vindo um pouco longe, mas não eram tão grandes. Então eu optei em focar no Pico 1, porque sei que lá sempre vêm os diamantes e como eu estava cronometrando o tempo de cada set, sabia que ali viriam as boas e felizmente deu certo”.

Como você está se sentido com essa conquista?

“Sinceramente, eu fico até sem palavras para traduzir tanta emoção. Sou muito grato a essa equipe que me dá tanto apoio e deposita em mim tanta confiança. Estou muito feliz, muito alegre. Nunca na minha vida imaginei que poderia um dia estar competindo em um evento da WSL, em uma equipe tão incrível como a Mountains of the Sea. E ganhar não uma, mas duas categorias, a Melhor Performance Individual e Melhor Time, é demais. Nem nos meus mais fantásticos sonhos eu poderia pensar em conquistar algo assim tão grande. Para mim é uma honra merecer a confiança dessa equipe que nasceu agora e já é campeã”.

 

 

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