TROTE NO SAMBA

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O “primeiro samba gravado no Brasil” – Pelo Telefone –, não é o primeiro, mas o nono, décimo, por aí. Tornou-se o “primeirão” por conta de ter sido o “marco zero” dos encointrados nos registros da Biblioteca Nacional,  no Rio de Janeiro.

De acordo com Cartola (Agenor de Oliveira), com quem conversei, em 1975, os primeiros sambões brazucas foram gravados em 1904, mas nenhum agradou ao povão. Daí que só rolou empatia com a rapaziada a partir de 1917,  data de gravação de Pelo Telefone.

No meu papo com ele, contou-me que a moçada se reunia pra fazer rodas de samba na carioca Praça 11, no quintal da casa da ialorixá (umbandista) baiana Tia Ciata (Hilária Batista de Almeida) – entre eles, Sinhô, João da Baiana, Hilário Ferreira, Pixinguinha e Caninha – e foi por ali que nasceu Pelo Telefone, que ninguém o registrou, até o malandro Donga (Ernesto Joaquim Maria dos Santos) tomar a iniciativa, em 1916, por entender que “música e de quem pegar primeiro”.

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Donga

De acordo com um outro entrevistado meu, o pesquisador Ricardo Cravo Albim, o registrante Donga anexou ao pedido de registro de Pelo Telefone partitura para piano assinada por Pixinguinha, e explicou ter a letra saído de observações do jornal carioca A Noite, de que a polícia “não tava nem aí” pra jogo proibido. “O sucesso do samba tornou-o, mais tarde, o gênero musical de maior popularidade no Brasil”, afirmou ele que citou entre os sambas mais antigo “Em Casa de Baiana”, de 1913, e A Viola Está Magoda, de 1914.

Um outro pesquisador que entrevistei, Sérgio Cabral, contou que, mesmo com o sucesso de  Pelo Telefone, os sambista não conseguiam reconhecimento econômico, financeiro e nem de autoria. Por conta daquilo, passaram a vender músicas para intérpretes famosos que, vira-e-mexe,  sumiam com os originais das autorias. Um dos compositores que procurei pra saber disso, Antônio Manoel Barroso, confirmou e disse: “Vendi muito samba. Inclusive, muita samba que vendi vi, depois, cantado como Bossa Nova”.  

Um outro sambão que, até hoje, gera discussões é Urubu Malandro, de 1914 e que, mais tarde, trocou de plumagem e virou um Gavião Malvado. Registrado por Pixinginha, em 1923, na Argentina, no entanto, Sérgio Cabral preferia a pesquisaa do  compositor/radialista Almirante (Henrique Foréis Domingues), de que, bem antes de Pixinguinha, o clarinestista Louro (Lourival de Carvalho) oluvira a música tocada por sanfoniro de rua. Já o livro Panorama da Música Popular Brasileira apresenta a versão de  canção  folclórica do município de Campos-RJ e dali espalhada pelo também clarinestista Malaquias, um dos primeiros a gravar no Rio de Janeiro.  Temps depois, quando a regravou “Urubu Malandro” como “Urubu e o Gavião”, Pixinguinha contou com os violões de Rogério Guimarães e João Frazão, e o cavalquinho de Nelson Alves, segundo todos os livros sobre o tema.

Enfim, seja como tenha sido, para Mário de Andrade, um dos fundadores do modernismo na literatura brasileira e pioneiro no campo combinação de métodos e teorias da antropologia e da musicologia, temos uma das excelências da discoteca brasileira – com urubu ou gavião!

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