Fintechs usavam dinheiro do PCC para comprar imóveis, diz MP; saiba como era o esquema

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O Ministério Público de São Paulo afirmou à Justiça que o PCC (Primeiro Comando da Capital) usa duas fintechs (empresas novatas que utilizam tecnologia para prestar serviços financeiros) para lavar dinheiro.

Uma operação nesta terça-feira (25) prendeu um policial civil apontado como dono de uma dessas instituições.

No pedido de prisão, o MP apontou que, por meio de uma intricada rede de empresas de fachada e transações financeiras, integrantes do PCC repassaram dinheiro à 2GO e à INVBank. As instituições ainda não se manifestaram.

O objetivo final era investir na compra de imóveis para lavar o dinheiro. O Ministério Público aponta que, como imobiliárias e construtoras exigem que a negociação seja feita por transação bancária, as fintechs depositavam os valores vindos do PCC em contas de laranjas. Só então o dinheiro era usado para a aquisição de imóveis, dando ao negócio um verniz de legalidade.

O CAMINHO DO DINHEIRO, SEGUNDO O MP

PCC: mandava dinheiro para 2GO e INVBank por meio de empresas de fachada
2GO e INVBank: depositavam o dinheiro do PCC em contas de laranjas

Imóveis: o dinheiro então era usado para comprar imóveis, dando verniz de legalidade

“As referidas fintechs direcionavam os depósitos que recebiam para contas de ‘laranjas’, mantendo pleno controle de tais contas. Apenas posteriormente eram formalizados os negócios jurídicos de compra e venda, dificultando a fiscalização de órgãos estatais, como o Banco Central e a Receita Federal”, apontam os promotores.

A investigação teve início a partir do acordo de delação premiada de Antônio Vinicius Lopes Gritzbach -assassinado com tiros de fuzil no Aeroporto Internacional de Guarulhos em novembro do ano passado- com o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).

O delator trabalhava com compra e venda de imóveis, o que, segundo o MP, facilitava todo o esquema.

“A atuação profissional de Gritzbach como corretor de imóveis permitiu que conhecesse alguns dos principais integrantes da referida organização criminosa, de modo que passou a atuar em favor de seus interesses espúrios do grupo, incumbindo-se especialmente de empregar métodos de ocultação de patrimônio”, aponta o documento.

Apenas a 2GO teria lavado cerca de R$ 6 bilhões, movimentando dinheiro no Brasil, nos Estados Unidos, no Paraguai, no Peru, na Holanda, na Argentina, na Bolívia, no Canadá, no Panamá, na Colômbia, na Inglaterra, na Itália, na Turquia, em Dubai e, sobretudo, em Hong Kong e na China.

Já a Invbank teria recebido R$ 11 milhões de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, apontado em várias investigações como liderança do PCC. Em sua delação, Gritzbach apresentou documentos mostrando que Cara Preta era sócio oculto da Invbank: ele tinha uma sociedade com a fintech destinada investir especificamente em imóveis, uma maneira de ocultar a origem do seu dinheiro.

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