Integrante do PCC repassou R$ 11 milhões a fintech investigada, aponta Promotoria

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TULIO KRUSE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, enviou um total de R$ 11 milhões à fintech Invbank, empresa que nesta terça-feira (25) foi alvo da Operação Hydra, deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo e a Polícia Federal.

Cara Preta é apontado como liderança da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em várias investigações, e as transações financeiras, segundo promotores, tinham como objetivo ocultar a origem ilegal do dinheiro proveniente do tráfico de drogas. A informação está numa representação à Justiça feita pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), da Promotoria.

A investigação teve início a partir da delação premiada do delator Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, que foi assassinato no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, em novembro do ano passado.

Cara Preta foi morto a tiros em 2021, e Gritzbach era suspeito de ser o mandante do crime, o que ele negava.

O montante foi descoberto pelos promotores do Gaeco ao analisar parte das maiores transações financeiras realizadas pela Invbank.

“Verificou-se quais as pessoas mais transacionaram em valores monetários, sendo de extremo relevo salientar uma delas e o valor que lhe corresponde”, diz trecho do documento. “Trata-se de Anselmo Becheli Santa Fausta, o ‘Cara Preta’, membro do PCC, que enviou R$ 11 milhões!”

Em sua delação premiada, Gritzbach afirmou que Cara Preta era sócio oculto do Invbank. Ele apresentou ao Gaeco documentos mostrando que o traficante tinha um “Instrumento Particular de Constituição de Sociedade”, em que a Invbank aparece como sócia ostensiva e uma empresa de propriedade de Cara Preta, a Becheli Administração de Bens Próprios Ltda., é a sócia participante.

Outra fintech apontada como instrumento do PCC para lavagem de dinheiro é 2GO Bank. O dono da 2GO é o policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior, preso pela segunda vez nesta terça. Ele já havia sido preso em novembro do ano passado durante uma operação da PF, sendo solto em dezembro.

Elia Júnior estava afastado de suas funções na Polícia Civil no momento da prisão, e foi alvo de um procedimento contra ele aberto na Corregedoria da corporação. As instituições ainda não se manifestaram.

“Tais empresas, objetos da medida cautelar ora pleiteada, movimentaram recursos da organização criminosa ‘PCC’, dissimulando sua origem ilícita por meio da compra de imóveis”, dizem os promotores.

“Tanto a 2GO como a INVBANK foram assim utilizadas para receberem valores em espécie e, depois, movimentá-los e alocá-los, fornecendo-lhes falsa aparência de licitude, em benefício do Primeiro Comando Capital.”

No pedido de prisão, a Promotoria apontou que, por meio de uma intricada rede de empresas de fachada e transações financeiras, integrantes do PCC repassaram dinheiro à 2GO e à Invbank.

O objetivo final era investir na compra de imóveis para lavar o dinheiro. O Ministério Público aponta que, como imobiliárias e construtoras exigem que a negociação seja feita por transação bancária, as fintechs depositavam os valores vindos do PCC em contas de laranjas. Só então o dinheiro era usado para a aquisição de imóveis, dando ao negócio um verniz de legalidade.

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