França inicia maior julgamento por abuso infantil da história

O ex-cirurgião francês Joël Le Scouarnec, de 74 anos, começou a ser julgado nesta segunda-feira, 24, no maior caso de abuso infantil da história do país. Ele é acusado de ter abusado sexualmente de 299 vítimas ao longo de 25 anos em 10 hospitais e clínicas. Os crimes teriam ocorrido entre 1986 e 2014, atingindo pacientes com idades entre dois anos e início da vida adulta.

Le Scouarnec já cumpre uma pena de 15 anos de prisão por uma condenação anterior, ocorrida em 2020, quando foi considerado culpado por abuso de suas sobrinhas e da filha de um vizinho. Antes disso, ele já havia sido condenado em 2005 por posse de imagens de abuso infantil, após uma denúncia do FBI. Apesar disso, continuou exercendo a medicina por anos, sem que as autoridades tomassem medidas efetivas para impedir seus crimes.

As investigações revelaram que o ex-cirurgião utilizava sua posição de médico para abusar de pacientes durante consultas e procedimentos cirúrgicos. Ele registrava seus crimes em diários detalhados, nos quais anotava nomes, locais, horários e descrições das agressões. De acordo com os promotores, esses registros indicam que os abusos ocorreram de forma sistemática por décadas.

Além dos diários, buscas em sua casa revelaram cerca de 70 bonecas de tamanho infantil, que ele vestia e nomeava. Os investigadores acreditam que Le Scouarnec “compartilhava sua vida diária” com esses objetos, reforçando a gravidade do caso. Em depoimentos, ex-colegas afirmaram que chegaram a denunciar sua conduta, mas que nenhuma ação concreta foi tomada para afastá-lo da profissão.

O julgamento ganhou grande atenção pública na França e ocorre semanas após outro caso de estupro em massa que chocou o país. Advogados das vítimas esperam que o processo traga mudanças na forma como as instituições lidam com denúncias de abuso infantil. Para Francesca Satta, advogada de algumas vítimas, este julgamento representa “uma tentativa de transferir a vergonha do abuso para os verdadeiros culpados”.

Embora a acusação reúna quase 300 vítimas, cerca de 80 pessoas ficaram fora do processo devido ao prazo de prescrição de 30 anos previsto na legislação francesa. Isso significa que, mesmo com evidências, essas vítimas não poderão obter justiça formalmente. A limitação do tempo para denúncias tem sido criticada por ativistas e especialistas em proteção à infância, que defendem uma mudança na lei para casos de crimes sexuais contra menores.

Durante as audiências, promotores apresentarão provas baseadas nos diários e nos depoimentos das vítimas. Os advogados de Le Scouarnec argumentam que os escritos refletem fantasias e não eventos reais, tentando minimizar as acusações. No entanto, as evidências encontradas pelos investigadores reforçam a tese de que os crimes foram sistemáticos e ocorreram ao longo de sua carreira médica.

O julgamento deve durar quatro meses e poderá estabelecer um novo marco na luta contra o abuso infantil na França. Além da condenação de Le Scouarnec, o caso também levanta questões sobre falhas institucionais que permitiram que ele continuasse a exercer a medicina mesmo após alertas de colegas e condenações anteriores. O desfecho do julgamento pode influenciar futuras reformas nas leis de proteção infantil no país.

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