Opinião | Inovação e inclusão

“A inovação no Brasil não é um instrumento de emancipação, mas um mecanismo de aprofundamento das diferenças.”

Milton Santos (geógrafo)

Inovação está na moda, na crista da onda, pegou! Assim como o empreendedorismo; todos querem empreender, inclusive individualmente, ser uma empresa de uma pessoa só. Mas o que significa inovar, empreender? Será que o objetivo é apenas ganhar dinheiro, enriquecer, ter sucesso material e ser reconhecido e aplaudido? Ou tem a ver com nosso sentimento de cooperação, colaboração, comunidade, construção coletiva? Participar e presenciar projetos de alto impacto positivo na cidade, na vida real das pessoas, nos faz bem, ajuda a ter uma perspectiva de futuro e dá um propósito para nossas vidas, muito maior do que bens materiais. 

Participar do Ecossistema Local de Inovação e dedicar tempo e energia para compreender nossa realidade, melhorá-la para todos e com todos, buscando caminhos para uma economia e vida coletiva mais efetiva, eficiente, sustentável, inclusiva, democrática e equilibrada, é um grande desafio e realização pessoal e profissional, além de um estimulante processo de aprendizagem. Conhecer pessoas que respeitam o contraditório e a divergência, que acreditam que a diversidade nos faz mais fortes, que a democracia é um valor essencial, mas principalmente que têm a inteligência e sensibilidade para perceber que tudo isso só faz sentido se for para diminuir e resolver um dos nossos maiores problemas, a desigualdade, que nos assombra desde sempre e persiste de forma inexplicável e intolerável.

A realidade é essa, temos um enorme potencial local e no Brasil, mas ainda estamos entre os países mais desiguais e concentradores de renda do mundo. O 1% mais rico concentra quase 30% da renda e 50% da riqueza total do país;  estamos entre os piores do mundo também no índice de Gini, que mede a desigualdade.. Além disso, o Banco Mundial classifica o Brasil entre os dez países mais desiguais do mundo. 

Não existe e não existirá inovação e empreendedorismo, muito menos caminho sustentável para o Brasil, sem que este problema que afeta milhões, seja resolvido. Então, inovação e inclusão são irmãs gêmeas, uma não existe no Brasil sem a outra, deve fazer parte de nossos pensamentos, debates, planejamentos, ações, projetos, metas e resultados. Precisamos mudar nosso modelo mental, modelo de negócios, políticas públicas e comportamento cotidiano, desenvolver a capacidade de construir soluções inovadoras para as empresas, cadeias produtivas, meio ambiente, cidades, governos, mas também para as pessoas excluídas, as comunidades, as favelas, empregos de baixa qualidade, informalidade, moradores de rua e os milhões que apenas sobrevivem no Brasil, sem acesso a nada, sem mobilidade social, sem esperança e perspectiva. Não há Brasil sem um NOVO PROJETO DE NAÇÃO capaz de incluir efetivamente este ⅓ da população que vive abaixo da linha da pobreza, com soluções sustentáveis, não apenas de transferência de renda, mas oportunidades na educação, empregos melhores com a reindustrialização e desenvolvimento tecnológico, soberania nacional e ampliação das exportações, relação pragmática com todos os países, inclusive com a China, a Ásia, os BRICS, que são os que mais inovam e se desenvolvem com inclusão.

Está em nossas mãos superar as divergências, a ideologia, a polarização, o passado escravocrata e a estrutura concentradora de renda e riqueza para realmente inovar, construir um novo caminho para o Brasil e brasileiros, dentro do nacional desenvolvimentismo, respeitando as regras do comércio internacional, fortalecendo nossas cadeias produtivas, agregando valor e tecnologia, formando parcerias entre governos, empresários, universidade e comunidades, tendo a educação e a cultura como norteadores. Precisamos e merecemos a construção de um novo projeto de sociedade, diferente do que sempre tivemos até aqui nestes 5 séculos.

Christian Krambeck, Arquiteto e Urbanista, empresário e professor de Arquitetura e Urbanismo FURB

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