Partidos da Áustria isolam a ultradireita, mais votada, e formam nova coalizão

os presidentes do spo, andreas babler, do ovp, christian stocker, e dos neos, beate meinl reisinger, apresentam o programa de coalizão de suas siglas no parlamento da Áustria, em viena

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A mais longa espera para formar um novo governo na Áustria desde a Segunda Guerra Mundial pode ter acabado nesta quinta-feira (27), quando o Partido Popular Conservador (OVP) anunciou ter chegado a um acordo com os Social-Democratas (SPO) e os progressistas do Neos para governar sem a ultradireita.

“Nos últimos dias, buscamos sem descanso um programa comum”, declarou em um comunicado o líder do OVP, Christan Stocker, após quase cinco meses de negociações. De acordo com o documento, os ministérios da Defesa e do Interior ficariam com o OVP; o de Finanças, com o SPO; e os de Educação e Relações Exteriores, com os Neos.

As expectativas para a possível posse, na próxima semana, são altas após uma primeira tentativa de formar uma coalizão com os mesmos três partidos fracassar em janeiro. Ainda há obstáculos para o novo governo se concretizar, no entanto.

Os partidos precisam aprovar o acordo, e há dúvidas sobre como os membros do Neos votarão no próximo domingo (2) -é necessário que se forme uma maioria de dois terços. Caso a negociação seja aprovada, será o primeiro governo formado por três partidos na Áustria desde o final da década de 1940.

O grupo não inclui o mais votado no pleito, o ultradireitista Partido da Liberdade (FPO, na sigla em alemão). Eurocética e simpática à Rússia, a sigla obteve 29% dos votos em setembro, mas fracassou ao tentar um acordo com os conservadores para formar o governo.

Após o colapso das negociações do FPO, o OVP retomou as conversas com os outros dois partidos de centro. Os conservadores, à frente do país de 9 milhões de habitantes desde 1987, já haviam formado governo com o SPO em várias ocasiões.

A espera fez o presidente austríaco, Alexander Van der Bellen, pedir aos líderes dos partidos que alcançassem rapidamente um acordo, uma vez que o país estava sem governo pelo período mais longo de sua história recente.

Para o líder do FPO, Herbert Kickl, a aliança é uma “coalizão de perdedores” e uma eleição antecipada deveria ser convocada -o que, segundo pesquisas de opinião, beneficiaria ainda mais o seu partido.

A sigla ultradireitista frequentemente compara o esforço do centro com a situação da vizinha Alemanha.

No final do ano passado, a coalizão de três partidos liderada pelo social-democrata Olaf Scholz, integrada também pelos Verdes e pelo Partido Democrático Livre (FDP, na sigla em alemão), ruiu.

Na sessão em que perdeu o voto de confiança, o primeiro-ministro reconheceu que unir “três partidos muito diferentes ” não era tarefa fácil. Segundo a imprensa alemã, o FDP planejou a implosão da coalizão com semanas de antecedência.

A Alemanha serve de espelho também em relação à ascensão da ultradireita. Embora não tenham conseguido o feito do FPO na Áustria, os extremistas da Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) foram o segundo partido mais votado, atrás apenas dos conservadores da União Democrata-Cristã (CDU).

Foi o melhor resultado da extrema direita em 90 anos no país -ou desde a era nazista, que arrastou a Alemanha para a Segunda Guerra Mundial. Com o dobro de votos do pleito de 2021, a performance confirmou a onda de populismo observada em diversos países da União Europeia, como a própria Áustria.

“A primeira mensagem deste governo é: ‘Nós não somos Herbert Kickl, nós impedimos Herbert Kickl” de se tornar primeiro-ministro, diz o analista político Thomas Hofer. “Isso já é alguma coisa, mas não é uma narrativa voltada para o futuro,” afirma, acrescentando que provavelmente precisarão produzir mais do que o programa apresentado para sobreviver aos cinco anos de Parlamento.

A coalizão estará sob pressão para apresentar resultados, incluindo a redução do déficit orçamentário.

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