Guerra da Ucrânia perto do fim? O que cada lado e os EUA querem para acordo

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Rússia e Ucrânia negociam, com a mediação dos EUA, um fim à guerra de três anos entre os dois países.

QUAL O PREÇO DO ACORDO DE PAZ PARA TRUMP?

Trump quer direitos de exploração às reservas de minérios ucranianos como “reembolso” pelos recursos enviados ao país durante o conflito. A Ucrânia é dona de 5% de todas as reservas dos minérios de terras raras do mundo, segundo a ONU. Entre os produtos do solo ucraniano estão o lítio, essencial para a produção de baterias especialmente de carros elétricos, e o cobre, indispensável para a fabricação de chips de inteligência artificial.

80% dos minerais de terras raras usados na indústria americana vêm da China, maior detentor destes minérios da atualidade. A exploração dos solos ucranianos permitiria a Washington uma menor dependência do mercado chinês. Além disso, os produtos americanos feitos destes minérios poderiam ser competitivos em relação aos chineses no mercado. Este é o mesmo motivo pelo qual Trump quer a Groenlândia.

Trump deu poderes aos empresários das “big techs” à frente de iniciativas do governo federal. É o caso de Elon Musk (da Tesla, Starlink e SpaceX) e Sam Altman (OpenAI/ChatGPT). Ele entende que investir no setor de tecnologia garantiria monopólios comerciais e também importante influência geopolítica aos EUA. Além disso, é provável que Trump esteja garantindo que os EUA também sejam competitivos no mercado “verde”, já que a demanda por minerais de terras raras deve triplicar até 2030 para produção de energia limpa, segundo a ONU, mesmo investindo atualmente no petróleo.

Americano já advertiu que paz virá “agora ou nunca”. Após chamar o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, de “ditador”, Trump tem pressionado para um acordo entre os países e já deixou claro que não financiará mais a operação militar ucraniana sem uma contrapartida. No entanto, ele colocou um preço na paz definitiva da Ucrânia: em entrevista, Trump disse querer US$ 500 bilhões (R$ 2,9 trilhões) de Kiev por este apoio, quatro vezes o valor dado por Washington até agora, de US$ 120 bilhões (R$ 700 bi), segundo o Instituto Kiel para a Economia Mundial.

POR QUE ZELENSKI ACEITARIA UM ACORDO COM TRUMP E PUTIN?

Russos têm feito avanços na região de Donetsk. A Ucrânia não tem conseguido conter as tropas russas, que já tomaram diversas cidades da área há mais de um ano e vêm bombardeando áreas de fornecimento de gás e energia em pleno inverno, com temperaturas abaixo de zero.

País está desgastado após anos de conflito e já não conta com a carta-branca financeira dos EUA, o que pode indicar a perda de outros territórios no futuro. Além disso, Zelensky pode ter sua legitimidade como líder questionada internacionalmente em breve, algo que o próprio Trump já fez, por governar nove meses após o fim do mandato -Uma exceção permitida pela legislação ucraniana por causa do estado de guerra.

Zelensky rejeitou a oferta inicial de Trump. O presidente dos EUA o chamou de “ditador” depois que o europeu disse que “a Ucrânia não estava à venda”. No entanto, ele garantiu querer um fim para a guerra em 2025. Ambos baixaram o tom em seguida; Trump e Zelensky devem se encontrar para discutir novos termos do acordo hoje.

Ucraniano pode estar de olho na entrada na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Fazer parte da aliança militar, que inclui os EUA e a Europa Ocidental, seria uma garantia de paz mais duradoura, já que qualquer agressão futura da Rússia significaria uma declaração de guerra a todos os países-membros. Até o momento, Trump descartou a entrada da Ucrânia na Otan.

Por que estamos na Otan? Porque temos medo da Rússia. A única coisa que realmente funciona, a única garantia de segurança que funciona, é o guarda-chuva da Otan. Chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, à AFP.

E O QUE QUER PUTIN?

Presidente não quer devolver territórios conquistados. Ele também já ofereceu a Trump que explore os minérios das terras ucranianas atualmente sob controle russo. Atualmente, cerca de 20% da Ucrânia está ocupada pelas tropas de Putin, incluindo Zaporizhzhya, onde está a maior usina nuclear da Europa.

Moscou também exige que a Ucrânia não entre na Otan. Putin já mencionou diversas vezes desde o início do conflito que, quando a aliança foi criada em 1949, os EUA prometeram nunca avançar para próximo das fronteiras da ex-URSS. O acordo nunca foi oficializado por escrito, e a Ucrânia se tornou candidata em 2018, mas negociações nunca avançaram com a oposição dos países europeus, que temiam as tensões entre russos e ucranianos.

Putin também não quer tropas europeias em seu território. Ou seja, as forças de paz europeias sugeridas pelo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, estão fora de cogitação para o russo. Os EUA então sugeriram o envio de tropas do Brasil e da China para uma “zona tampão” entre os dois países, segundo a revista The Economist. Ainda não se sabe como a ideia foi recebida.

Starmer teme que acordo “recompense o agressor”. Os europeus veem com desconfiança a articulação americana, apesar de apoiarem a agenda de paz. O Reino Unido já se comprometeu a seguir enviando recursos para a Ucrânia, caso a guerra continue. No entanto, o Secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, afirmou que a Ucrânia deve abandonar esperanças de recuperar todo o seu território, sinalizando sintonia entre Trump e Putin nas negociações. O americano garante que o russo “vem se comportando muito bem”.

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