Reféns libertados de Gaza descobrem vidas destruídas pelo Hamas

hamas

Após ser mantido em cativeiro por 484 dia em Gaza, Keith Siegel tinha muitas perguntas. Sua mãe de 97 anos ainda estava viva? Quais de seus vizinhos haviam sido mortos no ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023? Por que demoraram tanto para libertá-lo?

Com acesso limitado à mídia, o cidadão americano e israelense só soube meses depois de capturado que seu filho havia sobrevivido ao ataque que deu início à guerra em Gaza. Ele ouviu dizer que sua família e outras pessoas estavam lutando pela liberdade dos reféns. Mas, para além disso, ele sabia muito pouco sobre a vida fora de seu confinamento em Gaza.

“Ele realmente queria saber tudo o mais rápido possível, apenas para colocar todos os pontos de interrogação de lado e saber o que aconteceu”, conta sua filha, Elan Siegel.

Reféns libertados como parte de um frágil acordo de cessar-fogo em Gaza estão enfrentando uma enxurrada de informações sobre seus entes queridos e comunidades destruídas , e ainda estão encontrando seu lugar em um mundo transformado. As famílias estão tentando descobrir como contar a eles o que aconteceu, sem potencialmente agravar o trauma.

Especialistas dizem que é importante ter cautela.

“A informação é definitivamente traumática, então você tem que ser muito sensível, ter cuidado e monitorar o ritmo de exposição à informação”, recomenda Einat Yehene, que chefia o setor de reabilitação do Hostages and Missing Families Forum (Fórum de Famílias de Reféns e Desaparecidos).

Exibidos pelo Hamas e destruídos pela realidade

Para muitos prisioneiros libertados, recuperar o atraso tem sido uma tarefa sofrida.

Eli Sharabi , de 52 anos, não teve contato com a mídia durante seus 16 meses em cativeiro, segundo seu irmão, Sharon Sharabi.

Obrigado a se pronunciar em uma cerimônia encenada pelo Hamas antes de sua libertação , Sharabi, muito magro, disse a uma multidão de militantes mascarados e jornalistas que estava ansioso para ver sua esposa e duas filhas adolescentes em Israel

Ele descobriu então a realidade arrasadora logo após sua chegada: todas as três haviam sido mortas em casa durante o ataque de 7 de outubro.

“Além do fardo emocional e das experiências difíceis que enfrentou no cativeiro, ele teve que suportar essa perda horrível no primeiro dia em que saiu de lá”, disse seu irmão à Rádio do Exército Israelense.

Or Levy, de 34 anos, recebeu um golpe semelhante ao ser libertado. Foi quando descobriu que sua esposa, Einav, havia sido morta em 7 de outubro.

“Por 491 dias, ele manteve a esperança de que voltaria a vê-la”, disse aos repórteres seu irmão, Michael Levy.

Levy se reencontrou com seu filho pequeno, que atingiu marcos importantes no desenvolvimento, como o desfralde, enquanto seu pai estava em cativeiro. “Demorou muito para você voltar”, disse o menino de 3 anos ao pai, segundo a mídia israelense.

Enfrentando a incerteza mesmo depois de ser libertado

A primeira pessoa sobre quem Keith Siegel perguntou ao voltar para casa foi sua mãe, Gladys. Quando os olhos de sua esposa se encheram de lágrimas, ele imediatamente entendeu que ela havia morrido, lembra sua filha.

Siegel obteve algumas informações sobre sua família enquanto estava em cativeiro. Meses após o início da guerra, ele ouviu sua filha no rádio falando sobre como o irmão havia sobrevivido ao ataque do Hamas. Outros reféns libertados também relataram ter ouvido mensagens de suas famílias na imprensa.

Yarden Bibas, libertado no início deste mês, foi informado por seus sequestradores que sua esposa, Shiri, e seus dois filhos pequenos, Ariel e Kfir, haviam sido mortos. Mas também lhe disseram que eles haviam sido vistos em Tel Aviv, segundo a imprensa israelense.

Agora, liberto, ainda não tem certeza. Eles permanecem em Gaza, e o governo israelense disse estar “seriamente preocupado” com suas vidas.

Uma necessidade implacável de mais informações

Para além de suas vidas pessoais, os reféns libertados também estão se atualizando de mais de um ano de eventos mundiais: o presidente Donald Trump está de volta à Casa Branca; Israel e Irã realizaram seus primeiros ataques diretos; Israel matou o antigo chefe do grupo militante Hezbollah, Hassan Nasrallah.

A família de Keith Siegel está compartilhando informações com parcimônia, como faria com uma criança. “Respondemos apenas o que ele pergunta, e nada mais do que isso”, conta sua filha, Elan.

Mas as perguntas são insistentes.

Siegel queria saber o que aconteceu com sua comunidade de Kfar Aza. Alguém estava regando as plantas? Quem foi morto no ataque do Hamas?

“Perguntamos se ele tinha certeza de que estava pronto. E ele disse que ‘sim’, que só queria saber. Então li para ele a lista de 64 pessoas” que foram mortas, conta sua filha. Ela diz que a reação dele à notícia foi contida, porque “é quase como se ele tivesse esquecido como sentir” enquanto estava em cativeiro.

A foto de Siegel tem sido destaque em protestos e em faixas enfatizando a situação dos reféns, tornando seu rosto famoso em Israel. Antes de sua libertação, dezenas de israelenses postaram vídeos nas redes sociais preparando sua receita favorita de panqueca.

A esposa de Siegel, Aviva, que foi libertada do cativeiro nas primeiras semanas da guerra, preparou um livro para ele que inclui recados de figuras importantes com quem ela fez lobby em seu nome – do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu ao ex-presidente dos EUA, Joe Biden.

Siegel ficou especialmente confuso com a informação de que os líderes mundiais sabiam sobre seu sequestro.

Sua filha, Elan, lembra-se dele dizendo: “Se eles sabiam, como é possível que eu tenha ficado lá por tanto tempo?”

Estadão Conteúdo

Adicionar aos favoritos o Link permanente.