Com ‘Ainda Estou Aqui’ na briga, Oscar vive temporada sem grandes favoritos


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O próximo Oscar pode não ter um filme favorito, como nas últimas edições, mas os brasileiros certamente já têm o seu. “Ainda Estou Aqui” consagra o cinema nacional na premiação mais importante de Hollywood com três indicações históricas, uma delas inédita, de melhor filme. O longa de Walter Salles concorre também aos troféus de filme internacional e de atriz, com Fernanda Torres.

O clima é de Copa do Mundo. O Brasil, que nunca levou um Oscar, pode finalmente sair vitorioso desta 97ª edição, exibida na noite deste domingo, dia 2, na Max e no TNT.

A expectativa é grande especialmente pelo troféu de filme internacional, pelo qual o país já bateu na trave quatro vezes. O último a disputar foi “Central do Brasil”, em 1999, outro longa de Walter Salles, que rendeu também uma indicação ao troféu de atriz a Fernanda Montenegro. Ela perdeu, e a ferida nunca cicatrizou.

Torres, sua filha, agora tem chances maiores. Ela é avaliada por um grupo de votantes com gente de vários países. Em 2020 a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas cedeu à pressão por diversidade e anunciou a inclusão de mais integrantes que fugiam do perfil dominante, formado por homens brancos mais velhos e heterossexuais.

Mas este ainda é um Oscar marcado por incertezas. Na categoria de melhor filme, que indicou dez produções, o favoritismo vem oscilando entre “O Brutalista” e “Anora”, que cresceu na disputa depois de triunfar em premiações consideradas importantes termômetros para o Oscar, como o SAG e o Critics Choice Awards.

Outra boa aposta é “Conclave”, indicado a oito categorias, que narra a escolha de um novo papa. Perderam fôlego, assim, “A Substância”, um filme de terror, gênero historicamente rejeitado pelo Oscar, além de “Wicked” e “Duna: Parte 2”, porque a Academia não costuma laurear filmes pipocas.

“Emilia Pérez” até ensaiava fisgar o troféu principal da noite, mas tudo deu errado quando o filme se afundou em polêmicas. O longa do francês Jacques Audiard, que concorre a 13 estatuetas, foi o mais indicado desta edição, mas despertou a ira do público latino, que acusa o filme de fazer uma caricatura do México. Na história, uma chefona do tráfico decide transicionar de gênero e abandonar o crime.

O diretor admitiu saber pouco sobre a cultura mexicana. Para piorar, o elenco não tem artistas latinos entre as protagonistas, com a tríade principal formada por uma espanhola, Karla Sofía Gascón, e as americanas Zoe Saldaña e Selena Gomez. Gascón, aliás, é a primeira mulher trans a concorrer ao prêmio de melhor atriz.

Mas sua festa durou pouco. Em entrevista à Folha em janeiro, Gascón acusou a equipe de Fernanda Torres de colaborar com os comentários de ódio que vinha recebendo nas redes sociais, onde torcidas rivalizavam as duas, que disputam a estatueta de melhor atriz.

A resposta da espanhola irritou os brasileiros, repercutiu internacionalmente, e em menos de um dia foram ressuscitadas postagens antigas da atriz com comentários contra muçulmanos, dúvidas sobre a eficácia de vacinas e críticas aos defensores de George Floyd. Ela deu entrevistas às lágrimas para se desculpar, e desde então sumiu da campanha de divulgação do filme.

Mesmo com a novela, algumas previsões de veículos especializados ainda indicam a possível vitória do longa na categoria de filme internacional -mas a maioria aposta é em “Ainda Estou Aqui”.

O filme brasileiro foi impulsionado por Torres com suas participações em programas de auditório dos Estados Unidos. Ela também foi capa de importantes veículos americanos, caso do The Hollywood Reporter, que afirmou que a brasileira já é uma vencedora mesmo sem a estatueta.

Seu páreo é com Mikey Madison, que aumentou suas chances após levar prêmios menores nas últimas semanas, e com Demi Moore, até então tida como a favorita por sua performance em “A Substância”.

O filme ameaça ganhar também o prêmio de roteiro original, numa disputa com “Anora” e “O Brutalista”. “Conclave”, o filme dos papas, é o favorito em roteiro adaptado.

O protagonista de “O Brutalista”, Adrien Brody, tem em Timothée Chalamet, Bob Dylan em “Um Completo Desconhecido”, seu principal rival para o Oscar de melhor ator. Kieran Culkin é o mais forte na corrida de ator coadjuvante por “A Verdadeira Dor”. No caso de atriz coadjuvante, a briga fica entre Zoe Saldaña, de “Emilia Pérez”. Ariana Grande, uma bruxa desastrada em “Wicked”, e Isabella Rossellini, que faz uma freira em “Conclave”.

“Wicked”, aliás, domina as indicações nas categorias técnicas, como figurino, maquiagem e som. Em montagem, o musical, adaptado de uma peça de teatro, concorre com “O Brutalista”, que causou polêmica por usar ferramentas de inteligência artificial para melhorar as falas em húngaro ditas por atores americanos.

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