A pequena Isabela Rosa Soares, de 6 anos, foi preparada para encarar a chuva que caía na Avenida Maria da Glória, a Gogóia (nome dado à Rua Andrade Neves, centro de Rio Pardo), na noite de sábado, 1º. No momento em que começou a garoar, protegeu-se com uma capa para acompanhar o tão aguardado desfile das escolas de samba.

Foi com a mesma idade que a sua mãe, a advogada Valquíria Soares Rosa, 46 anos, passou a frequentar o Carnaval da Cidade Histórica. Apesar do mau tempo, saíram de casa, no Bairro Auxiliadora, para juntar-se aos foliões. “Não podíamos ficar em casa e perder a chance de assistir ao desfile. E a alegria do povo é contagiante. Por isso é considerado o melhor Carnaval da região”, afirmou Valquíria. Isabela concordou com a mãe e garantiu: “Vamos assistir ao desfile das três escolas.”

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A resiliência e a felicidade estampadas no rosto da mãe e da filha expressaram o sentimento de muitos rio-pardenses que estiveram na Avenida Gogóia. Quase um ano após a catástrofe climática, que deixou muitas casas debaixo d’água e centenas de pessoas desabrigadas, a população demonstrou que é capaz de superar as adversidades.

Foi nesse clima de otimismo e alegria que ocorreu o desfile das escolas de samba Realeza da Vila, Candangos e Embaixadores do Ritmo. Embora a chuva tenha provocado atrasos, os foliões, tal como Rio Pardo, resistiram e realizaram um espetáculo inesquecível que avançou pela madrugada.

Direta e indiretamente, as enchentes de abril e maio do ano passado foram incorporadas aos enredos apresentados na Gogóia. A maneira como a ganância humana está relacionada aos desastres naturais foi um dos temas da Realeza da Vila.

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A Candangos celebrou a fé e a espiritualidade, evidenciando sua importância, inclusive em situações como a que muitos moradores enfrentaram no ano passado. E os Embaixadores do Ritmo enalteceram a natureza em uma história de cura, esperança, imaginação e alegria.

Blocos

Após o desfile das escolas de samba na noite de sábado, no domingo, 2, foi a vez dos blocos animarem a festa. Na Avenida Gogóia, passaram os grupos Rosário, Mãos do Samba e As Donzelas. Nesta segunda-feira, 3, será a vez dos blocos de camiseta mostrarem o samba no pé. O início será às 21 horas, com a tradicional descida da corte do Carnaval, com a banda Bébi. O desfile está previsto para ocorrer às 22 horas. Em seguida, a festa continua com o grupo musical Shine.

Um símbolo de superação

Para o prefeito de Rio Pardo, Rogério Monteiro – que acompanhou o espetáculo ao lado da corte formada pela Rainha Vitória Machado, da Sociedade Recreativa e Cultural Realeza da Vila; Princesa Maria Antônia Silveira, da Escola de Samba Candangos, e o Rei Momo, Marcelo Carvalho, o Marcelão –, o Carnaval de 2025 tornou-se um símbolo de superação e resistência. 

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Ele ressaltou que, além das enchentes, o Município decretou recentemente estado de emergência em função da estiagem, que já provocou cerca de R$ 7,7 milhões em prejuízos. “Nós passamos por um momento muito difícil ano passado. Nossa gente sofreu bastante, muitos perderam as suas casas e móveis. E agora, enfrentamos a estiagem. Mesmo assim, nós conseguimos nos reerguer, seguimos na reconstrução. E, além de tudo isso, conseguimos fazer um grande Carnaval”, afirmou.

Na avaliação de Monteiro, todas as escolas proporcionaram um evento maravilhoso. “Vamos aguardar agora o resultado. Caberá aos jurados a tão difícil decisão de escolher a escola campeã.” O resultado do desfile será revelado na quarta-feira de cinzas. A apuração terá início às 15 horas. 

O que as escolas apresentaram

Realeza da Vila alerta para as consequências das ações humanas

Com o enredo A Terra entre fogo e água para renascer em uma nova era, a Realeza da Vila abriu o desfile na Avenida Gogóia e mostrou que o Carnaval não se limita apenas à festa, mas serve para trazer uma mensagem de conscientização. Relataram como a humanidade, criada à semelhança de Deus, desequilibrou a harmonia do paraíso com a sua ganância, levando-a à destruição dos recursos naturais, que hoje são apontados como causas para situações que afetam a sociedade e têm impactos na economia. 

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A consequência disso, conforme a trama do espetáculo, foram as mudanças climáticas e os desastres naturais, tais como enchentes e queimadas, representadas nos trajes da bateria. Já as musas da harmonia desfilaram fantasiadas com o Toque de Midas: um perfil da ganância.

A apresentação da Realeza da Vila foi abaixo de chuva. No entanto, o grupo encarou o desafio e animou os foliões. Encerraram com o carro alegórico que continha a mensagem “O futuro está nas nossas mãos”. O intuito é de fazer com que a humanidade se conecte novamente com a natureza, preservando o que está intacto e restaurando o que foi destruído.

A fé ganha evidência pela Candangos

Na esperança queremos crer/O intocável em qualquer prece/ Os Candangos vêm enaltecer. Que tudo posso na fé que me fortalece. Foi com esse hino que a escola Candangos chegou à Avenida Gogóia próximo da meia-noite. A chuva já havia dado uma trégua, para a alegria do público. Com o enredo Tudo posso na fé que me fortalece!, a Candangos celebrou as religiões e evidenciou a importância das crenças em nosso cotidiano. 

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No decorrer do desfile, as alas mostraram a crença em diversas religiões pelo mundo. Desde a fé budista, taoísta e a hindu, presentes na Ásia e no Oriente Médio. Também mostraram como se manifesta por superstições, como, por exemplo, bater na madeira para evitar mau agouro. A crença em horóscopo e cartomantes também ganhou destaque, assim como a cultura dos ciganos.

Os passistas celebraram as religiões de matriz africana presentes no Brasil, trazendo o povo de exu, enquanto o mestre-sala e a porta bandeira exibiram o búzio, umbanda e candomblé. A fé cristã também foi enaltecida, nas alas Água Benta e O Pão e o Vinho que alimentam minha fé. Na última alegoria apresentaram Deus e Oxalá (Jesus Cristo), unindo as principais religiões do Brasil sem distinção.

O verde da natureza é reverenciado pelos Embaixadores

No meio da madrugada de domingo, a Escola de Samba Embaixadores chegou para marcar o fim dos desfiles. Em uma homenagem à natureza, os integrantes apresentaram o enredo Verde que cura, verde que embala e verde que dá samba!

A cor esteve em evidência no decorrer da apresentação, fantasias e na letra de sua canção: O verde é teu axé nesta avenida!/É a cor da minha vida!/Nas matas, onde corre a pajelança/

Busquei sagradas folhas rituais./ Para renovar a minha fé.

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A apresentação narrou a jornada de Ossanha, o orixá guardião das folhas sagradas, para mostrar que, por meio da natureza, existe cura, esperança, imaginação e alegria. O verde demonstrou, por exemplo, as matas e ervas medicinais, capazes de tratar do corpo e da alma.

A cor ainda foi atrelada à sorte, pelo trevo de quatro folhas, assim como o mate, reverenciando a tradição gaúcha que une pessoas em torno da cuia. O lúdico também ganhou espaço na Gogóia. Até mesmo o personagem Incrível Hulk deu as caras, mostrando sua força bruta, além de dinossauros e dragões. Com o espetáculo, os Embaixadores mostraram como a cor faz parte da vida das pessoas em diferentes momentos.

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