Gritos contra Bolsonaro, Oscar e empurra-empurra marcam Charanga do França, em SP

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BRUNO LUCCA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Revolta com o Oscar e gritos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) marcaram o cortejo da Espetacular Charanga do França, no centro de São Paulo, nesta segunda-feira (3).

Antes das 9h, foliões já se reuniam na rua Barão de Tatuí, no bairro da Santa Cecília, para o esquenta do bloco. Rapidamente, a via já estava lotada. Neste Carnaval, o cortejo mudou seu percurso a fim de evitar uma curva que espremia foliões.

Em vez de sair da rua Imaculada Conceição e virar na rua Barão de Tatuí, a concentração foi direto à Barão, encerrando o trajeto que já deu problemas noutros anos, com foliões caindo e reclamando de pisões.

A banda começou a festa tocando alguns clássicos: “Azul”, que tem sua interpretação mais famosa na voz de Gal Costa (e também é a cor oficial do bloco) e “Retalhos de Cetim”, de Benito di Paula. A qualquer paradinha dos músicos, os foliões aproveitavam para puxar seus próprios hits.

Primeiro, gritos pela prisão de Bolsonaro, denunciado pela Procuradoria-Geral da República sob acusação de participação na tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023. “Prende o Bolsonaro” e “Inelegível”, entoava a massa de presentes na charanga.

Eles não paravam por ali. Havia outro alvo de seus cânticos, como o filme “Anora”, filme de Sean Baker vencedor de cinco estatuetas no Oscar deste ano, que teve sua cerimônia neste domingo (2).

Entre os prêmios, o longa venceu na categoria de melhor atriz, com Mikey Madison, Ela concorria com Fernanda Torres, de “Ainda Estou Aqui”. Segundo os foliões, a brasileira perdeu injustamente e até fantasias com os dizeres “totalmente roubada” foram confeccionadas em referência ao episódio.

Mas nem só de revolta viveram os presentes na charanga. A vitória da produção de Walter Salles na categoria de melhor filmes estrangeiro foi muito comemorada -ainda mais porque o francês “Emilia Pérez” saiu perdedor.

A cerimônia do Oscar terminou depois da meia-noite no Brasil, e as amigas Fernanda Yumi, 34, e Clara Garcia, 40, nem conseguiram dormir. Emendaram a bebedeira da madrugada com o bloco. “É muita felicidade pra dormir”, disse Clara.

A noite reduzida de sono foi relatada por outros foliões que, apesar disso, afirmaram estar mais felizes que nunca. “Imagina só, nosso país no topo do mundo. É um sonho”, disse Bruno Gouveia, 45,
O calorão foi uma questão no cortejo. Às 10h, termômetros já marcavam 30°C, e a vizinhança da Santa Cecília tentou ajudar a amenizar a sensação térmica. Com mangueiras, os moradores jogavam água de seus apartamentos na rua, sobre as pessoas, que comemoravam como um gol.

Esse clima de festa na Charanga do França só era interrompido pelo empurra-empurra em alguns pontos mais estreitos das vias e pelo “pesado”, como os numerosos vendedores ambulantes chamam suas caixas de isopor, que eles insistem em enfiar no meio da multidão com auxílio de carrinhos. Muita gente acabou tendo um pé atropelado ou calcanhar e perna atingidos.

Apesar de todos os problemas, ao menos a cerveja vendida por ali estava gelada, afirmaram alguns foliões à reportagem. Nos últimos dias, foram registradas reclamações sobre a temperatura das bebidas vendidas na folia pelas ruas de São Paulo.

Era por volta de 14h quando o bloco chegou a seu finalmente. Virando na rua Frederico Abranches, sua última reta, “Eva”, hino carnavalesco, foi tocado. Os foliões pulavam incessantemente enquanto se aproximavam do largo da Santa Cecília, onde mais uma edição da Espetacular Charanga do França, a 12ª, terminou.

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