Gazeta contou a emancipação de Vale do Sol em suas páginas

“Quem manda? É a opinião da maioria que deve mandar. É o povo que deve mandar.” Foi com essa afirmação que Ireno Finkler encerrou sua primeira contribuição nas páginas do jornal Gazeta do Sul, em outubro de 1987. Nascia aí a Enfoque de Trombudo (nome do distrito que fazia parte de Santa Cruz do Sul), uma coluna semanal na qual, por quase três décadas, narrou com detalhes a jornada de criação do município que viria a tornar-se Vale do Sol.

Em seu texto inaugural, “Quem manda?”, o jornalista e professor Finkler destacou a importância da população na melhoria do distrito. Isso, segundo ele, poderia ser feito por cada cidadão, participando de entidades e instituições, incluindo escolas e igrejas, e na política.

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“Para mudar Trombudo e região, precisamos da opinião, da participação de todos. Ninguém recebe nada de graça. Você deverá conquistar o seu espaço. Precisamos lutar, unidos, para melhorar a vida de todos”, escreveu.

O espírito democrático, reflexivo e educacional que marcaram a coluna Enfoque fizeram parte da sua trajetória. A carreira de professor e comunicador foi fundamental para um marco importante de Vale do Sol: a tão desejada emancipação do município.

Antes de se tornar colunista, Ireno Finkler começou trajetória em jornal católico

Filho dos agricultores Casilda e Ernesto Adão Finkler, Ireno nasceu em 1947, no interior do Distrito. Aos 12 anos, o quinto filho de dez abandonou a vida no meio rural – motivado pelos pais – para se dedicar aos estudos. Tornou-se professor, lecionando história, geografia, filosofia e sociologia. No entanto, não imaginava que, durante sua trajetória acadêmica, assumiria outra função: a de comunicador.

Na época de estudante universitário, em 1969, começou a colaborar com o jornal Mundo Jovem. Criada no Seminário Maior, em Viamão, a publicação católica incluía reportagens jornalísticas e textos sobre questões políticas e sociais pouco debatidas pela imprensa da época.

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Em meio à Ditadura Militar, tornou-se uma importante válvula de escape à juventude, preocupada com o futuro do País e com os rumos da sociedade. Temas como sexualidade, divórcio, aborto e outros considerados tabus eram abordados sem medo, no intuito de esclarecer e conscientizar os jovens leitores.

Sua primeira contribuição com o jornal foi uma reportagem sobre a ferroviária de Itapuã, situada no interior de Viamão. Logo, passou a revisar textos. Dois anos após entrar no Mundo Jovem, Finkler assumiu o cargo do diretor. Já em 1972, passou a atuar como gerente.

Foi a partir desse ano que o jornal passou a ser administrada pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Porto Alegre. Mesmo sob o olhar dos militares, que censuravam os meios de comunicação, o Mundo Jovem continuou a manter em suas páginas temas controversos.

A trajetória de Finkler no jornal seguiu até 1987, quando decidiu voltar para sua terra natal. E 27 anos haviam se passado desde que o então adolescente saíra do interior em busca de conhecimento.
Retornava casado, com Lídia Tondello Finkler, e com quatro filhos: Lirene, Alexandre, Fernanda e Débora Cassiane.

Viagem no tempo

Em sua residência, situada no coração de Vale do Sul, Ireno Finkler preserva a sua coleção de publicações da Mundo Jovem. Olhar para as edições é como uma viagem no tempo. Nas páginas do periódico, denota-se o espírito instigador e reflexico de Finkler. Entre os títulos, destacavam-se “O trabalho é ditador?”, “Jovens falando em divórcio” e “Viva a desgraça, sorria: a televisão está mandando”. Por fim, Finkler concedeu uma entrevista ao jornal mencionando os motivos de voltar para Trombudo: “Promover a justiça e a valorização do ser humano em todos os níveis”.

Memória: as reportagens do jornal no qual atuou são preservadas na residência de Ireno Finkler

SIM: uma longa e árdua jornada até a autonomia

O retorno de Ireno Finkler e sua família ao Distrito de Trombudo foi fundamental para uma importante jornada que se iniciaria no final da década de 1980: a emancipação do 7 distrito.
As primeiras tratativas para a criação de um novo município começaram ainda em 1988. Porém, sem apoio, não seguiu adiante. Na época, representantes da Comissão Emancipacionista de Sinimbu se reuniam com a Associação Pró-Desenvolvimento de Trombudo periodicamente para debater ideias para desenvolver a região.

Em seu livro A história emancipação de Vale do Sol, Finkler destaca que Sinimbu só poderia pleitear a sua separação se Vale do Sol encaminhasse primeiro, uma vez que a criação do município não poderia causar descontinuidade territorial. Um dos entraves iniciais, conforme Finkler, foi a visão política conservadora presente em Trombudo.Isso, na sua visão, adiou por quatro anos o sonho da emancipação não só no seu Distrito, mas também dos moradores de Sinimbu.

Vitória: Ireno Finkler é levantado pelos moradores no momento em a votação pelo SIM ganho | Foto: Ataídes de Souza/Banco de Imagens/GS

No entanto, ela não impediu que a mobilização crescesse. Com o passar do tempo, os moradores compreenderam a necessidade de independência em relação a Santa Cruz do Sul. O momento decisivo, conforme o escritor, foi em 14 de novembro de 1990, em uma reunião com cerca de 150 pessoas, incluindo emancipacionistas de toda a região. E, em janeiro de 1991, Finkler tornou-se presidente da Comissão Emancipacionista, que criou o município de Vale do Sol.

Sua presença nos veículos de comunicação foi fundamental para angariar mais apoiadores. Além de sua coluna na Gazeta do Sul, criou o jornal EmanSIMpação. Havia ainda o Programa de Emancipação na Rádio Santa Cruz, sempre nas segundas-feiras, das 11h45 às 12 horas. “Tudo isso foi de fundamental importância”, destaca Finkler.

Jornal foi criado para mobilizar a população

O resultado da sua ação culminou na votação pelo SIM no plebiscito realizado no dia 10 de novembro de 1991. Foram 2.542 votos favoráveis à emancipação, 407 a mais do que os contrários. Na celebração da conquista, o fotógrafo da Gazeta do Sul na época, Ataídes de Souza, registrou o momento em que Ireno Finkler foi erguido nos braços pela comunidade.

Trombudo obteve destaque em coluna semanal

Em 1987, logo após mudar-se de Porto Alegre para o interior, Ireno e Lídia, então professores da rede estadual, tinham o intuito de contribuir na formação cultural das crianças e dos jovens da região. Uma das lutas era pela inclusão do ensino médio do 7º Distrito.

A partir de uma reportagem para homenagear o Dia dos Professores, a Gazeta do Sul descobre o casal de educadores. A partir daí, Finkler foi desafiado pelo editor da época, Romeu Neumann, a relatar os fatos de Trombudo e Formosa, surgindo então a coluna Enfoques.

Coluna da Gazeta do Sul registrou a emancipação

“Pretendemos informar, questionar, opinar e, se necessário, denunciar, para manter os leitores informados”, escreveu o morador em uma de suas primeiras contribuições. Em seu espaço, tinha a liberdade de abordar diferentes temáticas. Nos primórdios, evidenciou o surgimento de um grupo em defesa à ecologia e ao meio ambiente, defendendo que a comunidade apoiasse a iniciativa. “Precisamos defender a natureza. Não agredi-la. A mãe-natureza, às vezes, responde às agressões com as chicotadas das secas, dos vendavais ou do granizo”, afirmou na coluna.

O destaque, é claro, foi a jornada pela emancipação do município. O tema ganhou força em 1991, no qual conclamava os cidadãos a fazer parte do movimento. À cada semana, elencava os motivos para a luta em prol da separação e os ganhos da liberdade.

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“A emancipação é o máximo que um Distrito pode almejar. A independência política e administrativa é o caminho para o desenvolvimento. Falar em desenvolvimento esquecendo-se ou querer ignorar a emancipação é tendencioso, é contra o progresso e o verdadeiro desenvolvimento”, escreveu cinco meses antes do plebiscito.

Finkler lança livro com seus textos no dia 20

No dia 20 de março – data que marca a criação do Município de Vale do Sol, em 1992 –, Ireno Finkler lançará sua nova obra, Vale do Sol: Enfoques – Parte 1. Sob o selo da Editora Gazeta, apresenta as publicações da coluna entre o período de outubro de 1987 até janeiro de 1994.

Ao longo de 127 páginas, é detalhada a evolução do processo que levaria à emancipação e, posteriormente, a criação do Município. Desde os primórdios do movimento, os passos para votar no plebiscito, a escolha do nome Vale do Sol, e as fontes de recurso após a separação de Santa Cruz do Sul.
No posfácio do livro, intitulado “Ireno Finkler não só escreveu a história; fez história”, o editor Romar Beling destacou que o autor introduziu, com seu senso de cidadania, reflexões sobre a realidade estadual, nacional e até internacional.

“Questionamentos sobre a autonomia ou sobre a real independência brasileira, sobre os estágios da democracia em um país que muito recentemente voltara a viver a abertura política, após os anos de chumbo do Regime Militar, conduziam a um olhar ou posicionamento em busca da melhoria da qualidade de vida da população”, destacou.

O lançamento irá ocorrer durante o 1º Encontro das Comissões Emancipacionistas do Vale do Rio Pardo, de 1991 a 1995. O evento será na Câmara de Vereadores de Vale do Sol, na Avenida 15 de Setembro.
A atividade terá início com a recepção dos integrantes das comissões de sete municípios, além de prefeitos e lideranças políticas do Município-Mãe, Santa Cruz do Sul.

Após o lançamento do livro de Finkler, haverá uma rodada de conversas sobre as campanhas de emancipação e uma análise, buscando evidenciar as vantagens e as desvantagens da criação dos municípios. Finkler realizará também uma sessão de autógrafos no Restaurante Casarão, próximo à Câmara de Vereadores.

  • O QUÊ: lançamento do livro Vale do Sol: Enfoques – Parte 1, de Ireno Finkler, pela Editora Gazeta
  • QUANDO: no dia 20 de março, a partir das 17 horas
  • ONDE: na Câmara de Vereadores de Vale do Sol, na Avenida 15 de Setembro

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