Lula planeja roteiro internacional com foco em Ásia e agenda climática

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RICARDO DELLA COLETTA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer dar foco especial à Ásia e à agenda do clima em suas viagens internacionais de 2025.

Os detalhes do roteiro de Lula para este ano ainda estão sendo definidos, mas os primeiros destinos confirmados e os em negociação indicam que o petista busca fortalecer o relacionamento comercial do Brasil com grandes mercados asiáticos, para além da China.

Isso não quer dizer que ele pretende reduzir o nível das relações com Pequim, com quem o Brasil registrou um superávit de US$ 30,8 bilhões em 2024 -está no radar, inclusive, uma possível viagem à capital chinesa ainda no primeiro semestre. Mas a diplomacia brasileira procura argumentar, com o roteiro, que o governo está trabalhando para aumentar a presença comercial brasileira em outros países importantes da região.

Em outra frente, o presidente quer aproveitar a cúpula global do clima (COP30). que ocorrerá em Belém em novembro, para pressionar outros países a apresentarem suas metas de redução de emissões, as chamadas NDCs.

Lula realiza uma viagem oficial a Tóquio de 24 a 27 de março. Em seguida, emenda uma visita a Hanói, no Vietnã, até o dia 29. A visita de Estado ao Japão será a de grau mais alto dentro da hierarquia da diplomacia nipônica, e uma recepção desse escalão não ocorria desde 2019, quando o país recebeu Donald Trump, então em seu primeiro mandato.

No caso do Japão, um dos principais pleitos é tentar abrir o mercado local para a carne brasileira.

Um interlocutor no governo Lula ouvido pela Folha disse esperar avanços nesse tema, mas adiantou que um anúncio oficial de abertura será difícil de ocorrer.

No caso do Vietnã, o objetivo é fazer um aceno a uma das mais dinâmicas economias asiáticas, com quem o Brasil tem um crescente fluxo de comércio -cresceu 14% no ano passado, para US$ 7,7 bilhões.

Em Hanói, Lula deve ainda fazer um apelo às autoridades vietnamitas para que o país apresente sua nova NDC. Até o momento, poucos países atualizaram suas metas, e conseguir um comprometimento do maior número de governos possível até a COP30 é visto como fundamental para o êxito da cúpula.

É também com esse objetivo, de pressionar pela apresentação das novas metas, que Lula e o secretário-geral da ONU, António Guterres, convocaram para abril uma reunião virtual com diversos líderes internacionais. Ainda na esfera do meio ambiente, Lula trabalha para participar, em junho, de uma conferência da ONU sobre oceanos, em Nice (França).

Entre abril e maio, Lula ainda tenta encaixar uma visita ao Chile para uma reunião sobre democracia e combate a extremismos.

Trata-se do seguimento de um primeiro encontro realizado em Nova York, no ano passado. A confirmação dessa viagem, no entanto, depende da coincidência de agendas de Lula, do presidente chileno, Gabriel Boric, e do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez.

Em maio, Lula planeja uma viagem à Rússia para participar, a convite de Vladimir Putin, das tradicionais celebrações da vitória soviética sobre a Alemanha nazista na 2ª Guerra Mundial.

A diplomacia brasileira trabalha com a hipótese de, no mesmo deslocamento, Lula realizar uma visita oficial a Pequim, para participar de uma cúpula da China com os países da Celac (Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos).

O principal evento internacional de junho deve ser a cúpula do G7 no Canadá. A presença de Lula, no entanto, depende de um convite dos canadenses, algo que só deve ser definido após as eleições naquele país.

O petista foi chamado para as últimas duas cúpulas do G7, no Japão e na Itália. Caso o convite se confirme, ele pode interagir pela primeira vez com Trump -embora, ao menos por ora, seja difícil imaginar uma reunião bilateral entre eles.

No início de julho, Lula receberá no Rio de Janeiro os governantes do Brics para a cúpula do grupo.

No mês seguinte, pode ir à Colômbia para um encontro da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica), novamente com a meta de fortalecer a posição da presidência brasileira da COP30.

Com o mesmo objetivo, Lula tenta organizar uma reunião com países insulares às margens da Assembleia-Geral da ONU, em setembro, em Nova York.

Antes de recepcionar os líderes na COP30, o presidente trabalha para fazer uma nova incursão pelo Sudeste Asiático e investir no relacionamento com os emergentes da região. A perspectiva é que ele seja convidado para um encontro de líderes da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático) na Malásia e aproveite a ocasião para viajar à Indonésia (país recentemente incorporado ao Brics).

O calendário internacional de Lula para este ano deve ser concluído com uma viagem à África do Sul, no fim de novembro, para a cúpula do G20. Em dezembro, Lula deve ser o anfitrião de uma cúpula do Mercosul, que ocorrerá no Brasil.

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