‘Meninas Malvadas’ vira peça em São Paulo com músicas, humor ácido e feminismo

MENINAS MALVADA MUSICAL SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Piadas cruéis, músicas mordazes e dedos do meio apontados para o público durante uma coreografia. É assim que “Meninas Malvadas: O Musical” encena pela primeira vez nos teatros brasileiros toda a acidez do filme que virou fenômeno da cultura pop há 20 anos.

Mas, apesar de fazer chacota do politicamente correto, o musical recorre à malícia do filme original para seguir um caminho ligeiramente diferente -a autoafirmação feminina. Mais que no longa de 2004, protagonizado por Lindsay Lohan, a peça reforça as feridas que surgem do bullying, e termina como uma ode ao feminismo.

Na história, Regina George, a garota mais popular do colégio americano North Shore, usa maldade para ficar no topo. Ela humilha colegas, faz troça de professores, xinga a própria mãe e, assim, gera uma onda de medo e respeito. Seu reinado é ameaçado pela chegada de Cady, boa de matemática, e que parece uma garota certinha e inocente -até certo ponto.

“Meninas Malvadas” deu tão certo que sua história foi replicada e usada como referência em incontáveis filmes, séries e livros. Virou marco da comédia satírica, uma espécie de bandeira das patricinhas da vida real, e escapou do cinema, criando bordões e memes que aparecem até hoje em peças de roupa e nas redes sociais, de “às quartas usamos rosas” a “isso é tão barro!”.

Mas para muita gente o filme envelheceu mal. “Meninas Malvadas” faz escárnio de corpos gordos, reforça estereótipos sexistas e raciais, e não trata bullying com tanta parcimônia quanto alguns exigem. “Ao mesmo tempo, foi revolucionário”, diz Laura Castro, que na peça interpreta Cady, a protagonista. “Ele já mostrava o quanto a competitividade feminina pode ser nociva.”

Para Anna Akisue, a vilã Regina George, o musical deve ajudar a tirar o gosto amargo. “Houve uma ‘demonização’ sobre como o filme retrata as garotas mais femininas. Vestir rosa ficou feio, coisa de quem quer chamar atenção. Por muito tempo, depois dele, legal era ser como os caras”, ela diz. “Mas está rolando uma mudança. Está tudo bem gostar de rosa e de se maquiar de novo.”

O filme, escrito pela comediante americana Tina Fey, virou um musical da Broadway há seis anos, também de sua autoria. Ele, por sua vez, inspirou mais um filme, “Meninas Malvadas: O Musical”, que chegou aos cinemas no ano passado, e que agora está na Netflix.

Quem adaptou as músicas do espetáculo americano para a língua portuguesa foi o roteirista Victor Mühlethaler. Sua maior dificuldade era assegurar que as letras não tivessem nenhuma piada de “tiozão”, ele brinca.

Contratou então um tradutor antenado nas gírias que estão na moda. “Tinha uma frase, no primeiro rascunho, que era ‘segura o rojão’. Achei que estava arrasando. Mas a atriz que cantava essa parte parou o ensaio e me deu um toque”, ele conta, e dá risada.

A versão brasileira da peça chega a São Paulo na esteira de uma série de outros espetáculos musicais que vêm fazendo a cidade se tornar um polo desse tipo de produção no Brasil. Uma versão de “Hairsypray” com Tiago Abravanel estreou no meio do ano passado, antes de “A Cor Púrpura”. Nos próximos meses a cidade recebe a terceira montagem brasileira do sucesso “Wicked” e ainda “Uma Babá Quase Perfeita”.

“É bom ver o quanto vem sendo investido”, diz a atriz Danielle Winits, que interpreta três personagens no espetáculo. Conhecida por fazer novelas da Globo, ela trabalhou no teatro pela primeira vez em um musical, “Band-Aid”, há 30 anos, e depois fez o clássico “Chicago”, em 2004, e ainda “Hairspray”, cinco anos depois.

Junto das outras protagonistas, no fim da apresentação, que leva mais de duas horas, Winits discursa em defesa do aporte da lei Rouanet, usado para pagar parte da peça. “Parece haver um novo olhar do público sobre essa legislação, está deixando ser uma questão tão polarizadora. Esse tipo de entretenimento gera empregos para muitas famílias, move a cultura.”

MENINAS MALVADAS: O MUSICAL
Quando 13/3 a 29/6. Qui. e sex., às 20h. Sáb, às 16h e 20h. Dom., às 15h e 19h
Onde Teatro Santander – av. Presidente Juscelino Kubitschek, 2.041, São Paulo
Preço A partir de R$ R$ 42,36, no sympla.com.br
Classificação Livre, com menores de 12 anos acompanhados dos responsáveis legais
Elenco Anna Akisue, Laura Castro e Danielle Winits
Direção Mariano Detry

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