‘Festival Mínimos Óbvios’ traz grandes nomes para falar do teatro ‘queer’

A terceira edição do Festival Mínimos Óbvios estreou ontem e segue até sexta-feira (21). O tema é “Teatro a uma voz” e conta com uma programação gratuita distribuída entre a Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Casa Rosa, no Rio Vermelho.O festival tem como objetivo ampliar a visibilidade e afirmar a presença de artistas e obras queer sub-representadas, ao mesmo tempo em que celebra as trajetórias e histórias da comunidade LGBTQIA+ no teatro. A programação traz nomes do meio acadêmico e do teatro, como Ciro Barcelos (Dzi Croquettes), Edy Star (The Rocky Horror Show), Lawrence La Fountain-Stokes (Universidade de Michigan), Steven Fred Butterman (Universidade de Miami), Rodolfo García Vásquez (SP Escola de Teatro/Os Satyros), e Newton Moreno (Os Fofos Encenam).

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Djalma Thürler, pesquisador membro do ATeliê voadOR e um dos organizadores, comentou que a pretensão do festival é transitar entre a academia e o teatro. “Essa é uma característica da ATeliê voadOR, é uma companhia que fica entre a academia – entre o fazer científico do teatro – e o teatro. A ideia do festival é fazer dos eventos científicos, uma experiência que não fosse sisuda, é como se a gente pudesse dizer que nos congressos, nos seminários acadêmicos é possível a festa”, disse.Esse desejo dos organizadores foi o fio condutor da curadoria e da programação do festival: “A gente não quer ouvir só pessoas com doutorado, a gente quer ouvir as pessoas também que vivem essa cena. Então, nesse sentido, é um congresso muito democrático. Há também microfones abertos para que a plateia participe, para que a plateia ajude a pensar, refletir”, acrescentou.A abertura do evento ocorreu na noite de ontem (17), no auditório da Faculdade de Comunicação da UFBA, com uma conferência ministrada pelo professor Steven Fred Butterman. Nesta quinta-feira (19), vai ocorrer a segunda conferência do festival às 19h, na Casa Rosa, “Teatro Fora da Curva”, com Ciro Barcelos e Edy Star, abordando a história do teatro queer nos anos 1970.Já no dia 20, também na Casa Rosa, será realizada a primeira “long table”, discutindo “A cena LGBT e o teatro brasileiro”, reunindo artistas e pesquisadores como Newton Moreno, Márcia Dailyn e Denni Sales.No dia 21, às 9h30, acontece a segunda “long table”, com o tema “Existe um teatro de autoria queer? As lokas e a estética do teatro”, com Rodolfo García Vásquez, Lawrence La Fountain-Stokes e Leandro Colling, entre outros.O festival se encerra na noite do dia 21 de março, no Gambiarra Boteco, com a Carnavalização, um encontro festivo entre convidados, artistas e público, incluindo performances e intervenções artísticas espontâneas.O teatro queerUma figura importante para o cenário do teatro queer brasileiro é o artista Ciro Barcelos, que vai estar presente na segunda conferência festival ao lado do também artista Edy Star, abordando a história do teatro queer nos anos 1970. Ambos desafiaram os padrões de gênero e comportamento social, deixando uma marca indelével na cena artística brasileira da época.Ciro participou do grupo teatral Dzi Croquettes, que representava a contracultura e trazia a homossexualidade e da travestilidade uma forma de afirmação de direitos por meio da arte. “O Dzi Croquettes teve uma influência enorme em todo esse movimento que está aí, não somente na cena teatral de hoje. Ele influenciou música, teatro, cinema. Esse lugar onde estamos chegando hoje, com todas as conquistas de direitos, tem a contribuição do Dzi, entre outras tantas frentes que aconteceram nos últimos 50 anos”, afirma Barcelos.Para a conferência “Teatro Fora da Curva”, ele comentou que pretende discutir a história do teatro queer no Brasil e toda essa influência contemporânea que contribui. “Junto ao queridíssimo Edy Star, que veio antes mesmo do Dzi, traremos um mergulho através de tantas falas e histórias. O teatro queer sempre esteve presente. A nova geração de artistas e criadores precisa continuar apontando novos caminhos. Ninguém para a arte”, conclui.

Ciro Barcelos

|  Foto: Divulgação

Leandro Colling, pesquisador e membro da organização do evento, destacou que nos últimos anos tem existido um grande avanço nas produções teatrais queer, tanto nas temáticas quanto na participação de artistas trans (transexuais e travestis) que têm protagonizado diversos espetáculos. Para ele, o cenário prospera apesar dos desafios para que sejam realizadas, como a escassez de investimentos e editais disponíveis, assim como o avanço do conservadorismo.“São vários avanços e o mais nítido é o aumento exponencial das temáticas das dissidências sexuais e de gênero no teatro e nas demais linguagens artísticas, isso é inegável […] O teatro que trata das dissidências sexuais e de gênero, com essa perspectiva queer, teve uma grande expansão no Brasil nas primeiras décadas dos anos 2000 mas, atualmente, as produções diminuíram, especialmente na Bahia. E isso tem a ver com a falta de editais e investimentos, o que é fundamental para esse tipo de produção. Outro desafio atual tem a ver com uma conjuntura política mais geral, cada vez mais dominada por conservadores”, comentou Colling.

|  Foto: Divulgação

CarnavalizaçãoO encerramento do festival é marcado pela festa “Carnavalização” Para Djalma Thürler esse momento simboliza uma extensão natural da proposta de aproximar academia e arte, e rompe com o visual “engessado” dos eventos acadêmicos. “A ideia é que esses espaços de discussão também sejam espaços de celebração, que a gente possa pensar teatro queer de forma coletiva, mas também viver essa experiência de modo afetivo e festivo”.Leandro Colling complementa essa perspectiva ao destacar que o festival amarra esses dois mundos e os coloca no mesmo lugar.“Será uma bela oportunidade de pensar o que já foi feito e os desafios para os anos seguintes. A programação reflete bem isso, reunindo gente pioneira da cena e artistas da atualidade. Eu acho que será lindo ver esse encontro e o que dele poderá ser gerado”.III Festival Mínimos Óbvios; veja programação completa: ihac.ufba.br*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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