Turquia já prendeu mais de mil em protestos pró-prefeito de Istambul, diz governo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) –

A repressão às maiores manifestações em mais de uma década na Turquia já resultou na prisão de 1.133 pessoas, segundo afirmou o ministro do Interior do país, Ali Yerlikaya, nesta segunda-feira (22) -número que inclui ao menos dez jornalistas e dois advogados, de acordo com organizações da sociedade civil.

Os protestos começaram em Istambul na quarta-feira (12), quando o então prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, foi preso sob acusações de corrupção que ele nega. Desde então, os atos se espalharam para mais de 55 das 81 províncias do país do Oriente Médio.

Principal rival de Recep Tayyip Erdogan e prestes a ser nomeado candidato à Presidência pela sua sigla, o popular prefeito de 53 anos era considerado por muitos o único político capaz de derrotar o presidente turco, no poder há mais de 20 anos, nas eleições de 2028.

Em apenas quatro dias, Imamoglu passou de chefe do Executivo municipal da maior cidade da Turquia -posição que lançou Erdogan para a política nacional há algumas décadas- para detido, interrogado, encarcerado e destituído do cargo.

Neste domingo (23), mesmo dia em que oficialmente perdeu a Prefeitura e passou a sua primeira noite na prisão, no distrito de Silivri, Imamoglu foi eleito candidato à Presidência pela sua agremiação, o Partido Popular Republicano (CHP, na sigla turco), por 15 milhões de votos.

Segundo analistas, foram justamente as primárias que desencadearam a detenção do político, em um contexto de deterioração democrática na Turquia.

De acordo com a Associação de Estudos de Mídia e Direito, dez jornalistas, incluindo um fotógrafo da agência de notícias AFP, foram detidos nesta segunda em suas residências em Istambul e Izmir, a terceira maior cidade da Turquia, na costa oeste do país. A Ordem dos Advogados dessa localidade ainda relatou a detenção de dois advogados da região, incluindo seu ex-diretor, que representavam os manifestantes.

“O que estão fazendo com os membros da imprensa e os jornalistas é uma questão de liberdade. Nenhum de nós pode permanecer em silêncio diante disso”, afirmou a esposa de Imamoglu, Dilek Kaya Imamoglu, na rede social X.

Após a detenção do político, na quarta, a Turquia proibiu manifestações e fechou parte das ruas de Istambul -medidas insuficientes para abafar os protestos, em grande parte pacíficos. Na noite deste domingo, dezenas de milhares de pessoas voltaram a lotar as imediações da Prefeitura de Istambul, como ocorreu nos dias anteriores.

Pouco antes, quando era levado à prisão de Silivri, Imamoglu convocou os turcos a realizarem manifestações em massa por todo o país e classificou o processo que o prendeu de “execução extrajudicial completa” em uma publicação no X.

Já na prisão, quando os atos estavam em curso pela quinta noite consecutiva, ele voltou a desafiar as autoridades turcas por meio de uma mensagem transmitida por meio de seus advogados. “Estou usando uma camisa branca que não poderão manchar. Tenho um braço forte que não poderão torcer. Não recuarei um milímetro. Vencerei esta guerra!”, afirmou.

Nesta segunda (24), o governador da província de Istambul, Davut Gul, acusou os manifestantes de “danificar mesquitas e cemitérios”. “Não será tolerada nenhuma tentativa de perturbar a ordem pública”, afirmou na rede social X. Já Yerlikaya, ministro do Interior, disse que 123 policiais ficaram feridos durante os protestos até agora e que o governo não permitiria “o terror nas ruas”.

O porta-voz do governista Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, na sigla em turco), Omer Celik, disse, também nesta segunda, que o apelo do CHP protestos tentava encobrir deficiências da oposição.

“O protesto democrático é um direito, mas a linguagem usada pelo CHP não é a linguagem do protesto democrático”, afirmou.

O governo nega que as investigações contra Yerlikaya e outros membros da oposição sejam politicamente motivadas e afirma que os tribunais turcos são independentes.

Além de fazer prisões, as autoridades restringiram o acesso a várias redes sociais, incluindo X, YouTube, Instagram e TikTok, informou o observatório de internet Netblocks após a detenção de Imamoglu. Neste domingo, o X afirmou ter se oposto ao fechamento de mais de 700 contas na plataforma.

Diante dos protestos, a União Europeia chamou a atenção da Turquia, que tenta entrar no bloco.

“Queremos que a Turquia permaneça ligada à Europa, mas isso requer um compromisso claro com as normas e práticas democráticas”, disse Guillaume Mercier, um porta-voz da Comissão Europeia. “Os direitos dos políticos eleitos e o direito a manifestações pacíficas devem ser completamente respeitados.”

Discursando em uma manifestação no distrito de Sarachane, em Istambul, neste domingo, o líder do CHP, Ozgur Ozel, disse que os protestos continuariam até que Imamoglu fosse libertado.

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