“O homem da transição democrática”, diz José Sarney ao receber título na CLDF

O ex-presidente da República José Sarney (MDB) — 1985 a 1990 — recebeu, nesta terça-feira (25), o título de cidadão honorário de Brasília e a medalha da Ordem Legislativa do Distrito Federal. Primeiro chefe de Estado da redemocratização, após 21 anos de ditadura militar. O evento foi acompanhado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) e por quatro ex-governadores.

“Eu sempre falava brasileira e brasileiros”, brincou Sarney na abertura de seu discurso. “Tenho grande satisfação de receber esse título, porque aqui passei mais da metade da minha vida. Estive aqui em 1958, quando ainda se estava em construção, e em 1959 vim definitivamente. Não me considero honorário, me considero mesmo de Brasília. Participei da primeira sessão do Congresso e depois de momentos conturbados.

Entre as histórias recordadas, o ex-presidente recordou as passagens de trabalhadores, as construções, a derrubada de mata que deram lugar aos prédios, a cidade da burocracia e do povo que chegava de todas as partes do país.

“Aqui Deus me deu a aventura de tantas emoções e aos 95 anos, ainda vivo tantas emoções. A democracia do Brasil foi a mais exitosa entre as latinas americanas. Brasília é um sonho de Dom Bosco e José Bonifácio”, concluiu.

Ao chegar a Casa Legislativa, José Sarney lembrou de sua chegada ao Distrito Federal, ainda durante o governo de Juscelino Kubitschek.

“Fiquei profundamente ligado a Brasília. Ela representa o pioneirismo na história do Brasil, sonhada por José Bonifácio, na Independência da República, e depois por Dom Bosco, e a realização de Juscelino que teve visão e determinação para construir uma nova cidade”, declarou Sarney.

Homem da redemocratização

A concessão do título vem no bojo dos 40 anos da redemocratização do país. Sarney assumiu em um momento conturbado, antes da posse do eleito indiretamente, Tancredo Neves, que dias antes morreu. Mesmo sem ter havido a posse do títular, o ex-presidente assumiu a cadeira e depois de cinco anos no cargo realizou a primeira eleição direta para a presidência da República.

Com toda a trajetória, José Sarney fez um pedido. “Quero ser lembrado como o homem que realizou a transição democrática para o Brasil.”

“Quero ser lembrado como o homem que realizou a transição democrática para o Brasil.”

Homenagens

A proposta de título para o Sarney foi do presidente da Câmara Legislativa, Wellington Luiz (MDB), e foi acompanhada pelo governador Ibaneis Rocha e pelos ex-governadores José Roberto Arruda (PL), Paulo Octávio, Agnelo Queiroz (PT) e Tadeu Filippelli (MDB), além de secretários, deputados, senadores e autoridades do judiciário, entre elas o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.

O governador Ibaneis Rocha lembrou dos dias em que esteve afastado do governo. “No período em que eu passei afastado, pelo ministro Alexandre de Moraes, eu fui me aconselhar com o presidente Sarney e ele me dizia: ‘meu filho tenha calma’, e eu guardo até hoje os bilhetes que ele sempre me manda todos os anos por ocasião do meu aniversário.” “Esse dia vai marcar a história do Distrito Federal”, concluiu um sucinto Ibaneis Rocha.

Representando o STF, o ministro Gilmar Mendes chamou José Sarney de “cidadão da paz mundial” em alusão ao seu papel na redemocratização. “Sua gestão foi cheia de ensinamentos, lembrando da transição difícil que todos tivemos, até chegar no porto seguro.”

“A sua maior contribuição, num ato de coragem, foi a convocação da Assembleia Constituinte. Todos sabemos da dificuldade que passamos até a elabora da Carta Magna”, recordou Mendes, que também apontou ter sido Sarney que se recusou a desenvolver armas nucleares no Brasil.

O presidente do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF), Manoel de Andrade, declarou “Hoje a história sabe a importância e o sacrifício do presidente Sarney”. “Deus sabe o que o presidente passou para nos conduzir”.

O vice-presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios Roberval Belinatti fez uma longa explanação da história de José Sarney.

O senador Eduardo Gomes (PL) falou sobre benfeitorias realizadas em Tocantins durante a gestão do ex-presidente, além da realização da primeira eleição direta do Distrito Federal. “Graças a ele podemos estar aqui na Câmara Legislativa hoje.”