Entenda as diferenças neurológicas no cérebro de um sociopata

A psicopatia é um transtorno de personalidade que intriga cientistas há décadas, e uma das principais áreas do cérebro associadas a essa condição é a amígdala. Localizada no sistema límbico, essa pequena estrutura cerebral está relacionada ao processamento de emoções.

“As mais proeminentes teorias deste campo apontam que a amígdala, responsável por processar as informações sobre ameaças, apresenta disfunções entre acometidos por esse transtorno. Essa área cerebral parece ser menos ativa neles”, observa o pesquisador Luke Hyde, professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.

“É como se esses indivíduos não percebessem perigos ou ameaças, ou simplesmente não se incomodassem com isso”, complementa ele, em entrevista à BBC News Brasil.

Segundo especialistas, a amígdala em psicopatas costuma ser menor do que a média da população, o que impacta diretamente sua capacidade de sentir e reconhecer emoções, como medo e empatia. O neurocientista Kent Kiehl, da Universidade do Novo México, aponta que essas alterações na amígdala afetam como os psicopatas tomam decisões morais e interagem socialmente. “Quanto mais traços psicopáticos uma pessoa possui, menor costuma ser a amígdala dela”, detalha ele.

“Além de estruturas como a amígdala serem menores e menos responsivas aos sistemas de ameaça e punição, essas pessoas reagem de um modo diferente aos medos dos outros que estão ao redor”, diz a psicóloga Abigail Marsh, professora de neurociência da Universidade Georgetown, nos EUA. “Os psicopatas não entendem, não reconhecem e não reagem às emoções alheias”, complementa ela à BBC News Brasil.

Por exemplo, o pesquisador James Blair, da Universidade de Copenhague, explica que a maioria das pessoas reage emocionalmente ao ver alguém chorando, mas o cérebro do psicopata não processa essas emoções da mesma forma.

“Nós temos sistemas cerebrais específicos que nos fazem parar, analisar a situação e, se possível, oferecer algum tipo de suporte. Caso o motivo do choro seja você mesmo, por causa de um comportamento agressivo, a tendência é nos acalmarmos para acolher esse sujeito”, raciocina ele.

Além da amígdala, outra região do cérebro que apresenta disfunções em indivíduos com traços de psicopatia é o córtex orbitofrontal, situado atrás dos olhos. Essa área está associada ao controle da impulsividade, uma característica marcante nos psicopatas, juntamente com a falta de empatia e um comportamento superficialmente charmoso.

“É possível que o córtex orbitofrontal também tenha alguma importância nesse contexto”, aponta Hyde. “Essa é uma área que faz o controle dos nossos impulsos”, diz o especialista.

Embora as pesquisas indiquem que essas diferenças cerebrais desempenham um papel importante, a origem exata dessas alterações ainda não é totalmente compreendida. Acredita-se que fatores genéticos e ambientais contribuam para o desenvolvimento da psicopatia.

“A psicopatia tem um componente hereditário”, pontua a psicóloga Arielle Baskin-Sommers, professora da Universidade Yale, nos EUA. “Mas isso não significa que alguém está condenado a ser psicopata apenas por causa do risco genético. Certamente há uma influência do ambiente nesse processo”, pondera Baskin-Sommers.

Crianças que demonstram sinais iniciais de insensibilidade e falta de empatia podem ter esses comportamentos reforçados por experiências negativas na infância, como punições severas ou negligência, o que influencia a evolução desse transtorno.

“Esses fatores de risco, como a genética, influenciam a forma de lidar com aquela criança que, por uma série de fenômenos sociais e emocionais, se vê diante de série de ciclos que resultam na psicopatia”, concorda Marsh, que também é cofundadora da Psychopathy Is, uma associação que fomenta pesquisas e campanhas sobre o transtorno.

Assim, o cérebro de um psicopata apresenta diferenças estruturais significativas, especialmente em áreas relacionadas às emoções e ao controle de impulsos, moldadas por uma combinação de predisposição genética e experiências de vida.

“Ou seja, crianças com risco genético [de psicopatia] podem ser mais difíceis de lidar. Daí elas recebem um cuidado mais duro ou menos caloroso. E isso só reforça a insensibilidade delas mesmas”, resume Hyde. “Ninguém nasce psicopata. Mas alguns têm um risco muito maior de desenvolver esse transtorno”, conclui Marsh.

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