O desencanto da juventude brasileira com a política: entre a polarização e a busca por uma terceira via

A cada eleição, o Brasil se vê diante de uma polarização crescente, um embate incessante entre dois lados que, embora opostos, compartilham um mesmo efeito colateral: o cansaço do eleitorado. Os números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram um aumento preocupante na abstenção e nos votos nulos e brancos, especialmente entre os jovens. Esse fenômeno é um claro sintoma de descrença na política tradicional, uma frustração que impulsiona a busca por outsiders e alternativas que rompam com o velho esquema de poder.

Mas o que os jovens querem? Será que todos estão simplesmente exaustos de Lula e Bolsonaro? Ou será que há uma demanda latente por uma terceira via genuína, que dialogue com os anseios da sociedade contemporânea?

A polarização política brasileira já dura anos, criando uma narrativa binária que pouco espaço deixa para nuances e novas possibilidades. De um lado, o lulismo se ancora no discurso de conquistas sociais e na luta contra as elites, enquanto o bolsonarismo se firma como uma reação conservadora e antipetista. Ambos os lados possuem apoiadores fiéis, mas há um número crescente de eleitores que simplesmente não se identificam mais com esse duelo.

O filósofo Jean-Paul Sartre, ao discutir a liberdade e a responsabilidade individual, afirmou que “estamos condenados a ser livres”. No contexto político, isso significa que a escolha de um candidato nunca é meramente passiva: ela reflete nossas expectativas, valores e esperanças. No entanto, quando as opções se limitam ao “menos pior”, a liberdade se esvazia, transformando-se em um fardo.

A juventude brasileira sente esse peso. Para muitos, as promessas de transformação social do passado se esgotaram. As mudanças que deveriam vir com Lula ou Bolsonaro não foram suficientes para sanar desigualdades estruturais, garantir segurança ou oferecer perspectivas concretas de futuro. O resultado? Desinteresse, afastamento e, em alguns casos, a procura por alternativas radicais.

“Outsiders” não devem surgir como terceira via

Na ausência de uma terceira via consolidada, cresce a tendência de votar em candidatos que simbolizam uma ruptura com o sistema, os chamados outsiders. Eles surgem como figuras que “não fazem parte da política tradicional”, carregando um discurso de renovação e autenticidade. Mas há um perigo nisso: o novo, por si só, não garante mudança real.

O historiador Yuval Noah Harari alerta que “os humanos pensam em histórias, não em fatos”. Isso significa que, em momentos de crise política, a narrativa do outsider pode seduzir eleitores cansados da mesmice, mesmo que o candidato não tenha propostas concretas ou experiência administrativa. Foi assim com Donald Trump nos Estados Unidos, Javier Milei na Argentina e, em certo sentido, o próprio Jair Bolsonaro em 2018. A esperança é que não seja assim em 2026 no Brasil, com a possível eleição de figuras como Pablo Marçal e Gusttavo Lima.

A questão é: o Brasil continuará oscilando entre extremos ou conseguirá construir uma alternativa sólida, capaz de quebrar o ciclo de polarização?

O que os jovens querem?

Os jovens brasileiros não estão apenas cansados da política tradicional – eles querem ser ouvidos. Diferente das gerações passadas, que viam no voto um instrumento de transformação social quase automático, os jovens de hoje questionam se a política institucional ainda é capaz de resolver seus problemas. Educação precária, desemprego, crise climática, falta de representatividade: esses são os temas que mobilizam a nova geração, e que muitas vezes ficam de fora do debate entre os polos políticos dominantes.

O filósofo Antonio Gramsci dizia que “o velho mundo está morrendo e o novo luta para nascer”. Esse parece ser o dilema da política brasileira hoje. A polarização atual não satisfaz plenamente a população, mas a terceira via ainda não se firmou como alternativa viável.

A urgência de uma terceira via que, de fato, seja diferente das outras

O Brasil precisa de uma terceira via que vá além do marketing eleitoral. Não basta criar um candidato com um discurso genérico de “nem direita, nem esquerda” – é preciso um projeto real, conectado com as necessidades da população e capaz de unir um país fraturado.

Essa alternativa deve ser moderna, mas comprometida com a democracia. Deve ser reformista, mas sem abrir mão da responsabilidade social. Precisa dialogar com o eleitor jovem, mas sem cair na armadilha do populismo.

Se não houver essa construção, o país continuará preso ao mesmo ciclo: uma eleição marcada pelo “voto contra”, seguida de frustração, desencanto e novos extremismos. Como bem disse Hannah Arendt, “a política baseia-se no fato da pluralidade humana”. Enquanto não aceitarmos que o Brasil é mais do que dois lados em disputa, continuaremos reféns de uma democracia limitada, onde o cansaço político se torna a maior força eleitoral.

A pergunta que fica é: quem terá coragem para romper esse ciclo?

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