João Paulo Teixeira e Paola: transplante de rins feito com o coração

Nilson Gomes-Carneiro

Especial para o Jornal Opção

João Paulo Teixeira era uma criança muito inteligente, esperta, criativa, irrequieta, mas desde cedo se notava que alguma coisa estava errada. Eram os rins. Um caso singular: no plural. Ambos haviam parado de funcionar. Imagine o sofrimento… Nem imagine, dói só de pensar. Imagine ele. Imagine nele. Imagine-o sem eles.

Vai aqui, vai acolá, não conseguiram doador, mesmo com grande interregno enquanto se aguardava o menino chegar ao menos à pré-adolescência. Mal aportou na pré e já foi necessário providenciar. Sem alguém externo, examinaram os familiares. Coube à mãe, Joeci. E seu rim coube no filho. Coube até mais. Se o coração de mãe é desmedido, o rim foi na medida certa. Coube junto aos dois rins necrosados. Para quem não possuía, um que prestasse, JP passou a ter três. Doze anos, três rins e uma vida pela frente.

Pelos 25 anos seguintes, completados em 2024, João Paulo teve a rotina de quem mora em cidade grande (Goiânia) e média (Caldas Novas). Cursou Jornalismo, trabalhou na imprensa falada e escrita, foi secretário municipal de Comunicação, decidiu campanhas eleitorais, montou agência de mídia digital, casou com a Paula, virou pai da Bebel. Até que chegou 2024.

Já não faziam efeito as dezenas de pílulas que tomou ao longo do 1/4 de século para colaborar na aceitação do órgão pelo corpo. Era terno e materno, não eterno. Foi ao médico, a outro, a outros, a muitos, a trocentos. O mesmo diagnóstico: o rim da mãe tivera o destino dos companheiros do lado, a necrose.

O homem, que mantinha as características da infância, acusou o baque. Não era possível que os piores pesadelos da infância iriam voltar como numa franquia de filmes de terror! Logo com ele, renomado entendedor de cinema, que sabe quão ruins são essas obras. Com um detalhe: o mocinho se salva no final, mas sofre horrores.

Tinha de ser forte. Por ele, pela Bebel, pela Paula, pelos pais, pela irmã. Buscar forças onde? Na família. Na vontade de vencer. E na nefrologia. Depois de ir a tantos, descobriu o mais abençoado, o melhor do Brasil na área, Afonso Lucas Oliveira Nascimento, goiano de Inhumas, dotado de uma paciência tão galática quanto seu talento. Doutor Afonso é digno do Nobel de Medicina e sua equipe deveria receber todos os prêmios que a bondade designar.

Enquanto isso, JP se via obrigado a trabalhar. Tinha horário para tudo: sofrer com a doença das 6 às 8, indignar-se com o destino das 8 às 10, procurar terapia das 10 ao meio-dia, fingir que estava tudo bem no almoço com os clientes das 12 às 14, criação de peças de campanhas das 14 às 23, dormir com a Bebel e a Paula para transfusão de felicidade e o transplante de ânimo que elas lhe injetavam das 23 às 6, padecer na diálise no período que o Doutor Afonso determinasse, gerir a empresa e suas criações.

Por obra e graça dos céus, aconteciam também coisas boas no ofício. O pai virou seu motorista. Paula se embrenhou nos negócios do marido sem sair dos seus. Paola, a irmã, foi cuidar das lojas da cunhada e da agência de JP, junto com os fiéis escudeiros Adriely Santos e Bruno Vasconcelos.

Por obra e graça divinas, duas clientes da agência, Fabianne Leão (de Inhumas) e Cristiane Pina (de Senador Canedo), são especialistas em Psiquiatria. O celular virou divã, o prestador de serviços virou paciente.

Tá, e o que tem a ver aquela foto linda que ilustra o texto com essa história toda? O que tem a ver é que por obra e graça de tanta gente maravilhosa, terrena e celestial, João Paulo foi operado na tarde desta segunda-feira na Unidade de Transplantes do Hospital Estadual Alberto Rassi, o velho e novamente bom HGG, em Goiânia.

Até alguns amigos agnósticos e outros desconfiados nos apegamos com Deus das 2 da tarde às 7 da noite. Já havia me comprometido a ir a Trindade com o inspetor Newton Morais pelo resultado na luta contra uma injustiça, agora terei de ir também ao Muquém em louvor de JP e Paola. Ah, Paola é a moça ao lado dele na foto e em qualquer lugar. A primeira doadora foi Joeci, agora foi Paola.

Deu tudo certo, não graças a nossas preces, pois nosso crédito com o Altíssimo nem é lá essas coisas. Deu certo porque o JP merece. Deu certo porque Deus iluminou o caminho ao encontro dos profissionais cujas mãos são guiadas pela ciência e a fé. Deu certo para o João Paulo ter a oportunidade de viver e viver bem para ir à formatura de doutorado da netinha da Bebel.

Afonso já chegou lá porque, além de outras láureas obtidas com esforço e reconhecimento internacionais, é um doutor em modéstia. Por sua inspiração, a equipe que tirou o rim de Paola e implantou em JP teve o desempenho que já salvou e continua salvando centenas de pessoas. Esses, sim, são heróis.

Parabéns e um muito obrigado coletivo, em nome da Humanidade a que às vezes desprezamos, a Afonso Nascimento, Déborah Assenço, Juliana de Oliveira Barbosa, Marcus Vinícius Chalar e os demais anjos de branco (alguns de azul) que deram ao JP a chance de permanecer sendo uma criança adulta inteligente, esperta, criativa, irrequieta. Como a que sempre foi. Como a que Bebel é. Como a que a doutora netinha da Bebel também será. E tomara que essa bisneta seja tão privilegiada por Deus em seu ofício como o são os doutores Afonso e Marcus Vinícius, Déborah e Juliana.

Pode enquadrar a foto e colocar no Museu Zoroastro Artiaga. Aquele sorriso ali é fruto da saúde pública do Estado de Goiás, da expertise de profissionais goianos e da bondade de Deus, o Senhor dos que creem e dos que ainda duvidam.

Nilson Gomes-Carneiro, advogado e jornalista, é colaborador do Jornal Opção.

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