Dólar fica acima de R$ 5,80 após dados de emprego no Brasil e tarifas de Trump; Bolsa sobe apesar de ações da Petrobras despencarem

Dólar

VITOR HUGO BATISTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar tinha alta nesta quinta-feira (27) com os investidores avaliando os dados do desemprego no Brasil e a confirmação de tarifas de importação por parte dos Estados Unidos contra México e Canadá, além de taxas adicionais contra a China.

Às 15h18, a moeda dos EUA subia 0,57%, cotada a R$ 5,830, superando o patamar dos R$ 5,80 pela primeira vez desde 3 de fevereiro.

Nesta manhã, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a taxa de desemprego subiu a 6,5% no trimestre até janeiro no Brasil. O indicador ficou 0,3 ponto percentual acima dos 6,2% registrados nos três meses até outubro, que servem de base de comparação, mas abaixo dos 6,6% esperados por analistas consultados pela Bloomberg.

Os mercados também reagiam à declaração do presidente dos EUA, Donald Trump, em publicação na plataforma Truth Social, que as tarifas propostas sobre México e Canadá entrarão em vigor em 4 de março, conforme programado. Ele também afirmou que será cobrada uma taxa adicional de 10% sobre a China nesse dia.

Já a Bolsa subia 0,22%, aos 125.050 pontos, apesar das ações Petr3 e Petr4, da Petrobras, despencarem 5,65% e 4,18%, respectivamente, por volta das 15h18, depois de a estatal registrar lucro de R$ 36,6 bilhões em 2024 -uma queda de 70% em relação ao verificado em 2023. Mais cedo, as ações haviam registrado queda de até 9% após falas da presidente da estatal, Magda Chambriard.

As ações da Ambev e da Embraer estavam entre os destaques, subindo 5,98% e 12,53%, respectivamente, segurando o sinal positivo da Bolsa. Resultados do balanço do quarto trimestre das empresas estavam sob o holofote dos investidores.

Começando pela ponta doméstica, os agentes financeiros seguem expressando temores com a trajetória da inflação e com o compromisso do governo em equilibrar as contas públicas após os recentes dados sobre emprego no Brasil.

A alta no desemprego no trimestre até janeiro, divulgada nesta manhã, foi atribuída principalmente a efeitos sazonais. Apesar do aumento em relação ao intervalo imediatamente anterior, a taxa de 6,5% é a menor para os trimestres até janeiro na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012. Igual valor foi verificado no período até janeiro de 2014.

Na véspera, dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) mostraram que o Brasil abriu 137,3 mil vagas formais de trabalho em janeiro, bem acima das 48 mil vagas esperadas por economistas consultados pela agência de notícias Reuters.

Apesar dos dados virem fortes, positivos e muito além das expectativas, o efeito no mercado de câmbio em um primeiro momento é negativo.

Isso porque o mercado financeiro vê os dados com pessimismo, uma vez que podem significar um descontrole dos salários e dos preços, e um aumento da inflação e a permanência dos juros em patamares elevados, na percepção de investidores, que temem ainda a capacidade do governo de controlar a economia diante de um aquecimento.

Um mercado de trabalho mais forte significa aumento de consumo, o que deve aumentar os preços. Com preços mais resilientes, o Banco Central pode ter que subir mais, e por mais tempo, a taxa básica de juros (Selic), atualmente a 13,25%, para controlar a inflação. A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC será em março.

“Os investidores estão ancorando a expectativa na incerteza sobre o controle da inflação e manutenção dos gastos públicos no futuro”, disse Nicolas Gomes, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

“Investidor estrangeiro está atento aos dados do PIB nos EUA e dados de emprego. Caso venha com uma indicação de aquecimento econômico podemos ter mais pressão na moeda”, afirmou Gomes.

Na quarta-feira (26), o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, criticou a reação do mercado ao número que já havia sido antecipado por ele na segunda.

“O tal do mercado ficou nervosinho, incapacitados que são de fazer projeções que correspondam com a realidade do Brasil. Foi assim em 2023, projetaram 0,7% no máximo de crescimento do PIB e crescemos 3,2%. [Projetaram] No máximo 1,7% em 2024 e crescemos 3,8%. E estão tentando de novo projetar para baixo a realidade da economia brasileira”, disse.

A perspectiva de uma inflação mais alta para 2025 e 2026 veio destacada no último boletim Focus. É a 19ª semana seguida que analistas consultados pelo Banco Central. A expectativa é de que a inflação suba do patamar de 5,60% para 5,65% ao fim deste ano, e de 4,35% para 4,40%, no próximo ano.

A prévia da inflação, o IPCA-15, acelerou a 1,23% em fevereiro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), acumulando alta de 4,96% em 12 meses, bem acima do centro da meta perseguida pelo BC de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Entre os fatores que podem pressionar a inflação está a liberação de R$ 12 bilhões do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e o pagamento do programa Pé-de-Meia, iniciado nesta terça-feira.

As medidas colocariam mais renda à disposição da população, o que também aumentaria o consumo, podendo aumentar os preços e pressionar a inflação -consequentemente, pressionando a decisão do BC sobre os juros.

Nos últimos dias, o mercado ainda tem sinalizado maior nervosismo de que a recente queda de popularidade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) possa levar à adoção de medidas que piorem ainda mais a situação das contas públicas.

Isso porque os investidores temem que o presidente possa se distanciar do compromisso fiscal e ampliar gastos para atrair uma avaliação mais positiva por parte da população.

Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira reforça a série de más notícias envolvendo a avaliação de governo e a projeção de Lula para as eleições de 2026.

Ainda na ponta doméstica, investidores também se mantinham atentos às articulações políticas em Brasília, com foco nas mudanças nos ministérios e em anúncios que podem impactar a área fiscal.

Lula afirmou nesta quinta-feira que irá fazer mais trocas em seu ministério e que espera concluir a reforma no primeiro escalão do governo até depois do Carnaval.

Na véspera, o presidente demitiu a ministra da Saúde, Nísia Trindade, e indicou para seu lugar Alexandre Padilha, que deixará a Secretaria de Relações Institucionais. O mercado segue atento se essa dança das cadeiras pode atingir o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

As mudanças são uma tentativa de Lula de retomar apoio político em Brasília, em um contexto de queda de popularidade.

Já na ponta internacional, o foco do mercado esteve em torno de novos comentários do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre seus planos tarifários.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quinta-feira que as tarifas propostas sobre México e Canadá entrarão em vigor em 4 de março, conforme programado, porque ainda há entrada de drogas nos EUA provenientes desses países.

Trump também disse que será cobrada uma taxa adicional de 10% sobre a China nesse dia, de acordo com uma publicação em sua plataforma Truth Social.

O presidente norte-americano disse que as drogas ainda estão entrando nos EUA em “níveis muito altos e inaceitáveis”, com uma grande porcentagem delas sendo fentanil.

“Não podemos permitir que esse flagelo continue prejudicando os EUA e, portanto, até que ele pare ou seja seriamente limitado, as TARIFAS propostas programadas para entrar em vigor no dia 4 DE MARÇO entrarão, de fato, em vigor, conforme programado”, disse Trump.

“Da mesma forma, será cobrada da China uma tarifa adicional de 10% nessa data.”

“As ameaças de Trump foram em parte ignoradas ontem devido à expectativa de que ainda haveria negociações e que as tarifas poderiam ser evitadas. Mas a confirmação de hoje foi uma clara mensagem para o mercado de que as tarifas estão a caminho e que não devem ser subestimadas”, disse Eduardo

Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.

Nesta quarta, Trump ameaçou impor tarifas de 25% sobre a importação de bens da União Europeia.

“Tomamos uma decisão e a anunciaremos muito em breve”, disse ao ser questionado sobre os planos para taxar o grupo.

“Será de 25% em geral, e isso será aplicado a carros e a todas as outras coisas”, afirmou.

O mercado também segue monitorando as negociações para um acordo pelo fim da Guerra da Ucrânia entre o presidente americano e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

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