Brasil nomeia enviado especial contra negacionismo climático em meio a ofensiva de Trump

frederico assis

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Em plena ofensiva do presidente dos EUA, Donald Trump, contra transição energética e combate ao aquecimento global, o governo brasileiro nomeou seu primeiro enviado especial contra o negacionismo climático.

Frederico Assis, que é assessor da assessoria internacional da Presidência, sob Celso Amorim, vai atuar na COP30, conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre mudanças climáticas que será realizada em Belém, em estratégias de combate ao negacionismo climático.

Uma de suas funções, inclusive, será tentar articular alternativas de financiamento após o corte de recursos da Usaid, a agência do país americano para o desenvolvimento internacional, para organizações de enfrentamento da desinformação no mundo.

O enviado especial do Brasil contra negacionismo climático se reportará ao presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, e ao secretário de políticas digitais da Secom (Secretaria de Comunicação Social), João Brant. Um dos objetivos é que a discussão sobre desinformação ligada a mudanças do clima não fique de escanteio durante ofensiva de Trump.

A ideia é ter alguém de perfil mais político para costurar articulações entre ONGs, big tech e governos, além de desenhar estratégias para aumentar a conscientização sobre o aquecimento global em um momento em que esse tema virou tabu nos EUA e alguns outros países com governos conservadores.

Antes de trabalhar com Celso Amorim, Assis foi assessor direto do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Outra prioridade do governo é fortalecer a iniciativa global pela integridade da informação sobre clima, plano conjunto do Brasil com a SG-ONU e UNESCO, lançado durante o G20, no Rio, em novembro do ano passado. A iniciativa irá direcionar recursos para pesquisas sobre desinformação a respeito do tema, bem como campanhas de esclarecimento e ações diplomáticas.

Donald Trump afirma que existe uma “tóxica indústria da censura que surgiu sob o disfarce de combate à desinformação.” Ele determinou cortes nos financiamentos a essas iniciativas nos EUA e outros países.

Além de retirar os EUA do Acordo do Clima de Paris, Trump criou estímulos para exploração de combustíveis fósseis e paralisou os programas do ex-presidente Joe Biden de incentivo a energias renováveis.

Mas o republicano está agindo também no front da informação -ele expurgou referências à crise climática de vários sites dos órgãos governamentais americanos. Foram eliminadas as seções de mudanças climáticas no sites do Departamento de Estado (equivalente ao Itamaraty), da Casa Branca e do Departamento de Agricultura.

No Departamento de Transportes, circulou uma determinação para acabar com qualquer programa, diretriz ou financiamento que “se refira a mudança climática”, “justiça climática”, além de identidade de gênero, igualdade racial e diversidade e inclusão.

Também foram retirados dos sites estudos que tratavam de aquecimento global e suas consequências.

No primeiro mandato de Trump, caiu em 40% a ocorrência do termo “mudanças climáticas” nos sites das agências governamentais ligadas a meio ambiente, segundo estudo da Iniciativa de Dados e Governança Ambiental.

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