Pesquisadoras da UFG desenvolvem técnica para limpar água de esgoto devolvida ao meio ambiente

Pesquisadoras da Universidade Federal de Goiás (UFG) realizaram um estudo para aprimorar o tratamento de esgoto sanitário, incorporando um processo químico no tratamento terciário para remover impurezas remanescentes. O estudo, realizado no Laboratório de Tratamento de Águas Residuárias (Labtar), foi conduzido por Larissa Queiroz Silva durante seu mestrado em Química.

A pesquisa testou a eficácia do Processo de Oxidação Avançada (POA) com persulfato de sódio, um produto químico que melhora a qualidade da água devolvida aos corpos hídricos, aumentando a remoção de poluentes.

Os resultados mostraram uma redução de 70% na turbidez da água e diminuição de 52% a 51% na matéria orgânica, dependendo da estação. Além disso, a pesquisa evidenciou um aumento no oxigênio dissolvido na água, indicando uma melhoria na qualidade da água tratada.

Larissa Queiroz Silva (pesquisadora) e Sarah Araújo (graduação). Laboratório de Tratamento de águas residuárias – Labtar- Instituto de Química – IQ-Universidade Federal de Goiás l Foto: Arquivo pessoal

O estudo destaca a importância de adotar novas tecnologias de purificação devido à poluição causada pelo esgoto não tratado, uma preocupação global. A pesquisa sugere que tratamentos com Processo de Oxidação Avançada (POA) podem ser fundamentais para enfrentar a crise hídrica e a escassez de água potável.

Para entender melhor sobre a pesquisa, o Jornal Opção ouviu a mestranda e líder da pesquisa, Larissa Queiroz, e a professora orientadora, Núbia Natália, que explicaram como se deu todo o processo e qual a funcionalidade prática do resultado da pesquisa.

Inovação no tratamento de esgoto

Larissa Queiroz Silva, aluna de mestrado em Química e líder de um projeto de pesquisa no Laboratório de Tratamento de Águas Residuárias (Labtar), compartilha os avanços de um estudo desenvolvido em parceria com a Saneago. Sob a orientação da professora Núbia Natália, Larissa e a equipe, incluindo a assistente Sarah Borges, conduziram um projeto de tratamento terciário de esgoto sanitário em estações de tratamento da região metropolitana de Goiânia.

O projeto, iniciado no final de 2022, teve como objetivo aprimorar os métodos de tratamento de esgoto com a introdução do persulfato de sódio, um reagente oxidante de baixo custo, mas com alta eficiência. Esse composto foi escolhido devido ao seu potencial de remover poluentes emergentes e reduzir contaminantes difíceis de eliminar com tratamentos biológicos tradicionais.

Equipamento Jar Test com esgoto doméstico em tratamento químico l Foto: Arquivo pessoal

A pesquisa focou na utilização do persulfato de sódio para o polimento final do esgoto, visando a remoção de matéria orgânica, turbidez e aumento de oxigênio dissolvido. Os resultados foram promissores, com uma redução de até 70% da turbidez e 52% da matéria orgânica, além de um aumento significativo do oxigênio dissolvido, que contribui para a preservação da vida aquática no Rio Meia Ponte, um dos principais corpos d’água de Goiás.

Solução para a crise hídrica

Além dos ganhos ambientais diretos, o estudo visa contribuir para a discussão sobre o reuso de água, um tema crucial diante da escassez hídrica no estado de Goiás. Larissa destaca que o Rio Meia Ponte, fonte de água essencial para a região, sofre com a escassez de água potável, principalmente durante a seca. O projeto busca, futuramente, explorar o reuso do esgoto tratado, com ênfase nas legislações ambientais que regem o uso de água reutilizada.

A pesquisa sugere que, com a implementação de tecnologias de tratamento terciário, seria possível melhorar a qualidade da água descartada e promover o reuso sustentável. No entanto, Larissa enfatiza a importância de uma avaliação mais aprofundada dos parâmetros ambientais e de garantir que qualquer aplicação do fluente tratado esteja em conformidade com as normas ambientais.

Pesquisadora Larissa Queiroz Silva l Foto: Arquivo pessoal

Perspectivas futuras

Em relação aos próximos passos, Larissa explica que, após a finalização da pesquisa em 2024, o objetivo é expandir os estudos para outras unidades de tratamento de esgoto no estado de Goiás. Embora a implementação em larga escala ainda não tenha sido definida, a expectativa é que, no futuro, as tecnologias estudadas possam ser aplicadas em maior escala, contribuindo para a melhoria do saneamento e qualidade ambiental da região.

Além disso, Larissa destaca a importância da parceria com a Saneago, que forneceu suporte e dados essenciais para o andamento da pesquisa. O apoio da empresa também foi fundamental para avaliar a eficiência do tratamento de esgoto nas condições reais de operação.

O estudo desenvolvido no Labtar representa um avanço significativo no tratamento de esgoto e no reuso de águas residuais em Goiás. Ao aprimorar o tratamento com baixo custo e alta eficiência, ele oferece soluções potenciais para a crise hídrica e a gestão de recursos hídricos no estado. A pesquisa pode ser um modelo para outras regiões do Brasil, demonstrando como a inovação no saneamento pode ajudar a enfrentar os desafios ambientais atuais.

Avanços na pesquisa de tratamento de esgoto e reuso da água

Em entrevista, a professora e doutora Núbia Natália de Brito, do Instituto de Química (IQ), ralatou suas experiências e avanços nas pesquisas relacionadas ao tratamento de esgoto e à possibilidade de reuso da água. Com vasta experiência na área de química ambiental, Núbia coordena o Laboratório de Tratamento de Águas Residual (Labtar), onde há anos se dedica ao estudo de tecnologias de tratamento, desde sua iniciação científica até o doutorado.

professora e doutora Núbia Natália de Brito: “esse reagente se destaca por seu baixo custo e alto potencial de oxidação” l Foto: Arquivo pessoal

“Eu trabalho na área de meio ambiente, na área de química ambiental, há muito tempo. E a parte da pesquisa que a gente faz no laboratório também é relacionada a isso”, afirmou Núbia, destacando a importância do trabalho contínuo realizado no laboratório. “A gente já vem trabalhando em tratamentos de efluentes, em água e em esgoto.”

Integração de tratamento químico ao sistema existente

Um dos principais objetivos da pesquisa é integrar um tratamento terciário aos tratamentos já existentes, como os biológicos, aplicados em larga escala. “A intenção é acoplar um processo terciário, que no caso seria um processo químico, para melhorar a característica desse esgoto final antes de lançar ele no rio, ou então conseguir uma remoção de matéria orgânica interessante a ponto de começarmos a estudar o reuso da água”, explicou.

Núbia ressaltou a relevância do reuso da água, especialmente diante da crise global de escassez de água potável. “Com essa crise global, com a falta de água, tanto em quantidade quanto em qualidade, a tendência mundial é que tenhamos que fazer o reuso da água”, afirmou.

A pesquisa também está explorando a possibilidade de utilizar águas tratadas em atividades não potáveis, como irrigação e construção civil. “Existe a possibilidade de fazer esse tipo de reuso com as tecnologias já existentes”, destacou a doutora.

Em relação ao uso do sulfato de sódio no tratamento de esgoto, Núbia explicou que esse reagente se destaca por seu baixo custo e alto potencial de oxidação. “Ele tem um potencial redox alto, o que ajuda a quebrar a molécula poluente. Além da desinfecção, conseguimos degradar a matéria orgânica, que é poluente e prejudica a vida nos rios.”

Equipamento Jar Test com esgoto sanitário antes do tratamento químico l Foto: Arquivo pessoal

A remoção de matéria orgânica e turbidez é essencial para a preservação do ecossistema aquático. “Quando descartamos um efluente com alta concentração de matéria orgânica ou sólidos suspensos, acabamos diminuindo o oxigênio no rio e causando a morte de peixes”, explicou. Além disso, ela ressaltou a importância de evitar a contaminação das populações que dependem desses rios para irrigação e consumo.

Potencial de aplicação da pesquisa em efluentes industriais

Núbia também enfatizou que a pesquisa tem grande potencial para ser aplicada em outros tipos de efluentes, como os industriais. “O processo de oxidação avançada é muito estudado para o tratamento de efluentes industriais, que frequentemente são mais poluentes que os esgotos sanitários”, afirmou.

Com relação à implementação do tratamento em larga escala, a professora afirmou que o novo marco legal de saneamento no Brasil traz uma oportunidade única. “Precisamos aumentar o número de estações de tratamento, principalmente de esgoto, e utilizar tecnologias mais eficientes”, disse. A pesquisa está em fase de análise e experimentação em escala maior, com o objetivo de avaliar a viabilidade do reuso da água tratada.

A parceria com a Saneago foi crucial para o desenvolvimento da pesquisa, como destacou Núbia: “A Saneago foi super solícita, apoiou a pesquisa e nos cedeu o esgoto sanitário para coletarmos e realizarmos os testes.” Agora, a próxima etapa será a aplicação em escala piloto, para avaliar o impacto real do tratamento.

Apesar de não considerar que a pesquisa possa “salvar o Brasil”, Núbia acredita que ela contribui para encontrar soluções práticas para o problema do saneamento. “Existem diversas possibilidades, e uma delas é o uso de processos químicos para a remoção maior de poluentes e para reuso da água”, explicou.

Por fim, a professora ressaltou que, embora a pesquisa revele um caminho promissor, a implementação depende de apoio dos gestores públicos e da iniciativa privada. “Falta boa vontade dos gestores públicos. A questão do saneamento envolve gestão, custo e a compreensão da população”, concluiu. Ela ainda destacou que a tecnologia encontrada é acessível, sem necessidade de equipamentos sofisticados, o que a torna uma alternativa viável para o futuro.

Saneago

Estação de tratamento da Saneago l Foto: Reprodução

A Saneago explicou que o tratamento de esgoto é realizado de forma eficiente pela empresa e que a implementação dos resultados da pesquisa requer mais análise.

Veja a nota na íntegra:

A Saneago é uma empresa aberta à pesquisa, trabalhando em parceria com diversas instituições de ensino e pesquisa, entre elas a Universidade Federal de Goiás (UFG).

Em relação ao referido estudo, esclarecemos que a Saneago forneceu amostras do efluente da estação (esgoto após passar pelas etapas de tratamento) e que a pesquisa foi conduzida por pesquisadoras da UFG.

O feedback das pesquisadoras indica que a implementação prática da solução ainda exige mais análises. No entanto, o estudo representa um caminho promissor, especialmente no que diz respeito aos benefícios ambientais.

Cabe ressaltar que o tratamento de esgoto realizado pela Saneago é eficiente e atende aos padrões de lançamento exigidos pela legislação.

Diante disso, conclui-se que a pesquisa apresenta alternativas para aprimorar a preservação ambiental e aponta a possibilidade de reuso da água, embora ainda sejam necessários estudos mais aprofundados para viabilizar sua aplicação em larga escala.

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