Alckmin destaca superávit dos EUA com Brasil em conversa com auxiliares de Trump

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RICARDO DELLA COLETTA E NATHALIA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

O vice-presidente Geraldo Alckmin argumentou aos principais auxiliares de Donald Trump para a área de comércio que os Estados Unidos são superavitários nas trocas com o Brasil em cerca de US$ 200 milhões (R$ 1,14 bilhão) e que o país aplica tarifa zero em alguns dos principais produtos comprados dos americanos.

Alckmin teve nesta quinta-feira (6) uma videoconferência com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e com o representante de Comércio americano, Jamieson Greer.

A conversa, que durou 50 minutos, faz parte de uma operação montada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para tentar evitar que o Brasil se torne alvo de tarifas aplicadas por Trump -o republicano iniciou uma guerra comercial com seus principais sócios econômicos: México, Canadá e China.

De acordo com nota da assessoria do vice-presidente, além de destacar que o comércio bilateral tem favorecido os americanos, Alckmin disse que as tarifas efetivamente recolhidas pelo Brasil são menores do que os índices nominais.

“Dos dez produtos que o Brasil mais importa dos Estados Unidos, oito a tarifa é zero. A tarifa média ponderada efetivamente recolhida é de 2,73%, bem abaixo do que sugerem as tarifas nominais”, diz trecho do comunicado.

“O Brasil responde pelo 7º maior superávit comercial de bens dos Estados Unidos. Se somarmos bens e serviços, o superávit comercial dos Estados Unidos com o Brasil supera os US$ 25 bilhões”.

Ainda de acordo com a nota, foram apresentados os detalhes da política tarifária recíproca durante a conversa. Alckmin e os auxiliares de Trump concordaram em manter reuniões bilaterais sobre o tema nos próximos dias.

Pelo lado brasileiro, participaram da reunião o secretário-executivo do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), Márcio Elias Rosa, a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, a secretária-executiva da Camex (Câmara de Comércio Exterior), Marcela Carvalho, e o secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços, Uallace Moreira.

Também estiveram presentes o diretor do departamento de Política Comercial do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Fernando Pimentel, e o secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, embaixador Maurício Lyrio.

Segundo a Amcham (Câmara Americana de Comércio para o Brasil) a partir de estatísticas americanas, entre 2014 e 2023, os EUA acumularam um superávit de US$ 263,1 bilhões no comércio de bens e serviços com o Brasil. Apenas em 2024, o saldo positivo em bens para os americanos foi de US$ 7,3 bilhões, o sétimo maior entre seus parceiros comerciais.

No governo Lula, há a avaliação de que o Brasil está em uma posição equilibrada quando se trata da tarifa efetiva e que esse caminho deve ser explorado. Dados da Amcham mostram que, embora a tarifa média nominal brasileira para o mundo seja de 12,4%, a tarifa média efetiva ponderada sobre as importações dos EUA é de 2,7%.

O tema das tarifas já tinha sido parte da conversa de Alckmin com o senador republicano Steve Daines em reunião em Brasília, em fevereiro.

Em 13 de fevereiro, Trump assinou uma ordem de implementação de tarifas recíprocas, mirando países que, segundo o governo americano, taxam excessivamente sobre produtos dos EUA.

O etanol brasileiro esteve no topo da lista de exemplos elencados pelo governo americano em um documento que resumiu as medidas.

“A tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%. No entanto, o Brasil cobra uma tarifa de 18% sobre as exportações de etanol dos EUA. Como resultado, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto exportaram apenas US$ 52 milhões em etanol para o Brasil”, disse trecho do texto.

Os estudos devem ficar prontos até 1º de abril. Até lá, a expectativa do governo Lula é conseguir negociar um acordo com os americanos.

Outra medida do republicano que afeta o Brasil é o anúncio de uma sobretaxa de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio para os EUA.

Produtos semiacabados de aço estão entre os principais itens exportados pelo Brasil aos EUA, ao lado de petróleo bruto, produtos semiacabados de ferro e aeronaves.

Segundo dados do governo americano, entre novembro de 2023 e novembro de 2024 o Canadá foi o maior fornecedor de aço para os americanos, com 22,6% do total, seguido pelo Brasil (16,4%) e o México (11,9%).

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