Donald Trump, um troglodita, jogou a diplomacia na lata de lixo

Nunca o poderio dos americanos ficou tão evidente como neste início de governo do presidente Donald Trump. Todos sabiam ser os Estados Unidos a nação mais poderosa do mundo, mas não na dimensão agora demonstrada. O líder republicano matou a cobra e mostrou o pau. Ele está colocando o mundo de joelhos aos seus pés. Nenhum país foi poupado, principalmente os seus aliados.

Mesmo que concordando com as razões levantadas por Trump como: sustentar a defesa da Europa sem uma adequada contrapartida dos europeus, que economizam na defesa para gastar no welfare state; como nas práticas mercantilistas, que se aproveitam da prática de livre comércio dos Estados Unidos; como na absurda Agenda Woke, que troca o mérito pela esmola; e principalmente pelos desperdícios e corrupção existente no Deep State, que Elon Musk quer racionalizar (Doge), não dá para ter empatia com ele.

O que o qualifica como um troglodita não são os fins, mas os meios adotados para atingir os seus objetivos. Com Trump a diplomacia foi jogada na lata do lixo, como na lei da selva, onde dominavam os trogloditas em que predominava a força bruta.

A base da sua ação equivale a mesma tática usada pelos nazistas na invasão da França, na Segunda Guerra Mundial, que ficou denominada como a blitzkrieg. Esta estratégia que tem na sua essência chocar e surpreender, tentando fazer o máximo em muitas frentes tão rapidamente para confundir e esmagar qualquer oposição pelo volume e velocidade e para tornar impossível aos inimigos reunir-se em resistência.

Hitler dopou com drogas as tropas na invasão da França para que ficassem excitadas e não parassem para descanso. Os franceses, surpreendidos e assustados pela violência e velocidade, não tiveram outra saída senão a rendição.

Trump, em poucos dias, com uma instabilidade e desrespeito a qualquer nível de civilidade, atacou surpreendentemente os seus históricos aliados: Canadá, México, Dinamarca e Panamá. Além de ameaçar a China e muitos outros. Ao romper com a Pax Americana, Trump está isolando os Estados Unidos do mundo.

Quem não conserva os amigos, amplia o arco de potenciais inimigos. Estas são as sementes que Trump está semeando. Ninguém, nem os Estados Unidos, é tão poderoso que não pode precisar de alguém em algum tempo; assim como ninguém é tão insignificante que não pode ser útil em alguma circunstância.

No arsenal de armas de Trump está o uso do dólar e as tarifas sobre as importações. Tudo tão imprevisível que o mundo foi pego de surpresa. As reações virão em termos econômicos e políticos. Com certeza, doravante, talvez não na mesma violência e velocidade do ataque, as nações, ao perder a confiança nos Estados Unidos, vão procurar não depender do dólar e nem das exportações para o mercado americano. A consequência é que o porto seguro será não colocar todos ovos na cesta deles.

A Pax Americana corre perigo. A geopolítica foi colocada de ponta cabeça. Na crise de 1929, o craque, ao contrário do que muitos acreditam, foi motivada justamente pelo aumento das tarifas sobre importação, aumento das taxas de juros pelo Tesouro americano e inação do governo nas corridas aos depósitos dos bancos.

Será que o Trump, quebrando as cadeias globalizadas com barreiras tributárias estaria repetindo um erro do passado? Certamente estará comprando inflação, que castigará o consumidor; instabilidade, que dificulta a gestão empresarial; e inibirá os investimentos. Só o tempo dirá. A história registra que o mercantilismo, que é a ideia inspiradora do Trump, nunca deu bons resultados.

O trogloditivismo do Trump nos remete, além de um mercantilismo superado, ao abandono do softpower, que substitui o hardpower dos tempos do Theodore Roosevelt. Esta política — Big Stick Diplomacy — era baseada na teoria do uso da força . Existe um custo de longo prazo do risco conhecido do Beggar-thy-neighbor — uma expressão que se refere a políticas que um país adota para beneficiar a sua economia, mas que prejudicam a economia de outros países. Uma política de trocas do tipo que aprofundou a Grande Depressão de 1929.

Trump está comportando-se como agente do caos, que usa da força extrema para tirar vantagens das outras nações. Abandonando o soft-power, que deu ao mundo a Pax Americana, desde 1945, e ao mundo uma admiração pelos americanos, poderá ter como resultado não o esperado e nem desejado.

Por oportuno, sugiro a releitura do meu artigo “Albert Hirschman explica porque tentativas de transformação social não foram bem-sucedidas” (https://tinyurl.com/5cfnak8d), de 25 de janeiro deste ano. O texto trata da tese da perversidade das mudanças sociais forçadas, que terminam mal quando a ação do homem interfere na sua trajetória. Geralmente os resultados não correspondem às suas boas intenções.

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