Golpes virtuais crescem no DF e expõem falhas na segurança digital

hacker de computador com capuz roubar informacoes com o laptop

Os crimes cibernéticos têm se tornado uma preocupação crescente no Distrito Federal, com um número alarmante de vítimas. Em 2024, quase 70% dos delitos virtuais registrados no DF foram estelionatos, totalizando 18.572 ocorrências, segundo a Polícia Civil. A cada 28 minutos, um morador da capital federal cai em um golpe aplicado pela internet, evidenciando a sofisticação das fraudes e a dificuldade das autoridades em coibir esse tipo de crime.

Moradora do Paranoá, a aposentada Iris Cordeiro, de 78 anos, foi vítima de um golpe cibernético que lhe causou um prejuízo de R$ 5.300. A idosa recebeu uma mensagem no celular de um número desconhecido, mas a foto de perfil exibida era a de seu filho, Valdinei. Sem desconfiar, ela atendeu à chamada e ouviu uma voz que se passou por ele.

“Oi, mãe, tudo bem?”, perguntou o golpista. Diante da naturalidade da conversa e da foto que correspondia ao perfil do filho, Iris acreditou que realmente estava falando com ele. O criminoso alegou ter trocado de número e, em seguida, pediu ajuda. “Minha conta deu um problema na senha eletrônica e preciso pagar uns boletos”, disse o falso Valdinei.

Sem imaginar que se tratava de um golpe, a idosa prontamente se dirigiu à lotérica e pagou os primeiros boletos. Pouco tempo depois, novos pedidos de pagamento começaram a chegar. Confiando na promessa de que o dinheiro seria devolvido no dia seguinte, ela realizou todas as transferências solicitadas.

No entanto, durante a madrugada, Iris acordou assustada, com a sensação de que algo estava errado. “Foi como se uma voz me dissesse: ‘Você foi lesada’. Tomei um susto e pensei: ‘Meu Deus do céu, acho que fui lesada mesmo’”, relatou. Pela manhã, ligou para o filho e confirmou que tinha sido vítima de um golpe. O prejuízo total foi de R$ 5.300.

Casos como o de Iris Cordeiro já se tornaram comuns pois os golpes virtuais têm se tornado cada vez mais sofisticados, sendo o phishing a técnica mais utilizada para enganar usuários e roubar informações. O especialista em crimes cibernéticos Rodrigo Fragola explica que o phishing se destaca como a principal ameaça devido à sua ampla disseminação, atingindo vítimas por e-mail, redes sociais e, mais recentemente, pelo WhatsApp.

“Os golpistas estão cada vez mais sofisticados, utilizando engenharia social e inteligência artificial para enganar as vítimas. É fundamental que as pessoas adotem medidas de segurança e desconfiem de ofertas tentadoras ou pedidos urgentes de dinheiro”*, alerta o especialista.

Segundo Fragola, os golpes mais comuns envolvem promoções falsas, venda de produtos inexistentes e fraudes em serviços como hospedagem e investimentos. “Esses golpes buscam coletar dados pessoais para roubo de identidade, induzir a vítima a aprovar transações financeiras ou instalar softwares maliciosos nos dispositivos”, alerta o especialista.

No Brasil, o crime de estelionato virtual enfrenta desafios na investigação e punição dos responsáveis. “A sensação que se tem é de impunidade. O número de casos é altíssimo, a polícia não consegue acompanhar a demanda, e muitas vítimas sequer denunciam por vergonha”, comenta Fragola. Além disso, a estrutura criminosa por trás desses golpes é altamente organizada, utilizando contas bancárias de laranjas, acessos de fora do país e mecanismos que dificultam o rastreamento.

Dentre as dificuldades para combater esses crimes, Fragola destaca três principais fatores: a dificuldade de rastrear os criminosos, a velocidade com que os golpes ocorrem e a complexidade da cooperação internacional para investigações que envolvem servidores e transações no exterior.

Para se proteger, o especialista recomenda manter os dispositivos sempre atualizados, utilizar senhas fortes e diferentes para cada serviço, adotar medidas de segurança como autenticação em duas etapas e evitar clicar em links ou fornecer dados sem verificar a autenticidade da solicitação. No entanto, ele ressalta que a atenção e a informação são as principais armas contra esses golpes. “A maioria das fraudes não é difícil de identificar. Muitos caem por estarem distraídos e não verificarem detalhes simples, como o remetente de um e-mail ou um aviso do banco informando que não entra em contato por telefone”, afirma.

Fragola enfatiza que a tecnologia está em constante evolução, e os golpes acompanham essas mudanças. “O melhor antivírus é estar informado. Novas redes sociais e aplicativos surgem o tempo todo, e os criminosos adaptam suas estratégias. Parar, respirar e conferir a veracidade das informações antes de tomar qualquer ação pode evitar grandes prejuízos”, conclui.

O Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol-DF) alerta para a vulnerabilidade da capital federal e atribui o problema à falta de investimentos adequados na categoria, que desempenha um papel fundamental na segurança digital da região.

Segundo o sindicato, sem reforço no efetivo, capacitação e valorização dos investigadores, há o risco de um colapso na segurança virtual. A entidade também destaca que facções criminosas vêm expandindo sua atuação no ambiente digital, tornando o DF um alvo cada vez mais visado.

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