“Um Jardim para Tchekhov” estreia em Brasília com Maria Padilha e texto inédito de Pedro Brício

Um jardim para Tchekhov. Crédito: Renato Mangolin

Misturando o lirismo da dramaturgia russa com a realidade brasileira, a peça “Um Jardim para Tchekhov” acaba de estrear no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (CCBB), e prosseguirá em cartaz até 2 de fevereiro, com apresentações de quinta a sábado, às 19h30, e domingo, às 17h. O espetáculo, que conta com patrocínio do Banco do Brasil por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, traz uma reflexão bem-humorada sobre os tempos de intolerância e violência que atravessam o país, sob a direção de Georgette Fadel e texto inédito de Pedro Brício.

A história gira em torno de Alma Duran, uma renomada atriz de teatro interpretada por Maria Padilha, que se vê desempregada há três anos. Morando com sua filha, a médica Isadora (Olivia Torres), e seu genro, o delegado Otto (Erom Cordeiro), em um condomínio no Rio de Janeiro, Alma passa a dar aulas de teatro para a jovem Lalá (Iohanna Carvalho) e a sonhar com a montagem de “O Jardim das Cerejeiras”, de Anton Tchekhov. No entanto, dificuldades financeiras e profissionais colocam obstáculos em seu caminho até que ela conhece um misterioso homem que afirma ser o próprio Tchekhov (Leonardo Medeiros), e juntos, eles iniciam uma jornada inesperada.

Um jardim para Tchekhov. Crédito: Renato Mangolin
Um jardim para Tchekhov. Crédito: Renato Mangolin

Trama entre comédia e drama

A peça transita entre o drama, a comédia e o lirismo, enquanto mistura os limites entre realidade e ficção. Embora o espetáculo evoque a obra de Tchekhov, ele não é uma adaptação direta do dramaturgo russo. Segundo Pedro Brício, o tom tchekhoviano está presente nas tensões emocionais e sociais que permeiam o texto. A peça reflete sobre os desafios da vida contemporânea, abordando questões como fracasso, esperança e a resistência em manter sonhos vivos, mesmo em meio à adversidade.

“O espetáculo fala sobre a capacidade de sonhar, de inventar futuros, mesmo diante da falta de perspectivas”, comenta o autor, que também está indicado ao Prêmio Shell de Teatro 2024 pela dramaturgia de “Um Jardim para Tchekhov”. O resultado será anunciado em março deste ano. “É uma peça sobre o riso diante da dor, sobre a beleza nas situações mais patéticas e sobre a leveza necessária para se viver”, completa Brício.

A diretora Georgette Fadel comenta que a encenação traz um constante movimento, com a cenografia e elementos cênicos que estão sempre mudando, como se o próprio vento fosse um personagem do espetáculo. “A impermanência da vida está presente no texto e em cada detalhe da montagem”, diz Fadel. A direção destaca também a leveza de sonhar, o afeto e as tensões que permeiam as relações humanas, trazendo ao palco bonecos João Bobo que representam os personagens e elementos que balançam e mudam de lugar conforme a trama avança.

Um jardim para Tchekhov. Crédito: Renato Mangolin
Um jardim para Tchekhov. Crédito: Renato Mangolin

Encontro com Tchekhov

Partiu da atriz Maria Padilha a ideia de fazer uma montagem envolvendo Anton Tchekhov. Seu primeiro trabalho com o autor russo foi em 1999, na peça “As Três Irmãs”, dirigida por Enrique Diaz. “Apaixonei-me por sua obra, pelo ser humano que ele foi. Desde então, sonhava em montar uma peça dele, mas é algo grandioso, com muitos personagens e ficaria inviável financeiramente. Convidei, então, o Pedro Brício, com quem havia trabalhado no monólogo ‘Diários do Abismo’, que fez uma brilhante adaptação das obras da escritora mineira Maura Lopes Cançado. Como grande dramaturgo que é, ele criou a história original que se transformou na peça ‘Um Jardim para Tchekhov’”.

“A Alma Duran é um verdadeiro presente”, a atriz sublinha. “Ela traz um sopro de vida, um sopro de arte. Chega para mudar as relações, tanto na sua família, como para a estudante de teatro Lala, que recebe aulas particulares da atriz. Alma simboliza a própria arte e o teatro como um lugar de respiro, de ar. Ela está entre o lírico e o humor, o drama e a comédia – algo que me dá muito prazer em representar como atriz”, revela Padilha.

Divas brasileiras

Maria Padilha conta que Alma Duran tem bastante de Tchekhov, “aquela coisa febril, de estar vivendo uma fantasia e, de repente, cair na realidade”. E, para além da inspiração no autor russo, as chamadas divas do teatro brasileiro têm um papel importante na construção da personagem. “Ela tem muito de Marília Pêra, que foi minha primeira diretora, da Fernanda Montenegro, da Nathália Timberg, da Renata Sorrah, por quem sou apaixonada, da Marieta Severo, da Camila Amado.

Admiro todas que vieram antes de mim, que construíram a história do teatro, como Cleyde Yáconis, Cacilda Becker, Dercy Gonçalves, Tônia Carreiro, Myriam Muniz. Quando falamos em artes cênicas no Brasil, não tem como não lembrar da importância dessas divas que pavimentaram a estrada para nós estarmos aqui”, ressalta Padilha.

Espetáculo: “Um Jardim para Tchekhov”
Até 2 de fevereiro, no Teatro 1 do Centro CCBB Brasília (SCES Trecho 2, Lote 22, Setor de Clubes Especial Sul), de quinta a sábado, às 19h30, e domingo, às 17h. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda na bilheteria física do CCBB e à venda no site. Classificação indicativa: 14 anos.

Acessibilidade: todas as sessões de sábado contarão com tradução em Libras.

Bate-papo: dia 18 de janeiro (sábado), após a sessão.

Palestra: “O processo de criação das personagens”, com o elenco, dia 1ª de fevereiro (quinta-feira), a partir das 17h

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