Um por cento mais rico do mundo atinge ‘cota’ anual de emissão de carbono em apenas 10 dias, aponta ONG

JORGE ABREU
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS0)

Os dez primeiros dias de 2025 foram o suficiente para o 1% mais rico da população mundial atingir o que deveria ser o seu limite anual de emissões de carbono -uma cota calculada por pesquisadores para evitar o aquecimento do planeta para além de 1,5°C, a meta do Acordo de Paris.

Já os 50% mais pobres da população, por outro lado, levariam três anos, ou 1.022 dias, para atingir o mesmo nível.

Com base em dados do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), o “orçamento” anual de carbono para cada habitante da Terra deveria ser de 2,1 toneladas de CO2 (dióxido de carbono).

Na prática, no entanto, há desequilíbrio na conta: enquanto o 1% mais rico emite 76 toneladas anuais por pessoa, a metade mais pobre corresponde a 0,7 tonelada per capita.

A análise foi divulgada nesta sexta-feira (10) pela ONG Oxfam em relatório intitulado “Dia dos Ricos Poluidores”. Para limitar o aquecimento global em 1,5°C, segundo esse estudo, o grupo precisaria reduzir suas emissões em 97% até 2030.

“O futuro do nosso planeta está por um fio. Os super-ricos continuam desperdiçando as chances da humanidade com estilos de vida extravagantes, investimentos poluentes e influência política nociva”, disse Nafkote Dabi, líder de política de mudanças climáticas da Oxfam, em comunicado.

O ano passado foi o mais quente da história da humanidade, sendo o primeiro a ultrapassar a barreira de 1,5°C de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais. Essa cifra é indicada por cientistas como o limite para conter as piores consequências das mudanças climáticas.

Segundo o observatório Copernicus, da União Europeia, 2024 teve temperatura média global 1,6°C superior à média de 1850 a 1900, período antes da emissão em larga escala de gases-estufa.

A campanha da Oxfam aponta que as emissões dos mais ricos desde 1990 causaram prejuízos de trilhões de dólares, perdas agrícolas extensas e milhões de mortes por calor extremo.

Ainda de acordo com a ONG, nos últimos 30 anos, os países de baixa e média-baixa renda sofreram danos econômicos três vezes maiores do que os valores de financiamento climático prometidos pelos países ricos.

Grupo Toneladas de CO2 por pessoa por ano Toneladas de CO2 por pessoa por dia Orçamento anual de carbono, em toneladas de CO2 por pessoa Dias para usar a parcela do orçamento anual de carbono 1% mais rico 76 0,209 2,1 10 50% mais pobre 0,7 0,002 2,1 1.022 Diante desse quadro, a Oxfam prevê que até 2050 as emissões do 1% mais rico podem levar a perdas agrícolas suficientes para alimentar 10 milhões de pessoas anualmente no leste e no sul da Ásia. E 80% das mortes por calor extremo ocorrerão em países de baixa e média-baixa renda.

Como solução, o relatório sugere a criação de impostos sobre renda e riqueza do 1% mais rico, a aplicação de tributações punitivas sobre bens de luxo e a regulamentação de empresas para cortar emissões e aumentar o financiamento climático para os países pobres, que sofrem os piores impactos.

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