Governo perdeu a batalha do pix ao sugerir que brasileiro foi manipulado para temer impostos

O Sistema de Pagamentos Instantâneos do Banco Central (BC) revela que, nos dias que precederam o recuo do governo federal quanto à extensão do monitoramento de transações, as transferências via pix reduziram 10,6% em relação à média de dezembro. O dado indica que a desconfiança criou raízes, e que a população teme que o aumento da taxação não seja mero “discurso da oposição”. 

A defesa do governo federal foi pouco convincente: a comunicação oficial focou em “onda de fake news”, e a imprensa voluntariosa sugeriu que a Meta estava favorecendo o discurso da oposição. O motivo foi o fato de que vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL) sobre o tema chegou a centenas de milhões de visualizações no Instagram. A narrativa é de que Mark Zuckerberg, dono da Meta, em sua nova postura pró-Trump, agora é contra a esquerda brasileira. 

A ideia de que “o algoritmo está roubando para eles” é ao mesmo tempo ignorante e arrogante. É ignorante porque ignora como funciona a distribuição de conteúdo nas redes sociais. É arrogante porque despreza a capacidade das pessoas comuns de entenderem o mundo que as cerca. 

Há motivos legítimos para temer aumento de impostos. As fake news sobre assunto de fato existiram e devem ser combatidas, mas elas sempre existem na discussão de toda política pública, e, desta vez, não foram excepcionais. A revogação da instrução normativa enfraquece o próprio argumento de que era fake news a intenção governamental de aumentar a arrecadação com ampliação do monitoramento. 

Se não foram as fake news que causaram desconfiança, de onde vem o receio brasileiro quanto medidas da Fazenda? Principalmente, da forma como a Lei 14.902/2024 (a taxa das blusinhas) foi anunciada. Por meio de influenciadores digitais, foi prometido que compras no valor de até US$ 50 não seriam taxadas, mas foram (20% mais 17% de ICMS). Nikolas Ferreira apontou esse fato em seu vídeo e foi acusado de disseminador de fake news por membros do governo, o que provocou simpatia por seu argumento e aumentou a difusão de seu vídeo. 

O governo federal poderia ter dissipado a confusão com uma comunicação honesta, que não negasse o óbvio (e que assim não sugerisse ao brasileiro que ele é maluco por temer mais impostos). Bastava ter afirmado: “queremos garantir que o IR será pago conforme a lei exige. O não monitoramento do pix é aberrante e deve ser corrigido — não existe razão para monitorar TEDs e DOCs mas não o pix”. Todas essas afirmações são elementares e racionais. O governo não enxergou que, quando se está com a razão, não há motivo para logro. 

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